Na letra, a simples insinuação do humor
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 07 de maio de 1986
A letra de "Julieta", do paranaense Roedil Caetano - em parceria com F.C. Santos (e que na gravação de Sandro Becker, ganhou um terceiro "autor", Enock Gomes) não é nem mais agressiva, nem mais respeitosa do que tantas outras que têm aparecido na MPB nos últimos tempos. Se nos anos 50, a versão pornô que os Titulares do Ritmo fizeram do "Xote das Meninas" (Luiz Gonzaga/Zé Dantas, 1953) era um 78 rpm clandestino, que se ouvia em sessões reservada (como hoje acontece com "Je Vous Salue, Marie", em termos cinematográficos), agora, a liberdade dos novos tempos, permite que na qualidade de transmissões das FMs se ouça dezenas de músicas de duplo sentido - especialmente exploradas a partir de 1982/83, pelos roqueiros. Exemplos são inúmeros e nem há tempo e espaço para aqui comentar.
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Basicamente, "Julieta" é uma música apelativa a imagens pornográficas que não se concretizam - mas insinuam. O refrão, pobre e cansativo ("Julieta tá, tá/tá me chamando") repete-se a cada nova "anedota" e a música funciona em termos de comunicação - atingindo principalmente o público infantil, que já a incorporou em seu vocabulário.
Afinal, para as crianças deste final de século, não há muita novidade nas insinuações feitas por Roedil em sua "Julieta".
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Maria Preta escreveu na tabuleta/ Quem tiver
dinheiro come
Quem não tem... toca pandeiro
Eu vinha no caminho/ encontrei um urubu
pisei no rabo dele/ ele me mandou tomar... cuidado
Lá atrás daquele morro/ moram dois caras
batutas
Um é filho do Zé/ ...O outro não é;
Eu conheço uma menina/ Que se chama Julieta
Ela tem o dedo fino/ ...de tanto tocar corneta
Eu estava tomando banho/ o telefone tocou
Enrolei-me na toalha... e a toalha escorregou
O velho e a velha foram buscar água na bica
A velha escorregou/ e o velho passou-lhe a perna
Cachorro quando late/ Em buraco de tatu
Sai espuma pela boca... e chocolate pela orelha
Lá atrás daquele morro/ tem um pé de Araçá
Cada vez que eu vou lá/ me dá vontade de cantar
Quando me enterrar/ me enterrem numa cova funda
Se não vem um urubu/ para comer a minha perna
Oh! seu ferreiro/ O sr. não acha que está caro
para fazer
Um capacete para a cabeça do canário
Eu conheço uma menina/ Que se chama Dorotéia
Ela está muito doente/ Ela está com resfriado
O meu avião não cai/ o meu barco não afunda
Morena, eu quero ver/ o balançar de sua... saia
Eu tenho um passarinho/ Que se chama papagaio
Ele tem uma pinta preta/ bem na ponta do nariz
Eu namoro uma menina/ que se chama Marieta
Ela tem a saia curta/ Aparecendo a etiqueta
Eu fiz esta música/ lá na beira de um rio
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