E as músicas de Carnaval? (III)
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 04 de fevereiro de 1978
O cancioneiro carnavalesco é amplo, se visto de uma maneira global. Em 100 anos de folia foram muitas as músicas que ficaram - e se hoje há uma decadência na qualidade e quantidade de novas músicas, isso não significa que não continue a existir muita gente de inspiração e talento, capaz de fazer boas marchas, sambas, frevos e , principalmente, marcha-ranchos. Apenas que, fora do esquemas empresariais que comandam a indústria em que se transformou a música brasileira, ficam com seus trabalhos esquecidos, nos fundos de gavetas, só mostrados a poucos amigos. O curitibano Daniel Mazza, 42 anos, técnico em vendas durante o dia, mas um compositor dos mais inspirados é um exemplo disso. Autor de mais de 200 músicas de diferentes gêneros - 15 das quais conseguiram chegar ao disco em vozes do extinto grupo vocal Calouros do Ritmo, Altemar Dutra, Giane, Moacyr Franco, entre outros - Mazza há muito que desistiu de tentar entrar no esquema de marketing das gravadoras. Já teve mais de 20 promessas de edição de suas belas composições, mas de prático nada aconteceu.
Ex-gerente do Banco do Estado do Paraná em Rio Negro e do banco Inco em Cascavel, hoje coordenador de vendas da Coimpa, num projeto sofisticado no litoral paranaense - o balneário Atami, Mazza não se preocupa em fazer música com fins comerciais, Papo e violão amigo das horas vazias da madrugada, gosta é de mostrar suas canções - aos quais acompanha com um violão seguro, detalhe que não é comum em nossos compositores - geralmente violinistas limitadíssimos.
Daniel Mazza, ao contrário, sola de Atahualpa Yupanqui a Bach no violão, com segurança - impressionando assim também como instrumentista.
Entre sambas-canções, sambãos, boleros, músicas-de-protesto, e outros gêneros, Daniel Mazza tem também músicas carnavalescas, que poderiam "acontecer" se fossem gravadas. permanecem, entretanto, inéditas, conhecidas apenas de seus amigos - e dos privilegiados que têm chances de ouvi-las, quando se dispõe a sair na vazia noite, maliciosas como a "Marchinha da bandinha", irreverente como a "Marchinha dos Velhinhos" (ou Marcha do Menos 30) ou poéticas/melancólicas, como esta bela marcha-rancho, cuja letra, julgamos, das mais oportunas, de ser publicada neste sábado de Carnaval.
Depois que passar o Carnaval
Eu sei que a tristeza vai chegar
Depois que acabar a serpentina
E todo confete voar
Todos voltarão para casa
Com vontade de chorar
Carnaval é festa de mentira
Festa de desabafar
Um sorriso nos lábios
Um falso cantar
Mas dentro do peito
É só vontade de chorar
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