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Aramis

Os bons sambistas

Em pouco mais de cinco anos de carreira regular, o grupo Os Originais do Samba se firmou como um dos mais expressivos conjuntos vocais percussionistas, na divulgação do chamado "Sambão", melhor tradição verde-amarela. Hoje com um esquema de apresentações em clubes e Shows especiais que lhes garante um alto faturamento, este sexteto vem também fazendo gravações cada vez melhores na RCA - Victor, por onde tem [saído] todos os seus discos. Lançado quase que simultaneamente ao lp que fizeram com Martinho da Vila, com antigos sucessos, temos "Pra Que Tristeza" (Victor, Lo 3.0100, junho/74), esmerada produção do cantor Wilson Miranda, com arranjos de três diferentes maestros - Wilson Mauro, Messias St. Jr. (?) e Elcio Tavarez, para as 12 movimentadas faixas do álbum. O que agrada mais disco é a espontaneidade do grupo - que se mantém fiel as suas origens, comunicando a música do povo de uma forma desglamorizada, sem requintes que tem feito soçobrar tantos outros conjuntos. Não há, evidentemente, nenhuma obra-prima neste lp, mas são todos sambas [agradáveis], apropriados a linha seguida pelos Originais. A partir do clássico "Samba do Arnesto" de Adoniram Barbosa/Alcim, um dos maiores sucessos dos [Demônios] da Garoa nos anos 50, os Originais aqui apresentam sambas de Adeilton Alves/Nilton Pereira ("Saudades e "), Delcio Carvalho ("Pra que Tristeza"), Martinho da Vila ("Mulata Faceira") e até da nova dupla Beto Scala-São Beto ("Quem me Dera"), entre os autores mais conhecidos. Mas é de Zeré-Ibraim, a faixa mais interessante pelo tema proposto: "Tragédia no Fundo do Mar", ou seja a história do "Assassinato do Camarão". Outras faixas: "Cabeça que Não Tem Juízo" (Aluísio), "Boato" (Carlos Geraldo/B.J. Aroldo/Netinho), "Canto de Amor"(Délcio Carvalho/Barbosa da Silva), "Buchinho" (Luiz Carlos/Bidi), "Complicação" (Bidi-Mussum-Luiz Carlos) e "Não Sei de Nada" (Wando). Sem a unidade do lp dos Originais do Samba, mas igualmente recomendável aos apreciadores de nossa MPB, temos com a Banda da Alegria - obviamente não identificada, e uma caprichada produção do competente Rildo Hora, com arranjos e [regências] de Nelsinho, de um nível bem superior aos lps do mesmo estilo apresentados pela estridente Banda do Canecão ou a Banda Veneno de Erlon Chaves. Neste lp (Victor, 107.0182 julho/74) ao lado de alguns clássicos temos uma seleção de sambas que apareceram com destaque nestes últimos meses - seja por terem sido [incluídas] em trilhas sonoras de telenovelas, seja pela qualidade ou pela catituagem de seus compositores-intérpretes. Assim, há por exemplo, os simpáticos "Dona de Casa" e "Supermanoela" dos baianos Antonio Carlos-Jocafi; "Se Não For Amor" e "Que Beleza" de Benito Di Paula"; os ufanistas "Pra Frente Brasil" de Miguel Gustavo e "Cidade Maravilhosa" de André Filho - o que não deixa de ser uma homenagem a estes dois compositores já falecidos; "Está Chegando a Hora"(Rubens Campos-Henricão); o inspirado "Porta Aberta" (Luiz Ayrão), o percursor "Pelo Telefone" (Donga-Mauro de Almeida); os antigos sucessos de Carmem Miranda - "Alô Alô" de Andre Filho e "Ta- Hi" (Prá Você Gostar de Mim) de Joubert de Carvalho, entre outros exemplos da melhor MPB. Dois lançamentos simpáticos, bem realizados e que comprovam as (boas) intenções da RCA Victor em prestigiar a nossa (melhor) MPB. Em Boa hora!
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Jornal do Espetáculo
10
05/09/1974

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