Jota Efegê, 80 anos, memória do Carnaval
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 27 de janeiro de 1982
Possivelmente é um dos últimos exemplares de um Rio de Janeiro que não existe mais: terno de linho impecavelmente branco, gravata borboleta, daquelas de dar nó, inexistentes até em Paris (onde seus amigos tentam localizar o fabricante), óculos escuros e uma imensa cabeleira branca. Moreno, poucas rugas, uma voz suave e carinhosa para com todos que o procuram, Jota Efegê é uma das figuras mais queridas do universo carioca. Por isto, não é sem razão que seus amigos lhe prepararam uma grande festa para o dia de hoje, quando comemora seus intensamente bem vividos 80 anos de idade.
João Ferreira Gomes começou fazendo versos para o Jornal das Moças entre 1919/1920, mas seria no extinto “Diário da Noite” que faria crônicas carnavalescas, a partir de 1928.Ligado há mais de 50 anos ao carnaval carioca[,] é o cronista maior da festa de momo e seu grande memorialista. “Figuras e Coisas do Carnaval Carioca”, que a Funarte lança hoje, dentro de seu projeto Carnavalesca, é a reunião de crônicas, focalizando, como o nome já diz, figuras e episódios do carnaval que Jota Efegê viveu “e que já acabou”, publicadas em: “O Jornal”, “Jornal do Brasil”, “O Globo” e “Diário Carioca”.
Para Arthur da Távola que faz o prefácio do livro, o trabalho tem uma importância muito maior: “Jota Efegê é o carioca mais importante que existe. Nenhuma autoridade ou benfeitor é mais importante. Deveria merecer estátua em vida, como o Pixinguinha ganhou rua. Ele é uma espécie de Pixingunha do jornalismo, até porque tem a mesma aura de alegria e pureza. O Carnaval está no sangue de Jota Efegê. Só no sangue seria pouco (embora já seja muito. Está também na memória e nos registros de seus trabalhos. Ao longo de quase 50 anos de trabalhos na imprensa e levantamentos sérios e minuciosos em arquivo e bibliotecas, o mais importante dos cariocas foi fazendo o que ninguém sobe ou teve coragem: guardando na memória do Carnaval”.
Filho e neto de mulheres que gostavam do Carnaval, Jota Efegê cedo ainda começou a compreender e gostar deste fenômeno. Sua preocupação ao selecionar as crônicas que compõem o livro que a Funarte agora edita foi de registrar a história do Carnaval que passou ou, como ele prefere dizer, “do Carnaval acabou”, pois o Carnaval hoje oficializado, patrocinado e atrção turística, já foi uma festa espontânea, uma genuína festa da comunidade.
Jota Efegê tem outros livros importantes, como a “Cabrocha”, reportagens (1931, esgotado), “Ameno Resedá, o rancho que foi escola”(1965), “Maxixe, a Dança excomungada”(1974) dois volumes de “Figuras e coisas da música popular brasileira”, dois volumes também editados pela Funarte.
Um poster com uma caricatura de Chico Caruso e um poema de Carlos Dru[m]mond de Andrade. Estarão sendo distribuídos na tarde de autógrafos. Drummond, poeta que compartilha também da admiração de tantos por Jota Efegê lhe dedicou um belo poema, onde diz:
Eis que surge este carioca dos mais finos,
que sobe o morro e pára nos terrenos
e tudo vê, e gosta do seu povo,
sambista ele também, no sangue n´alma,
aposentado embora, mas atento.
vai ao passado, nele colhe o som.
do que é canção e vida antrelaçadas.
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