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Aramis

No rock, a volta dos Queens e David Bowie

O dragão insaciável que se conhece como consumismo pop internacional joga no mercado mais de meia centena de novos grupos a cada mês numa mistura geral da qual se destacam nem sempre os melhores - mas os que tem a sorte de receberem os melhores temperos de marketing. Isto explica a quantidade incrível de conjuntos, solistas, vocalistas, etc., que hoje tem uma presença internacional - pois bastou emplacar em alguma metrópole para que representantes das grandes gravadoras façam lançamentos praticamente simultâneos. Longe vai a época em que um sucesso em Londres ou Nova Iorque demorava um ano para chegar até aqui. Entretanto, mesmo com todo o ouro (aparente) que os novos produtos oferecem, são os nomes já testados e conhecidos que possuem maior poder de comercialização e a EMI/Odeon, com sua experiência de há décadas dominar um império sonoro - assim como eram os limites do leão inglês nos tempos da rainha Vitória (na qual o Sol nunca se punha) sabe disto. Prova está no pacote mais recente, que começa a merecer espaços generosos na imprensa, sempre entusiasmada frente a um novo álbum de um ex-Beatle, como é o caso do "Flowers in the Dirt", de Paul McCartney, ou do filho do ex mais famoso dos Beatles, Julian Lennon ("Mr. Jordan"), para não falar num álbum póstumo de um guitarrista, cantor, compositor, Ray Robinson - falecido há poucos meses, quando retornava a uma carreira abalada por várias tragédias pessoais. Dois outros retornos, ambos com muita força para atingirem ótimas vendagens e atingirem tanto os roqueiros já na faixa dos 30/35 anos, como uma nova geração, antenada em conhecer aquilo que para eles já é pré-história do pop: a banda Queen ("Miracle") e David Bowie, discretamente num trabalho de equipe com um grupo a que batizou de Ton Machine. The Queen já é maior de idade. Há 18 anos está entre as mais populares bandas inglesas, obtendo sempre imensas audiências em seus shows (nas duas vezes em que esteve no Brasil, levou 130 mil ao Morumbi, São Paulo, em 1981 e 200 mil ao Rock in Rio, 1985). Apesar de algumas mudanças de estilo e integrantes, o grupo tem segurado a peteca. Nos três primeiros elepês, ainda nos anos 70, fazia um hard rock, com intrincadas harmonias vocais de seu líder Fredie Mercury (que, posteriormente, também seguiria carreira solo). Chegou-se a ver no Queen uma espécie de substituto do Led Zeppelin, menos acessível na época, e também um ponto de equilíbrio entre o LZ e David Bowie. O ponto alto da carreira do grupo foi uma superprodução - "A Night at the Opera", cujo tema principal, "Bohemian Rhapsody" permaneceria nove semanas em primeiro lugar na Inglaterra. Excursionaram pelo mundo, fizeram a trilha sonora do filme "Flash Gordon" e a partir de 81 o grupo diminuiu seu ritmo, com alguns de seus integrantes partindo para vôos solos - como o vocalista Fredie Mercury, o guitarrista Brian May e o baterista Roger Taylor. Após uma paralisação de quase três anos, o Queen retornou em grande forma, com o elepê "The Miracle" (seu 16º elepê) lançado praticamente simultaneamente em uma dezena de países. Como acentuou Leopoldo Rey, o grupo retoma seus instrumentais de peso, "aqueles do início, mesmo sem deixar de lado alguns truques computadorizados". Mantendo andamentos funks ("Rain it Fall", "My Baby does me", "The Invisible Man" e "War all Worth"), traz também aqueles cuidados vocais (na definição de Rey, de "O Estado de São Paulo") dos tempos de "A Night at the Opera". xxx Outro retorno é de David Bowie, 46 anos, cuja carreira de megastar do rock - especialmente a partir de 1972, com "The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars Alladin Sane" reduziu-se pela atração ao cinema (a partir de "O Homem que Caiu na Terra", de Nicholas Roeg, 1976 e chegando ao elogiadíssimo "Furyo - Em Nome da Honra" e "Labirinto") e mesmo teatro (em Londres, fez a montagem de "O Homem Elefante"). Numa modéstia incrível, sem nenhum destaque ao seu nome, Bowie reaparece com a banda Tin Machine, criada com os irmãos Tony e Hunt Gabrels. Apesar de dominar o álbum, como compositor e cantor, Bowie mostra-se maduro e equilibrado, com vários estilos - desde um rock típico da década de 60 ("Heaven's in Here") até uma homenagem a John Lennon com uma revisitação de "Working Class Hero". O tempo passa, os jovens envelhecem e os roqueiros procuram ajustar-se a novos estilos - para não serem enterrados precocemente.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
24
09/07/1989

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