Partido da Mobilização Nacional está chegando.
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 20 de novembro de 1983
Quando se fala tanto em partidos, eleições diretas e indiretas e novas perspectivas políticas, surge o núcleo de uma nova agremiação: o PMN. O líder do Partido da Mobilização Nacional é Celso Brant, 51 anos, ex-deputado federal pelo Partido Republicano, cassado em 1964 e que foi o autor de uma das leis mais polêmicas do governo João Goulart: a de remessa de lucros.
Através de uma amiga e companheira de ideais políticos, Marlene Flores Travassos viúva do economista Paulo Travassos, que teve grande atividade política até os anos 70 - Brant não só enviou exemplares de seu livro-manifesto "A Mobilização Nacional" ( 199 páginas, edição do autor), ao governador José Richa e ao prefeito Maurício Fruet, como está à espera da primeira oportunidade para vir a Curitiba fazer o lançamento oficial da plataforma do Partido da Mobilização Nacional. Celso Brant é o presidente do comitê organizador, que tem como o ex-deputado Paulo Carvalho (estadual-Guanabara) e na presidência do conselho outro ex-deputado, Noronha Filho. Todos, gloriosamente cassados em seus direitos políticos há 19 anos.
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Em "A Mobilização Nacional", Celso Brant faz um interessante retrospecto da história política brasileira nos últimos 20 anos analisando especialmente a tese da Doutrina de Segurança Nacional, da Alemanha hitlerista aos Estados Unidos sempre intervencionista nos países em que os seus interesses estão em jogo. Com coragem e profusão de dados, Brant acusa a ingerência do ex-embaixador Lincoln Gordon e do general Vernon Walters, ligado à CIA e que teve participação direta na revolução de 31 de março. Celso Brant foi o autor da Lei de Remessa de Lucros, que o presidente João Goulart assinou no dia 23 de janeiro de 1964, "atendendo à enorme pressão dos operários e dos nacionalistas brasileiros". Celso recorda que "a lei havia sido aprovada em 1962, mas em vista das intervenções do embaixador Lincoln Gordon e do governo americano, a sua regulamentação era sempre adiada. Depois da solenidade, o presidente João Goulart confessou a alguns amigos.
- "Assinei hoje a minha sentença de morte. Não fico muito tempo no governo."
Ficou menos de três meses.
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As 30 últimas páginas do livro são dedicados a explicar os princípios e objetivos do partido da Mobilizaçào Nacional, "que pretende conscientizar o povo brasileiro para unir-se na defesa dos seus interesses fundamentais e para a realização de planos que redundarão no pleno desenvolvimento". Assim, Celso Brant vê o Partido da Mobilização Nacional como um partido nacionalista, defendendo um socialismo democrático para o Brasil e realizando a vasta obra de desenvolvimento do País, através da convocação de todas as forças intelectuais e produtivas da nação. "O seu objetivo é acordar as elites para o cumprimento de seus deveres e o povo para a realização de seu destino. Acabar com a triste situaçào em que se encontra o Brasil, de virtual colônia dos Estados Unidos e transformá-lo numa nação forte e poderosa, senhora do seu destino".
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Nacionalista e crítico aos Estados Unidos, o Partido da mobilização Nacional tem várias bandeiras já conhecidas através de outros partidos oposicionistas. Uma delas é a convocação da Constituinte. Outro ponto é a reforma agrária "o mais urgente de nossos problemas", como diz Brant, repetindo um discurso que, há 20 anos passados, ouvia-se no dia-a-dia do governo Goulart. Um ponto importante de suas colocações: "Deve ser dito claramente que, embora façamosopção pelos pobres, não somos contra os ricos. Ao contrário, o nosso desejo é que eles sejam cada vez mais ricos, pois a sua riqueza irá aumentar o patrimônio da Naçào. O que não queremos é que os pobres sejam cada vez mais pobres. Ao contrário, achamos que os pobres devem ser cada vez mais ricos. A riqueza não é nenhum mal: ao contrário, a pobreza é que o é. Temos de acabar com a pobreza, não com a riqueza. Os ricos estão certos, os pobres é que estào errados. E a finalidade do estado, no nosso entender, é justamente essa: tornar todas as pessoas ricas. Isto nào é uma utopia. Se cada um tiver condição de realizar-se plenamente será rico. A pobreza é uma frustração decorrente de condições adversas. É claro que, na nossa concepção socialista do estado, a riqueza não pode ter senão um alto sentido social, não devendo ser usada, como atualmente, para escravizar os mais pobres e para manter uma estrutura social injusta e criminosa. A riqueza é uma criação da coletividade e deve ser usada em benefício da coletividade".
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Senhores políticos, descontentes com os atuais partidos, de idéias progressistas, animai-vos: o Partido da mobilizaçào Nacional está nascendo. E seu pai, Celso Brant, aceita as inscrições de todos os interessados.
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JÁ está há duas semanas em Curitiba o novo cônsul-geral da República Federal da Alemanha para os Estados do paraná e Santa catarina. Chama-se Wolf Hasse Freilher Von Miltzahn, tem 61 anos, descende de uma das famílias mais nobres da europa e está há 35 anos no serviço diplomático, tendo servido em diversos países. Só que como sua vinda ao Brasil demorou mais do que esperava, está bastante ocupado, em termos administrativos, no consulado, de forma que adiou a parte protocolar e social deixando as visitas as autoridades, recepções sociais e maiores contatos para as próximas semanas.
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