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Aramis

Deep Throat e Miss Jones no Morgenau, quem diria?

Durante pelo menos 10 anos, milhares de brasileiros que passaram por Nova Iorque não deixaram de entrar num pequeno, sujo e assustador cinema na Broadway, próximo ao Time Square, para assistir o excitante programa duplo: "Deep Throat" e "The Devil Is Miss Jones". Pioneiros média-metragens hard-core (pornográficos), realizados pelo ítalo-americano Jerry Damiano, estes dois filmes com cenas de sexo explicito renderam milhões de dólares - e nos anos mais duros da repressão dos governos Médici e Geisel, ninguém imaginou que chegariam às telas de 16 mm e, especialmente super 8, projetadas em sessões privadas (na época, o vídeo-tape VHS era ainda um sonho distante), no prazer voverista de contemplar imagens proibidas. Xxx Os ventos liberalizantes da censura no governo Figueiredo permitiram o lançamento dos filmes de sexo explícito e tanto "garganta Profunda" como o "O Diabo no Corpo de Miss Jones" chegaram às telas brasileiras. Lançados separadamente, já que representavam galinhas de ovos de ouro, acabaram sendo interditadas há 90 dias, mas agora estão novamente liberados. Só que o p úblico do gênero começa a se cansar, e tanto é que a exemplo do que há 10 anos acontecia em Nova Iorque (e outras metropoles), agora estas duas média-metragens formam um único programa, em exibição há uma semana no simpático Cine Morgenau, dos irmãos Santos no terminal rodoviário da Praça Rui Barbosa. As rendas estão sendo boas para alegria de Jorge e Adriano Santos, os idealistas proprietários do Morgenau, que, numa espécie de robin Hood cultural, recuperam com os filmes pornográficos o que perderam, há 40 dias, ao serem obrigados pela Fundação Cultural a cederem sua sala para projeção de um cíclo de filmes nacionais que teve mínimo público e deixou um prejuízo de mais de Cr$ 2 milhões. Xxx A programação de filmes hard-core neste final de ano foi uma espécie de empréstimo-jumbo para as minguadas economias da Fama Filmes. Para fazer frente às despesas de 13o salário para dezenas de empregados, o nervoso Arnaldo Zonari Filho e seus executivos Sérgio cabral (por favor, não confundir com o simpático jornalista e vereador carioca) e João Aracheski, não sabiam mais a programação que optariam. Afinal, as dificuldades economicas do Brasil obrigavam as distribuidoras a reduzir em 60% o número de filmes importados, a produção tem caído e por isto há tantas reprises que atraem pouco público. Mas com o sinal verde para os filmes pornográficos, a situação melhorou em termos econômicos e assim nas telas estão produtos tupiniquins como "De todas as Maneiras" e "Doce Delírio" e as fitas que até há pouco só eram vistas nas redes de video-tape dos motéis de Geraldo Braga ("Garden", "007"): "Deep Throat", "The Devis Is Miss Jones", "Atrás da porta Verde", "Para Ricos... Para Pobres" e a francesa "Moças Sem Véus", todas em cartaz na cidade.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
16
20/11/1983

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