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Aramis

Lobão e os presidenciáveis

Mais identificado com o hard rock por suas constantes prisões devido a dependência de drogas, mas com um público fiel, o compositor-cantor Lobão acabou sendo um dos raros autores que aproveitou o clima eleitoral para sair com uma música falando, mesmo que indiretamente, do tema que, em outras ocasiões - quando os compositores de marchas e sambas pareciam mais antenados com os grandes assuntos do momento - teria rendido sucessos populares, especialmente para o próximo Carnaval. xxx Assim, em seu último LP, apropriadamente intitulado de "Lobão e os Presidentes - Sob o Sol de Parador" (BMG/Ariola), ao menos duas faixas referem-se, criticamente, ao clima político. Nada de profundo, absolutamente - longe dos tempos em que havia humor, sátira ou mesmo crítica social - mas ao menos fica como um registro dos reflexos do momento político entre os intérpretes de rock. Em "Quem quer votar", parceria com Tavinho Paes e Arnaldo Brandão, a letra não deixa de ser agressiva - e refletir um pessimismo jovem em relação às eleições de amanhã. A polícia faliu/Não dá para acreditar Até o que é civil/Parece militar Voto de cabresto/Voto de operário Voto de indeciso Voto milionário/Voto de fantasma Voto que atrapalha Voto de palpite/Voto de canalha Quem vai ao comício/Quem vai ao trabalho Quem ganha jetton Quem ganha salário/Quem tem sindicato/Quem vai legislar Quem é bóia-fria/Quem é marajá Quem é o presidente/Quem é o delegado Diga qual dos dois é mais abandonado Quem que vai dar certo/Quem vai dar errado Que país é esse rico e esfomeado. xxx Já na canção "Panamericana" - com os mesmos parceiros Paes e Arnaldo Brandão e cujo subtítulo é o nome do elepê ("Sob o Sol de Parador", qualquer coincidência com o filme que Paul Mazurski rodou em 1987 em Ouro Preto, "Sob o Luar de Parador" não é mera coincidência), a crítica política amplia-se em termos continentais, com citações de países e movimentos da América do Sul e Central. Quem são os ditadores do Partido Colorado Que é democracia ao Sul do Equador Quem são os militares ao Sul da Cordilheira Quem são os salvadores do povo de El Salvador, em Parador Quem são os assassinos dos índios brasileiros Quem são os estrangeiros que financiam terror/Em Parador (Hay que endurecer sin perder la ternura - (refrão) Quem são os índios incas que plantam cocaína Quem são os traficantes com armas e gasolina Quem são los Montoneros, quem são los Tupamaros Las madres e abuelitas na Praça de maio/em Parador Quem são os contra-revolucionários de Sandino Que é a presidência do Canal do Panamá/em Parador Quem são os guerrilheiros de Farabundo Marti Quem são os fuzileiros do MI-19 Quem são os luminosos que acendem o Sendero Quem são os paramilitares do autiplano/em Parador Quem são os vuduzados que querem tonton macutes Quem são os encarnados que inspiram as falanges/em Parador.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
14/11/1989

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