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Aramis

Na sátira da TV as musas do consumismo

Pelo próprio fato de só agora estar saindo para um consumo nacional - via disco (WEA), televisão (músicas e trilhas sonoras da novela "O Outro" e vídeo-clips) e participação no filme "Um Trem para as Estrelas", Fausto Fawcett é ainda um mistério para os leitores. Mas junto a algumas faixas bem jovens e extremamente informadas, suas músicas (?) falando de personagens & fatos da Zona Sul começam a estabelecer uma empatia. E, especialmente suas personagens-temas, nas quais busca inspiração em mitos (sexy?) do momento. Por exemplo, como contou a Luiz Carlos Mansur, do "Jornal do Brasil", elas podem nascer tanto da "confluência de impressões sobre garotas comuns quanto de uma das inúmeras posturas e estados de espírito passados pelas poses de estrelas como Xuxa, Madonna, Luiza Brunet ou Vanessa de Oliveira (a música "Estrelas Vigiadas", por exemplo, nasceu quando viu uma foto dela da revista "Domingo", do JB). Já Copacabana, é o cenário, pelo fascínio de seu "Excesso urbano, 300 mil pessoas concentradas em 4 quilômetros quadrados, consumindo tudo da mesma maneira que se faz diante da TV. Não é à toa que há televisões em todos os lugares". O "Rap d'Annie Stark" - outra das faixas curiosas do disco de Fausto Fawcett - seria, originalmente, o "Rap da Leilane", mas a locutora Leilane Neubarth fez exigências para permitir o uso de seu nome. Em compensação, outra de sua galeria de heroínas louras, a Juliete ninfeta Boticelli, "rebola num samba-enredo lisérgico, enquanto Copacabana é bombardeada por uma ressaca de mulatas e envolvida por uma neblina de tequila evaporada", na perfeita definição de Tarik de Souza. Letras imensas - quase impossíveis de serem cantadas (sic) por outro que não o autor - produzem o efeito de roteiros poéticos para vôos lisérgicos, entre o absurdo kafkaniano e a mais absoluta bagunça tropical, com imagens delirantes - mas que fazem Fausto Fawcett ser, ironicamente um performer que, numa época de simples consumismo, repetição, sacode um pouco a poeira - como o "Ouro de Tolo", de Raul Seixas, na repressão dos anos 70, surgia como um grito (disfarçado) de rosto. Justificando-se em relação ao fato de "abastardar a poesia e se vender ao "demônio" dos mass-media", Fausto Fawcett diz: - "A postura crítica que eu defendo em relação à televisão seria como colocar lado a lado vários paredões cheios de transmissores em todos os canais e subverter tudo com um controle remoto. A idéia é essa: um controle remoto diante da vida". Por último, a opinião de Cacá Diegues, que ao incluí-lo numa seqüência de "Um Trem para as Estrelas" (cuja estréia nacional, que deveria ocorrer hoje, no Astor, foi adiada sine-die) apostou em seu talento: - " Fausto Fawcett e seus poemas épicos sobre Copacabana são o que há de mais original e novo no show business cultural brasileiro. Ele é o grande herdeiro contemporâneo de uma tradição de nossa poesia crítica na literatura e na música popular. Uma espécie de herdeiro de Oswald de Andrade e Assis Valente, nestes tempos de rock, bomba, violência urbana, e terceiro milênio. Seria muito bom que se apressassem novos cineastas fazendo filmes como Fausto Fawcett faz seus raps".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
8
03/09/1987

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