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Aramis

ONDE ESTÃO AS MÚSICAS DO CARNAVAL (DE 1973)?

MESMO não querendo, uma pergunta é inevitável: e as músicas do Carnaval deste ano? Desafio alguém a cantar, ao menos uma estrofe, de três composições feitas especialmente para este Carnaval? O que se ouve são os maiores sucessos do passado e dois ou três sambas que apareceram no meio-do-ano e, graças a uma maior divulgação, obtiveram relacionamento com o público mais jovem, sendo lembradas agora. É o caso de "Partido Alto" que Chico Buarque de Hollanda criou para a trilha sonora do filme"..., "Quando o Carnaval Chegar" e da qual o MPB-4 vendeu quase 100 mil cópias; "Eu Quero é Botar Meu Bloco na Rua", com a qual Sérgio Sampaio disputou a parte nacional do Festival Internacional da Canção ou "Ninguém Tasca" (O Gavião). O álbum do Serviço de Defesa do Direito Autoral reunindo a UBC, SBACEM, SADEMBRA, apresenta nada menos que 347 músicas lançadas oficialmente como "Carnaval 73", das quais 169 marchas, 170 sambas e 8 minguados frevos. Como no total o álbum relaciona 556 temas, sobram 209 "êxitos permanentes de carnavais passados". Praticamente nenhuma emissora de rádio preocupou-se em programar musicas de carnaval no período pré-carnavalesco. Milton Teixeira, 31 anos, vice-presidente da Associação das Escolas de Samba e Blocos Carnavalescos de Curitiba, e programador de uma das emissoras de Curitiba, define a situação: - "Das trezentas e poucas músicas que apareceram este ano, selecionei as 20 melhores, dentro de um critério pessoal. Mas mesmo para divulgar estas duas dezenas, tenho dificuldades, pois para manter a audiência sou obrigado a programar sucessos... Internacionais". Dilema mais ou menos parecido tem os outros programadores de nossas emissoras: a necessidade de disputar uma já reduzida faixa de audiência, incluindo "hits" na base do "Cash Box" e "Billboard", esquecendo portanto, as músicas daquela que já foi a festa máxima do povo brasileiro. Na Guanabara, a ascensão dos sambas-enredos das Escolas e uma permanente presença dos "catituadores" - profissionais especializados na promoção das músicas de Carnaval - ainda faz com que as programações sejam mais amplas neste campo, mas em Curitiba, o desinteresse é total. E assim ninguém estranhe se examinar o mapa de programação de algumas rádios e não encontrar uma única música carnavalesca executada nos últimos dias. A baixa qualidade das musicas é a primeira justificativa lembrada para explicar a falta de divulgação. Das 347 músicas, nem meia dúzia tem o nível que lembre qualquer sucesso dos anos 30 e 40, a época de ouro de nosso Carnaval. Mesmo um veterano e respeitado João de Barro, com seu "Maestro, Feliz Carnaval" (gravado por Jorge Goulart) consegue uma dimensão maior. A inflação de nomes conhecidos de outros setores da vida artística, disputando a faixa de intérpretes, também prejudica. Assim apresentadores de televisão (Chacrinha e Silvio Santos), atores de cinema (Jece Valadão), modelos (Elke Maravilha), vedetes do teatro rebolado (Sônia Mamede, Vilza Carla) e até cantores sertanejos (Jaracaca) gravaram músicas medíocres, procurando um ilusório sucesso, julgando que o público venha a aceitar suas musicas em decorrência de seus nomes profissionais (?). Este ano, a critica social, a sátira política - tão características de tantos carnavais - estão ausentes das letras, talvez por autocensura dos compositores ou, mesmo (e mais provável) falta de imaginação. Alguns títulos das composições já demonstraram a pobreza de inspiração de nossos "criadores" carnavalescos: "Bota o Dinheiro no Banco", "Há 3 dias que não janto", "Marcha da Zebra", "Marcha do Cachorro" (gravada pelo apresentador de televisão Silvio Santos), entre outros. Nos quadros anexos, três depoimentos de quem entende de música - um teórico (Ricardo Cravo Albim, ex-diretor do Museu da Imagem e do Som); cantora (Carmen Costa, criadora de muitos sucessos, entre os quais - Está Chegando a Hora", 1942, de Henricão e Rubens Campos e "Jarro da Saudade", 1956, de Mirabeau) e Ismael Silva (fundador da Escola de Samba Deixa Falar; mais de 200 sucessos gravados a partir de 1925) - sobre as razões do declínio na música de Carnaval. LEGENDA FOTO 1 - Ismael e Carmen, o Samba em momento de Glória.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
6
04/03/1973

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