O demolidor humor do Monthy Python
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 05 de abril de 1989
Em 1972, quando retornou ao Brasil após ter feito cursos de especialização em Londres, o oftalmologista Maurício Brick, cinéfilo apaixonado e culto, falava com entusiasmo a seus amigos sobre o humor irreverente, inteligente e criativo de um grupo chamado Monty Python, que desde outubro de 1969 - e por cinco anos - produziram 45 episódios do seu Flying Circus que atingiu audiências imensas não só na Inglaterra, mas também no Canadá e Austrália - onde era retransmitido.
Mas foram necessários muitos anos para que a visão de Brick (por sinal, um dos melhores oftalmologistas da cidade) tivesse atendimento por parte mesmo de faixas ligadas ao cinema entre nós: em 1977, quando o primeiro longa-metragem "Monty Python" (Monty Python and the Holy Grail, 1975) foi lançado no cine Condor, embora a platéia se divertisse, o sucesso foi reduzido. O filme seguinte, "A Vida de Brian" (Life of Brian, 1979), satirizando a história de um contemporâneo de Jesus Cristo que em algumas ocasiões era confundido com o próprio, teve maior êxito. Neste filme, rodado na Tunísia, o fotógrafo foi Peter Biziou, na época casado com a curitibana Christiana Gebran, poeta e professora de inglês, que chegou a aparecer em uma rápida seqüência (Peter, na última quarta-feira, recebeu o Oscar de melhor fotografia por "Mississipi em Chamas").
Em 1980, os Pythons fizeram uma temporada nos EUA, e durante uma exibição na Concha Acústica de Los Angeles decidiram filmar o espetáculo, o que resultou em mais um longa: Monty Python at the Hollywood Bowl (Monty Python no Show de Hollywood), uma espécie de colcha de retalhos dos principais quadros exibidos em seu programa de televisão. Lançado em Curitiba no cine Itália, apesar de todo entusiasmo de Brick - procurando levar sua tribo de cinéfilos ao cinema - também não foi entendido, acusado de ser "excessivamente teatral em seu humor inglês". Finalmente, os Pythons completariam o ciclo em 1983 com "O Sentido da Vida" (The Meaning of Life), demolidora comédia na qual não pouparam instituições como a igreja (com as freiras cantando uma ode ao esperma), a sociedade de consumo, satirizando "A Comilança", a guerra etc. Enfim, uma gozação profunda e polêmica.
Originalmente o Monty Python era formado por um quinteto de jovens bem humorados - Graham Chapman, John Cleese, Eric Idle, Terry Jones e Michael Palin que na segunda metade dos anos 60 faziam piadas aproveitadas por outros comediantes da televisão inglesa. A aproximação de um americano, Terry Gilliam, nascido há 49 anos em Minneapolis (Minnesota), fez o grupo se estruturar autonomamente. Antes de chegar a Londres, em 1967, Gilliam havia experimentado seu humor nas revistas Mad e Help! nos EUA e Pilote, na França. Como declarou, Londres era "uma base mais rica para a fantasia, a curiosidade intelectual e o individualismo sem a hipocrisia do conformismo gregário camuflado na América". E logo foi publicando desenhos no Sunday Times e na revista Queen, até que se juntou ao Monty Python's Flying Circus, na BBC...
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Paralelamente ao trabalho em grupo, os integrantes do Monty Python lançaram discos, livros, álbuns e, finalmente, partiram para experiências isoladas: Terry Gilliam, que já vinha dividindo com Terry Jones, a direção dos filmes do grupo, aceitou o convite do beatle Paul Harrison [sic] e fez um inventivo filme, também incompreendido no Brasil na época - mas hoje cult movie: "Aventureiros do Tempo" (Time Bandits), co-escrito com Michael Palin (também ator, junto com John Cleese, mais celebridades como Sean Connery). Em 1977, Gilliam já havia dirigido "Jabberwocky" (nunca exibido no Brasil), mas seria em 1985, com "Brazil - O Filme" (o título foi sugerido quando ouviu "Aquarela do Brasil", numa versão inglesa, quando justamente procurava no País de Gales, cenários ideais para "Jabberwocky", que Gilliam ficaria conhecido. Ficção-científica, entre "1984" e "Admirável Mundo Novo" - mas com toques de humor, "Brazil - O Filme" (o acréscimo no título foi para evitar problemas no Brasil), fez uma boa carreira e está hoje na categoria também de cult movie - o que prova o interesse de um público (especialmente jovem) cada vez que é reprisado (aliás, a cópia deve estar com sua censura vencendo e seria interessante que o Chico Alves programasse um novo relançamento nas salas da Fundação, tentando conseguir também os filmes da série Monty Python). Nos últimos dois anos, Terry passou envolvido numa superprodução de quase US$ 50 milhões, "As aventuras do Barão de Munchausen", cuja estréia americana assistimos em Nova Iorque num chuvoso domingo, 12 de março, com filas enormes de espectadores que lotaram o imenso cine Coronet, na esquina da 3ª avenida com a Rua 59. Transpondo a uma gigantesca superprodução as aventuras do mitológico mentiroso da literatura alemã, Gilliam fez um filme destinado basicamente ao público infantil, com um elenco internacional, inclusive impulsionando a carreira da ninfeta Uma Thurman (a Cecile de Volanges, de "As Ligações Perigosas"), e que mesmo com elogios do mais influente crítico do The New York Times, Vincente Canby, dividiu as opiniões tanto no EUA como em Paris - onde estreou (com casas lotadas) há um mês (seu lançamento deve acontecer no final do ano no Brasil).
LEGENDA REPRODUÇÃO DE ANÚNCIO - "As Aventuras do Barão de Munchausen" estreou há menos de um mês em Nova York: é a última loucura - e uma superprodução - do ex-Monty Python Terry Gilliam. Deve chegar ao Brasil no final do ano.
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