Martinho realizado e Benito em progresso
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 20 de novembro de 1983
MARTINHO DA VILA (Martinho José Ferreira) atinge aos 45 anos completados no início do ano (12/2) uma condição de respeito dentro da MPB. Longe do samba de fácil rima e muito embalo e que provocou uma legião de imitadores Martinho é hoje um interprete, compositor e produtor dos mais conscientes. Uma salutar e assumida busca de identidades africanas especialmente a partir de suas viagens a Angola (da qual resultou, inclusive, um belo elepe, com compositores e intérpretes daquela jovem nação) somado a um trabalho honesto e esmerado o faz merecedor de toda admiração. Em "Novas Palavras" (RCA, novembro/83) sente-se claramente esta presença vigorosa de Martinho da Vila, buscando na parceria com Cabana e ironia para o atualíssimo "Balaio de Gato e Rato", homenageando Aniceto do Império, ao gravar duas das composições do velho partideiro "Partideiro Famoso" e a divertida "Sua Filha" momentos de especial significado. O excelente trio vocal, de origens afro, Os Tincoãs, participam de "Vieram Me Contar" e o baiano Tim Motorista, está em uma roda de samba de roda, que inclui parcerias de martinho e Tião: "Xodó de Mãe". "Paquete A Sobara", "Micareta" e "Pega na Galha". Rildo Hora, parceiro antigo, não poderia ser esquecido: "Negros Odores" é um canto bem continental-afro, enquanto "Festa do Candomblé", tema folclórico, foi adaptado por Martinho. Com emoção, o final é mais um samba (desta vez de aluízio Machado/Ovídio Bessa) a Clara Nunes ("Vai fazer falta na avenida/Quem viveu cantando a vida/Não morreu, desencantou").
Se Martinho da Vila foi incompreendido durante anos, o que dizer de Benito Di Paula, estrela maior do samba-jóia, comercialíssimo, estilo "Meu amigo Charles Brown"? Mas, nunca se deve desprezar os bons podutores. Deixamos a Copacabana, Benito encontrou na WEA profissionais competentes, que orientaram sua carreira em uma direção mais seria. Primeiro foi Sergio Cabral, hoje vereador no Rio de Janeiro mas há 3 anos um dos mais seguros produtores de discos daquela multinacional. Não será de um disco para outro que Benito deixará de ser o sambista-jóia para se transformar num novo Paulinho da Viola, mas que melhorou, melhorou. A prova está em "Bom Mesmo é o Brasil" (WEA, novembro/83), que apesar do título ufanista (lembrando a pior fase de Dom & Ravel) traz um respeitoso Benito interpretando músicas antológicas como "Já Te Digo" (Pixinguinha/João de Barros), "Velho Realejo"(Custódio Mesquita/Sady Cabral esta valorizadíssima) pelo belo arranjo de base de Maurício Carrilho e arranjo de orquestra de radamés Gnatalli, também responsáveis pelo emolduramento sonoro de "O Xerife e o Bandido", do próprio Benito mas que, infelizmente, não atinge em sua letra o nível do arranjo. Lincoln Olivetti, com seus teclados comerciais, compromete outras faixas - "No Ar" (J. e Ney Velloso), "Branca", de Dalto/Claudio Rabello) mas há homenagens respeitosas como "Vovó Clementina" (Mateus e Dadinho) e uma bela música de Djavan: "Mera Fantasia". Enfim, controlando seus excessos de compositor, buscando gente competente, Benito realizou um disco apreciável longe ainda do que se espera, mas ao menos não comprometedor. O moço ainda vai dar certo...,.
LEGENDA FOTO 1 - Martinho da Vila.
LEGENDA FOTO 2 - Benito de Paula.
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