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Aramis

Monumentos da MPB

Uma das metas do maestro Marlus Nobre, ao assumir a direção do Instituto Nacional de Música, foi a de desenvolver um projeto para reeditar o que existe de fundamental na música brasileira - tanto popular como erudita. "É tão pouco e foi tão mal lançada, na época, que, reeditando, as gravadoras estarão oferecendo ao público uma novidade" a firma Marlus que, no setor popular, assessorado por expertos como Fernando Lobo, Ary Vasconcelos e Maurício Quadrio, já viu este plano bem encaminhado. E, em dezembro último, as oito primeiras reedições foram lançadas, durante uma solenidade muito musical, no Palácio da Cultura, Rio de Janeiro. O melhor ainda está por aparecer, inclusive as 16 faixas gravadas em 1940, por um grupo de músicos populares - Pixinguinha, Donga, Zé da Zilda, João da Baiana, Jarara e Cartola, levados pelo maestro Villa Lobos ao navio Uruguai, ancorado no Rio de Janeiro e onde viajava o maestro Leopoldo Stokowski, interessado em conhecer a autêntica música brasileira. Esse material foi lançado nos E.U.A, em dois álbuns de 78 rpm (4 discos cada), mas a CBS, a fábrica que o editou, nunca se preocupou em comercializa-lo no Brasil. E com isso é uma das maiores raridades da MPB, verdadeiro tesouro. E, Ary Vasconcelos vem quebrando lanças com a CBS nacional, agora com uma direção mais dinâmica, para que esses registros apareçam num elepê. Enquanto este volume - como outras reedições de diferentes gravadoras - não surge, Quadrio, que até novembro último era o diretor de projetos especiais na Phonogram (agora está na Odeom, dinamizando seu setor internacional), convenceu a direção daquela multinacional a reeditar a belíssima coleção "No Tempo dos Bons Tempos", que o próprio Quadrio havia produzido em 1972, aproveitando o excelente acervo da Sinter (uma das etiquetas abarcadas pela Phonogram), submetendo-se os velhos registros a um processo de limpeza sonora e, com capas criadas pelo desenhista (e compositor) Nassara. Na época, destacamos a coleção como um dos principais eventos de 72 e, como a mesma acabou saindo de catálogo, a sua reedição, como "Monumento da Música Popular Brasileira", selo Fontana Special, com o patrocínio da Associação Brasileira dos Produtores de Discos / MEC/ Funarte/ INM, tem sentido cultural dos mais válidos. Ouvindo-se os oito elepês, montados de mais de 20 elepês de 10 pelegadas (oito faixas cada), gravados entre 1955/ 56, na Sinter, é de se pesquisar quem dirigia aquela etiqueta na época, pois raras vezes uma gravadora lançou em tão curto período de tempo, tantos discos de valor. Impossibilitados, por limitação de espaço, de estendermos o registro desta coleção, vamos à síntese possível. PIXINGUINHA - o volume reúne faixas dos lps "Marchinhas Carnavalescas de João de Barro e Alberto Ribeiro", lançado por ocasião do carnaval de 1957, na face A, e no lado B, composições de Nássara, outro rei do carnaval, gravadas também por Pixinguinha e sua banda em 1957. O mestre Pixinguinha (Alfredo da Rocha Viana, 1898-1973) comparece também com registros de três outros long-playings lançados em meados da década de 50, em "Velha Guarda", onde estão suas composições e de outros pioneiros - como Donga, Gualdino Barreto e Sebastião Cyrino. Os lps originais aproveitados foram "O Carnaval da "Velha Guarda", "Assim é Que Ë" e "Pixinguinha". ALMIRANTE - Henrique Foéris Domingues, o Almirante, nome da maior importância dentro da MPB (cantor, historiador, pesquisador , radialista), gravou muitas músicas históricas , 15 das quais estão reunidas neste álbum Fontana, onde, por exemplo, reencontramos a interessantíssima "Vou Me Casar no Uruguai" (Walfrido Silva - Gadé) , "Tudo Em "P" (Jorge Nóbrega - Ângelo Delatre) e "Apanhei Um Resfriado" (Leonel Azevedo - Sá Roris). MANEZINHO ARAUJO / LUPERCE MIRANDA - Um único LP reúne dois astros pernambucanos da MPB. No lado A , Manezinho, Araujo, o rei da Embolada, um gênero que teve nele seu grande criador. No lado 2, o extraordinário instrumentista e compositor Luperce Miranda, um dos maiores executantes de bandolim do Brasil, ainda hoje, embora aposentado , eventualmente requisitado para apresentações em televisão. LAMARTINE BABO - Só em fins de 1955, foi que Lamartine Babo (1904 - 1963) gravou seu primeiro lp, o "Carnaval de Lamartine Babo", ele que foi o autor das marchinhas eternas até hoje as mais tocadas nos carnavais. Em 1956, Lamartine fez outro elepe, "Noites de Junho", com suas chamadas "canções juninas" (Chegou a Hora da Fogueira ,33;Isto é Lá Com Santo Antônio,1934; Noites de Junho,48; Quero, Quero,53;Pistolões,56; São João à Moda,53 e "Babo...seiras "32) ,reunidas no lado B deste disco historicamente da maior importância. CAROLINA CARDOSO DE MENEZES, filha de uma família de pianistas, começou a trabalhar muito cedo: em 1928 estreava na rádio Sociedade e no ano seguinte já gravava "NA Pavua" com o Bando de Tanguarás. E a partir de então, durante 30 anos, foi um dos nomes mais importantes da MPB, como pianista. De dois lps feitos na Sinter - um com músicas de Ernesto Nazareth e outro, com composições próprias ("Pombo Correio", "Expressinho"). SERESTAS E SERESTEIROS - Cinco foram os seresteiros reunidos no lp "Serestas e Seresteiros", formado com fonogramas Sinter, da década de 50. Deles, apenas Silvio Caldas (1908) e Paulo Tapajós (1913) continuam, embora cada vez mais raramente, prestando suas homenagens canoras à Lua. Os outros três já deixaram este mundo sublunar, como escreveu Ary Vasconcelos, autor de todas as didáticas contracapas desta coleção. Patrício Teixeira ( 1893-1972), Gastão Fermenti (1894-1974) e o flautista e compositor Dante Santoro (1904-1969) junto com Silvio e Paulo, mostram antológicas páginas da seresta brasileira: "Chão de Estrelas", "Última Estrofe", "Posso Sofrer", "Rasga O Coração", "Azulão", "Ranchinho Abandonado", "Arranha-Céu", "Noite Cheia de Estrelas", "Vidas Mal Traçadas", "E Nada Mais", "Maringá" e "Talento e Formosura". Paulo Tapajós, que começou cantando com seus irmãos, Haroldo e Oswaldo, na rádio Sociedade, em 1928 (em 1931, Osvaldo saiu e, em dupla com Haroldo, Paulo continuou até 1943; daí por diante fez carreira sozinho), é hoje o último grande modinheiro brasileiro. Pessoa humana admirável, diretor da rádio Nacional por muitos anos, produtor fonográfico ( a Phonogram está lançando o álbum duplo sobre a Rádio Nacional, que ele produziu), redator dos programas do Projeto Minerva, Paulo é desde novembro do ano passado o presidente da Associação de Pesquisadores da MPB. Na Sinter, gravou em 1956 dois históricos elepês. "Luar do Sertão", e "Melodias Imortais de Joubert de Carvalho", 16 faixas agora reeditadas: quatro no lp "Serestas e Seresteiros" e as demais no elepê em sua homenagem, com muita justiça incluida na coleção "Monumentos da MPB". Uma oportunidade única de se ouvir, nas mais perfeitas interpretações, músicas como "Luar do Sertão", "Ontem ao Luar", "Por Um Beijo", "Ao Luar", "Flor Amorosa" e "Caboca de Caxangá" de Catulo da Paixão Ceatense (1863-1946), no lado A, "Maringá", "Olha-Me Bem Nos Olhos", "Hula", "De Papo Pro A", "Dor" e "Cantigas de Minha Terra" de Joubert de Carvalho, no lado B.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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06/03/1977

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