Música Popular - No mercado em crise, só o CD é que teve sucesso
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 04 de janeiro de 1992
Os números não mentem: de 1989 a 1991 as vendas globais diminuíram 44% e com exceção dos CDs (cujas vendas praticamente duplicaram em 1991, chegando a 7 milhões de unidades) a crise atingiu pesado a indústria fonográfica. Ou seja, mesmo com a ascensão do CD - num custo mínimo de Cr$ 15 mil para cima - as lojas retraíram suas compras as gravadoras enxugaram despesas, demitindo funcionários e cortando ao máximo seus elencos. Hoje, só grava no Brasil quem oferece retorno garantido - o que, obviamente, fica longe da qualidade.
Não é preciso raciocinar muito para entender: com o marketing ditando cada vez mais as regras de um mercado extremamente competitivo, pouquíssimas chances tem de chegarem ao disco - (agora já não se fala em vinil, mas em CDs) intérpretes, instrumentistas e compositores que propunham um trabalho mais criativo e menos comercial - no conceito dos frios, calculistas e impessoais yuppies que hoje dirigem as gravadoras - longe dos tempos em que produtores da sensibilidade de João de Barro, Milton Miranda, Roberto Corte Real e Aloisio de Oliveira acreditavam em talentos, sem preocupação prévia do "mercado". E olhe que se não fosse este feeling, a nossa música não teria tido gente do calibre de João Gilberto e Chico Buarque - que fizeram suas primeiras gravações, quando eram, naturalmente anônimos na multidão.
Manter, assim, a garimpagem sobre os melhores lançamentos fonográficos do ano torna-se, cada vez mais, um trabalho difícil. A redução na própria divulgação das gravadoras - limitando-se a esquemas massificantes para impor o que vê de mais comercial (e especialmente o lixo-pop internacional, que já vem embalado e vendido da matriz), somada à ditadura das FMs/AMs, divulgando apenas a listagem dos consumíveis e descartáveis "sucessos" do trimestre, a maioria catipultuados [catapultados] pelas trilhas sonoras de telenovelas (onde raramente entra uma música de melhor qualidade) e, especialmente, a impossibilidade de se acompanhar, como colecionador, nas lojas a aquisição dos discos - considerando o preço dos discos (aumentando praticamente todos os meses) levam a que como nunca a situação musical fosse tão desanimadora - como no ano que se encerrou.
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