Marina, as verdades de uma inteligente mulher
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 27 de abril de 1985
" Não foi um bate- papo. Foi uma verdadeira sessão de análise e aconselhamento da vida. " A exclamação de um jovem estudante de 19 anos, após a abertura do "Encontro Marcado " ( quinta-feira, anfiteatroa da Universidade Católica ) sintetizou bem a participação da jornalista e escritora Marina Colasanti nesta promoção organizada por Arakem. Távora e patrocinada pela IBM do Brasil. Afinal, durante quase duas horas, a autora de " A Morada do Ser " falou sua vida, de seu trabalho profissional e sobretudo, de suas idéias em relação á mulher e á sociedade.
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Como sempre acontece no Encontro Marcado, de principio é exibido em teipe de 16 minutos, no Arakem Távora, em sua objetividade de jornalista, introduz o convidado aos presentes. Falando sobre sua vida, obra e idéias, Marina já antecipou muito do pensamento no documentário, redendo assim ainda mais o bate-papo que se seguiu. E a ela se perguntou sobre a forma com que desenvolve seus textos, sua visão de homossexualismo, casamento, educação dos filhos, rebeldia jovem e, especialmente, do machismo / feminino. Não deixou de escapar uma queixa :
- " infelizmente, também sou vítima do preconceito em relação aos temas que a mulher pode escrever e opinar. Sou sempre convidada a falar sobre a mulher, nunca lembram-se de me pedir opinião em torno de outros assuntos ".
Feminista assumida - sem deixar nunca de ser feminina - Marina Colasanti é uma das lideres nascionais pela valorização dos direitos da mulher. Mostra-se decepecionda pela ausência do sexo feminino no primeiro escalão do governo federal e lamenta que o Ministério da mulher seja ainda um projeto distante. Acredita, entretanto, que a conscientização feminina está numa escalada a qual ninguém freará.Aliás, mostrando bom humor uma das constantes de sua palestra - Marina disse que " na vida sou pelas coisas desenfreadas, pois os freios, especialmente no amor, é que prejudicam as relações ".
Mães de suas filhas - 19 e 12 anos, respectivamente - falou também sobre relações familiares, com uma visão clara e sincera. Mostrando coisas simples que as pessoas, muitas vezes, vêem como bíchos-de-sete-cabeças.
Tanta lucidez numa mulher que já foi manequim da Matarazzo ( quando, aos 18 anos, esteve pela primeira vez em Curitiba ), faz Marina, muitas vezes, ser tomada como simbolo de um novo comportamento - área, aliás, da qual é editora há 8 anos da revista " Nova ", foram também 11 anos de análise que a ajudaram a clarear as idéias e encontrar as veredas certas para entendimento. O que faz transmitir proposta tão precisas em seus textos - seja um breve crônica, ou, seja no seu mais recente livro, " Por falar em Amor ", que depois de ter uma primeira edição ( pela Salamandra ) de 10 mil exemplares esgotada em poucas semanas, está sendo agora reeditado pela Rocco, sua nova editora. Sobre este novo livro, explica:
- " Senti a carência de um livro que abordasse o amor - não apenas para o público feminino, mas também para o masculino. Assim, com base numa pesquisa de muitos anos, durante um mês afastei-me de outras atividades e escrevi o texto. Quando entreguei os originais ao editor, fiquei doente ".
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Ontem, pela manhã, Fernando Gabera falou também sobre sua maneira de ver a vida dentro de um novo comportamento. O amor de " Que é Isto, Companeiro ? " dialogou com um público jovem e interessadíssimo, que á noite retornou ao mesmo anfiteatro para conhecer então o pensamento de Affonso Ramano Sant'Anna, ensaísta e professor, que tem inovado na participação da poesia com a politica e que ainda na semana passada teve o seu belo peoma sobre a morte e Tancredo Neves " visto/ouvido " por todo o Brasil. Aliás, um detalhe: o poema havia sido escrito para a posse de Tancredo. Infelizmente, teve que ser reformulado para ser um requiem lirico.
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