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Aramis

Falta total de infra-estrutura

- Em minha vida profissional nunca encontrei um teatro em piores condições de infra-estrutura. A afirmação de Tulio Feliciano, 39 anos, pernambucano de Recife, ex-ator e há uma década o mais requisitado diretor de shows musicais do Rio de Janeiro, traduz bem o estado de abandono, ao qual foi relegado o Teatro do Paiol. Só mesmo o alto nível de profissionalismo dos artistas que aqui estiveram no último fim-de-semana, apresentando o espetáculo em homenagem ao compositor Wilson Batista fez com que o mesmo acontecesse. O sistema de som do Paiol está deficientíssimo, com a maioria dos microfones estragados. Dos 18 spot-lights apenas treze estariam em condições de funcionamento. Na hora do espetáculo, Tulio Feliciano só pôde dispor de dez. Resultado: toda a concepção cênica de iluminação ficou prejudicada. Ivens e Barbosa, funcionários responsáveis pela parte técnica, fazem das tripas coração para suprir as falhas. Simpáticos e eficientes, buscam compensar as brutais deficiências com improvisações - "mas para tudo há um limite", queixava-se, após a estréia, na sexta-feira, Tulio Feliciano, acostumado a dirigir uma média de dois shows musicais por mês em teatros do Rio de Janeiro - especialmente na Sala Sidney Miller, da Funarte. É natural que existam problemas técnicos - e os três auditórios do Guaíra também estão repletos de deficiências, especialmente no que concerne a iluminação. Entretanto o abandono ao qual o Paiol foi relegado nestes últimos anos especialmente a partir de 1983/84 chega a ser criminoso. Desprezado como unidade cultural, sem uma programação atraente e já previsto para ser apenas uma "unidade de bairro", ou seja, perdendo suas funções de casa de espetáculos, o Paiol é, cada vez mais, um espaço condenado. Tecnicamente, nunca chegou a dispor - reconheça-se a bem da verdade - de um equipamento moderno, sempre cortado devido aos enxugamentos orçamentários, mas, nas administrações anteriores, havia ao menos sensibilidade para que o mínimo equipamento fosse mantido e reposto. Hoje, só a enorme boa vontade de Ivens e Barbosa, que ali trabalham com entusiasmo, é que possibilita ainda a realização de shows. Mas quando um profissional gabaritado como Tulio Feliciano chega a Curitiba com artistas do nível dos cantores Roberto Silva e Joyce, mais os violonistas João de Aquino e Maurício Carrilho, para aqui fazer uma estréia nacional, num espetáculo produzido integralmente pela Funarte, a decepção é total. "A precariedade técnica foi tamanha - comentou Tulio Feliciano - que não houve condições de usar estes três dias como ao menos um ensaio-geral. Cada vez que se pensava em fazer algum ajuste de luz ou som, o mesmo era impedido pela inexistência de equipamento, irritando os artistas e prejudicando, inclusive, psicologicamente o resultado". Decepcionado com o que observou e lembrando-se de que, no passado, Curitiba tinha prestígio no eixo Rio-São Paulo, pelo Paiol - como casa de espetáculos - Tulio até arriscou uma comparação: - Nem mesmo em Teresina, possivelmente, há um teatro tão desprovido de infra-estrutura técnica.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
07/05/1986

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