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Aramis

E as músicas de Carnaval? (I)

O Carnaval começa amanhã, com bailes e desfile da Banda Polaca, e ganha um doce quem souber inteiro uma música que possa ser considerada como feita especialmente para este Carnaval. Aliás, a música de Carnaval - dentro daquilo que se conhecia como um gênero propriamente dito - há muito desapareceu, por dezenas de motivos que justificam todo um longo livro - a espera de um pesquisador disposto a escrevê-lo. Os dirigentes de orquestras e conjuntos que procuraram o escritório de arrecadação de direito autoral, em busca dos álbuns com a partituras das músicas carnavalescas, receberam, a exemplo do ano passado, um magro volume, contendo basicamente os "sucessos do passado". Se até a década de 60, os álbuns de músicas carnavalescas traziam mais de 300 composições, entre sambas, marchas, marcha-ranchos e até frevos, hoje não passam de duas dezenas. No mais, são as músicas dos carnavais do passado que se ouvirão nos salões a partir de amanhã - ou, no máximo, uma ou outra composição de meio-de-ano, que, pelos seus aspectos de popularidade, venha a ser cantada no Carnaval. XXX Um dos raros álbuns com algumas músicas de Carnaval registradas para 1977 foi o do grupo editorial RCA. Ali, de um total de 36 marchas e sambas, há uma dúzia de novas marchas - todas de uma total pobreza harmônica-literária, mas, vez por outra abordando aspectos da atualidade - característica maior da música carnavalesca. Por exemplo, a crise do petróleo, [passados] 5 anos, ainda levou a Carlos Guerra e Mauro de Almeida a fazerem "A Marcha do Lhê" (gravação de Zelão), com um refrão na segunda parte que diz: "Um pouquinho de Petróleo/Não judia de ninguém/Lhe te monopólio/De Petróleo e de Harem/Ô Lhe"". (sic). O aspecto maroto, sapeca, com palavras e frases de duplo sentido, está contribuindo para fazer de "Ai, Que Vontade" (Beto Sem Braço/Dão), gravação de Oswaldo Nunes, talvez uma música de alguma popularidade. Basicamente, um refrão malicioso; "Ai, que vontade/De meter a cara no mundo/Ai, que vontade.../Meter a cara no mundo/E nunca mais aparecer". Os Originais do Samba aparecem com "Agora Vai" (Manoel Ferreira/Ruth Amaral/Gentil Júnior), cuja letra fica em apenas seis frases, as duas primeiras no refrão: "Agora vai, agora vai/Mas não cochila que o cachimbo cai/Conversa com a menina/Vai firme na jogada/É do peru/É fogo no boné do guarda". XXX O bom sambista Noite ilustrada, que como compositor usa o nome verdadeiro (Marques Filho), também entrou no Carnaval com uma marchinha: "Água no Pote", cujo refrão é isso: "Zum Zum Zum/Baba-Ê/Tá baixando um/Perto de você/Pra fazer zum-zum/Zum zum baba-ê. "Bloco do Reu Sozinho", é título de uma música de Sérgio Sampaio que aconteceu nas paradas há alguns anos, é também o título que Bibi/Luiz Carlos deram a uma marcha gravada pelos Originais do Samba, na tentativa de acontecer neste Carnaval. Milton Cesar caricatura a própria festa na sua marcha "Carnaval é Isso': "Me visto num saco/E vou por aí/Vou sem compromisso/Me sujo de talco/E tudo legal/Carnaval é isso/Brincando sozinho/Ou na multidão/Ai pelas ruas/Tô sempre doidão/Eu só volto pra casa/Quando virar cinzas/A minha brasa".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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02/02/1978

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