As moradias em Londrina numa tese universitária
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 15 de fevereiro de 1990
A bibliografia sobre um dos mais atuais problemas urbanos-sociais ganhará dentro de alguns meses uma importante contribuição: um estudo analisando a questão das construções populares no Paraná, especificamente em Londrina. Ao optar pelo tema "Habitação, Estado e Reprodução da Força de Trabalho - o caso de Londrina" a professora Cláudia Lima Esteves Alves, 30 anos, paulista da capital mas há 4 em Londrina, mergulhou numa área carente de estudos interpretativos.
Inicialmente preparado como dissertação de mestrado de seu curso de pós-graduação em Geografia na Universidade de São Paulo - a ser defendida dentro de alguns meses - a tese de Cláudia Alves, professora de Geografia Humana da Universidade de Londrina, vai discutir importantes aspectos em relação ao problema habitacional - as soluções procuradas, os fracassos e, também, os sucessos alcançados.
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Trabalhando sobre dois conjuntos da periferia de Londrina - os núcleos residenciais Achiles Stenguel e Luís de Sá, na Zona Norte, onde vivem mais de 25 mil pessoas em 3 mil unidades, a professora Claúdia Alves procurou respostas às questões da migração rural - em especial no caso de Londrina, cidade-pólo de toda uma rica região e as opções encontradas pela administração municipal. Já empenhada neste projeto há três anos, Claúdia Alves estudou (e comparou) as propostas desenvolvidas pelo prefeito Antônio Belinatti em sua primeira administração (1978/82) - quando da implantação daqueles conjuntos habitacionais - e a situação atual, quando há um esvaziamento de recursos para novas construções populares.
Independente politicamente, bastante rigorosa inclusive em seus conceitos, a professora Cláudia reconhece, entretanto, as raízes populares de Belinatti, em seu entendimento "um homem do povo e que tem mostrado sensibilidade para buscar junto a este povo a quem pertence as soluções". Entretanto, em sua tese questiona a localização dos loteamentos populares, distantes do centro e que exigem pesados investimentos para infra-estrutura (luz, telefone, saneamento, avenidas de acesso, etc.), que, a rigor acabam custando mais caro do que a aparente economia oferecida pelos preços das áreas da periferia. Em compensação, entre o centro e os conjuntos habitacionais amplas áreas são beneficiadas com a infra-estrutura, estimulando a especulação imobiliária.
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Um dos capítulos da tese da professora Cláudia Alves será sobre o perfil da população dos conjuntos habitacionais, destacando o sentido de solidariedade que existe entre os moradores vindos da zona rural. "É como se fosse uma grande fazenda, na aproximação da população migrante que tenta (sobre)viver com rendimentos de 0 a 3 salários mínimos" explica Cláudia, denunciando a falta de escolas, empregos e, especialmente de lazer.
Embora centrada no caso de Londrina, a dissertação de mestrado da professora Cláudia Lima Esteves Alves apresentará um interesse geral, já que, de uma forma ou outra, problemas idênticos acontecem em centenas de outros conjuntos habitacionais implantados no Brasil a partir dos anos 60, com a política - nem sempre correta - do Banco Nacional de Habitação. Seria interessante que um cientista social se voltasse a fazer uma análise, na profundidade e independência que a professora de Londrina está obtendo, sobre esta questão em Curitiba.
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