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Munchausen, o maior mentiroso do mundo

Nova Iorque, 12 de março de 1989: o "Coronet", um dos maiores cinemas do mundo, está superlotado: apesar do frio e chuva, filas imensas circundam o quarteirão. Na Big Apple, como havia acontecido em Paris e Londres (e depois em outras metrópoles), a estréia de "As Aventuras do Barão de Munchausen" atraía multidões. Afinal, a Columbia montou um esquema especial para recuperar os quase US$ 40 milhões investidos nesta realização complicada, que se arrastou por mais de um ano com filmagens em vários países. Esquema que vem repetindo em todo o mundo, e que no Brasil começou nesta semana, com a estréia desta superprodução em circuito nacional antecedido de cuidadosas pré-estréias, promovidas pelo jornalista Wilson Cunha, do programa "Cinemania" (Rede Manchete) e que, na noite de quarta-feira, levou centenas de convidados ao Cinema I (o filme está em exibição no Bristol, em cinco sessões). Uma preocupação da distribuidora: não confundir este filme com a versão que foi realizada nos estúdios da alemã UFA, entre 1942/43 - e que, aliás, em cópias do Goethe Institut, teve algumas exibições na Cinemateca no ano passado. A versão 1989 das aventuras do Barão Friedrich Hieronymus Munchausen (Gut Bodenwerder, Hannover, 1720-1797) é um dos filmes mais caros destes últimos anos, elenco que exigiu milhares de extras e efeitos especiais dignos de toda a tecnologia de George Lucas. Pelos resultados obtidos nos três primeiros meses de exibição parece que será possível recuperar tamanho investimento, pois tratado em ritmo de comédia com aquele clima de aventuras dos bons tempos do cinema da magia, o filme dirigido por Terry Gilliam, ex-Monthy Python (irreverente grupo de comediantes ingleses que realizou trabalhos brilhantes na televisão e cinema, um dos quais, "O Sentido da Vida", exibido pela Rede Globo há duas semanas), tem ingredientes para entusiasmar crianças de todas as idades. Munchausen existiu. Foi oficial da cavalaria a serviço de Frederico, o Grande (aliado da Rússia em campanhas contra a Suécia e a Turquia, conhecida na época como o traiçoeiro Império Romano) e após anos nos campos de batalha teve uma velhice tranqüila em Bodenwerder (hoje na Alemanha Ocidental), contando suas aventuras na guerra. Só que exagerava nas tintas e com isto tornou-se o maior mentiroso do mundo. Como tantos mentirosos, Munchausen tinha imaginação prodigiosa e assim falava de como tinha sido soprado até a Lua por um furacão e como havia se tornado íntimo de Vulcano e da deusa do amor Vênus nas profundezas do Monte Etna; ou então de como havia aterrizado na barriga de um enorme monstro marinho, que já tinha engolido navios de todas as nações. Seus amigos, por mais boa vontade que tivessem, não acreditavam nele e o apelidaram de "Lungenbaron, o Barão Mentiroso". Um de seus companheiros, Rudolph Erich Raspe foi para a Inglaterra e ali publicou um best-seller em 1785: "Baron Munchausen's Narrative of his Marvelous Travels and Campaigne in Russia", que foi comparado ao espírito satírico de "As Viagens de Gulliver" (1726) e "Tom Jones" (1749). Fascinado por este personagem, Terry Gilliam, 49 anos, que anteriormente já havia realizado dois filmes fascinantes ("Bandidos do Tempo" e "Brazil, o Filme") partiu para a superprodução, com John Neville (já apareceu em vários filmes, inclusive "Topázio", de Alfred Hitchcook, mas é pouco conhecido no Brasil), no personagem título, Oliver Red como Vulcano, Sarah Polley e a deliciosa Una Thurman (Vênus), a ninfeta que John Malkovich e Glen Close seduzem em "Ligações Perigosas" - quatro entre um imenso elenco. Um filme na tradição do cinemão, com muitos atrativos. LEGENDA FOTO - John Neville é o personagem título: Munchausen, maior mentiroso de todos os tempos. Uma superprodução rodada em vários países.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
8
21/07/1989

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