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Aramis

Na letra, a simples insinuação do humor

A letra de "Julieta", do paranaense Roedil Caetano - em parceria com F. C. Santos (e que na gravação de Sandro Becker, ganhou um terceiro "autor", Enock Gomes) não é nem mais agressiva, nem mais respeitosa do que tantas outras que tem aparecido na MPB nos últimos tempos. Se nos anos 50, a versão pornô que os titulares do Ritmo fizeram do "Xotis das Meninas" (Luiz Gonzaga/Zé Dantas, 1953) era um 78 rpm clandestino, que se ouvia em sessões reservadas (como hoje acontece com "Je Vous Salue, Marie", em termos cinematográficos), agora, a liberdade dos novos tempos, permite que na qualidade de transmissões das FMs se ouça dezenas de músicas de duplo sentido - especialmente exploradas a partir de 1928/83, pelos roqueiros. Exemplos são inúmeros e nem há tempo e espaço para aqui comentar. xxx Basicamente, "Julieta" é uma música apelativa a imagens pornográficas que não se concretizam - mas insinuam. O refrão, pobre e cansativo ("Julieta tá, tá/tá me chamando") repete-se a cada nova "anedota" e a música funciona em termos de comunicação - atingindo principalmente o público infantil, que já a incorporou em seu vocabulário. Afinal, para as crianças deste final de século, não há muita novidade nas insinuações feitas por Roedil em sua "Julieta". xxx Maria Preta escreveu na tabuleta/Quem tiver dinheiro come Quem não tem... toca pandeiro Eu vinha no caminho/encontrei um urubu pisei no rabo dele/ele mandou tomar... cuidado Lá atrás daquele morro/moram dois caras batutas um é filho do Zé/...O outro não é; Eu conheço uma menina/Que se chama Julieta Ela tem o dedo fino/...de tanto tocar corneta Eu estava tomando banho/o telefone tocou Enrolei-me na toalha... e a toalha escorregou O velho e a velha foram buscar água na bica A velha escorregou/e o velho passou-lhe a perna Cachorro quando late/Em buraco de tatu Sai espuma pela boca... e chocolate pela orelha Lá atrás daquele morro/tem um pé de Araçá Cada vez que eu vou lá/me dá vontade de cantar Quando me enterrar/me enterrem numa cova funda Se não vem um urubu/para comer a minha perna Oh! Seu ferreiro/O Sr. Na acha que está caro para fazer Um capacete para a cabeça do canário Eu conheço uma menina/Que se chama Dorotéa Ela está muito doente/Ela está com resfriado O meu avião não cai/o meu barco não afunda Morena, eu quero ver/o balançar de sua...saia Eu tenho um passarinho/Que se chama papagaio Ele tem uma pinta preta/bem na ponta do nariz Eu namoro uma menina/que se chama Marieta Ela tem a saia curta/Aparecendo a etiqueta Eu fiz esta música/lá na beira de um rio Quem não gostou...
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
07/06/1986

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