Claras, a mulher, a música e a vida
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 28 de junho de 1980
Avelar Amorin, empresário que atua principalmente na área de conjuntos e shows para clubes, volta a tentar a produção de espetáculos no grande auditório do Guaíra. E para evitar novos prejuízos, desta vez contratou uma cantora de grande popularidade, Clara Nunes, que acompanhada do grupo Nosso Samba, faz uma única apresentação, dia 4. Com 12 elepês - os últimos cinco dos quais estão entre os de melhor vendagem na Odeon, Clara Nunes define que o critério que orienta a seleção de seus repertórios é o sentimento. E explica: << a música pra mim não é só melodia e uma letra agradável, mas sobretudo uma mensagem. E eu tenho que senti-la inteiramente para poder transmitir suas vibrações. É algo visceral e que se não ocorre, eu não canto e não gravo. É por isso que eu não tenho essa preocupação de só cantar e inédito. Um dos meus maiores sucessos, por exemplo - << Juízo Final >>, de Nelson Cavaquinho - já tinha sido gravado e ninguém tinha tomado conhecimento. O importante é sentir e poder transmitir um recado >>. Tentando se situar filosoficamente, em relação ao ser humano, diz Clara: << Eu sei que é utópico, mas já imaginaram um mundo sem egoísmo, ganância e vaidade? Porque é isso que provoca todos os conflitos. Eu acho que a gente deveria procurar ajudar mais as pessoas, facilitar ao máximo a vida do semelhante, complicar menos. A vida é uma coisa maravilhosa e nós não a compreendemos. Se você conseguir olhar para o seu semelhante com respeito e amor, já está ajudando, mas infelizmente as pessoas não têm tempo para parar e dar um pouco de atenção. Se os homens se respeitassem mais, a maioria dos problemas deixaria de existir >>.
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