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Aramis

As novas estrelas do Rock Rio já estão chegando

A reedição do Rock in Rio Festival, promoção que movimentará o Rio de Janeiro no início do ano, já está tendo seus reflexos nas produções fonográficas. A CBS criou um selo especial para lançar discos dos novos grupos que foram contratados por Roberto Medina, o homem da Arteplan, para esta promoção de milhões de dólares. Quatro deles são ainda pouco conhecidos - Skin Games, Anything Box, The Chimes e Shawn Colvin -, mas logo estarão conhecidíssimos. O rolo compressor para divulgá-los é intenso. Em textos de Carlos Albuquerque e Adriana Sanglard, conheça aqui quem são as novas estrelas do pop que brilharão a partir do Rock in Rio. The Chimes Imaginar uma banda de soul music na Escócia talvez seja o mesmo que pensar num grupo de samba na Alemanha. O baixista Mike Peden e o baterista James Locke - dois amigos com uma paixão comum pela música negra americana - sabiam disso, mas nunca desanimaram. Tratando a ironia com ironia. Afinal, na vizinha Londres, artistas que beberam na mesma fonte que eles - Soul II Soul, Lisa Stansfield e as Pasadenas - estavam conseguindo ótimos resultados e tendo excelente aceitação no que passou a ser genericamente chamado de "British Soul Movement". Um bom nome, pelo menos Peden e Locke tinham: The Chimes. Faltava, contudo, a espinha dorsal de qualquer banda de soul que se preze: uma voz. Depois de incontáveis testes, uma "reprovada" deu-lhes o nome de uma amiga sua, Pauline Henry, uma ex-cabelereira, que já tinha trabalhado com os Isley Brothers e que morava na capital inglesa. Alguns minutos de audição com Pauline foram suficientes para que Peden e Locke tivessem a certeza de que a cantora ideal para o The Chimes havia aparecido. Após alguns ensaios, foram para o local ideal para testar o som da banda: a estrada. Com o vocal extraordinário de Pauline, o excelente bom gosto dos arranjos - utilizando doses exatas de jazz, rhythm and blues e pop - e uma batida irresistivelmente dançante, não demorou muito para que as gravadoras começassem a bater na porta do The Chimes, que acabou assinando com a CBS. Seu primeiro LP, "The Chimes", mostra o motivo de toda a romaria à porta do grupo. Trata-se de um trabalho preciso, notável desde que a balada que abre o disco (a apaixonada "Love So Tender" até a feliz regravação de "I Still Haven't Found What I'm Looking For", do U2, passando pelo balanço redondo de "Heaven" e "1-2-3". Os resultados não demoraram a aparecer: "Heaven" e "1-2-3" foram direto para o topo da parada da Billboard e o mínimo que se falou da banda foi que se tratava da "descoberta do ano". Nada mau para uma banda de soul music escocesa. Anything Box A música é uma caixinha de surpresas. A do Anything Box nem se fala. Afinal, o nome do grupo foi tirado de uma história de ficção-científica dos anos 50 escrita por uma certa Zenna Henderson, que contava o sofrimento de uma menina com a separação dos pais. Precocemente deprimida, a garota projetava todos seus desejos e todos os seus sonhos numa caixa. A "Anything Box" seria o mundo como a menina gostaria que fosse: mágico E mágicos e surpreendentes foram os fatos que originaram o Anything Box. Como poderia Claude S., o fundador da banda, imaginar que, depois de muito tempo tocando o punk Rock mais furioso possível, ele se apaixonaria pelas texturas eletrônicas de bandas como Kraftwerk e Thompson Twins? E quando ele imaginaria, depois de procura pelos quatro cantos do planeta, encontrar a parceira ideal (Dania Morales) dançando na sua frente num bar de New Jersey, seu playground musical? Pois foi assim, num cruzamento de felizes acontecimentos - o último foi a mudança da banda para a Califórnia, para trabalhar com o produtor Jon St. James, que o Anything Box ganhou feições próprias. Estruturado definitivamente com a entrada do tecladista Paul Rinjders, o grupo entrou em estúdio e transpôs para o vinil sua concepção sonora: música pop, batida eletrônica e letras inteligentes. "Peace", o resultado final do debut oficial do Anything Box, traz tudo isso e algo mais: "Living in Oblivion", um hit imediato. Alguma surpresa? Shawn Colvin É fácil, nos dias atuais, descrevermos um artista através de um rótulo específico, um estilo musical mais ou menos rígido. Fazer o mesmo com Shawn Colvin torna-se tão difícil quanto dispensável. Após o lançamento do seu primeiro álbum, Steady On, a cantora e compositora que se lançou fazendo backing vocals para Suzane Vega, vem atraindo cada vez mais público e fãs com sua música onde predominam os elementos folk - "uma grande influência de Joni Mitchell, dos anos 60", diz Shawn -, Rock e Rhythm and Blues. O álbum, que tem quatro canções próprias e mais seis escritas em parceria com John Leventhal, Steady On, é principalmente o encontro da cantora, poetisa e trovadora num disco que reflete o caráter sombrio de Colvin, seus sonhos de liberdade e uma rebeldia que começou na adolescência, contra os padrões repressores que a escola e sua família queriam lhe impor. Apoiada no gosto pela música folk que o pai lhe transmitiu, ela cantou em bares obscuros na Inglaterra e mais tarde no Texas, Estados Unidos. De lá pra cá, cantou vários estilos, todos dentro do seu gosto pessoal, e optou por manter no repertório letras que se casam com os vocais de maneira sedutora e enigmática. Assim, a música folk, que tem alargado seus horizontes dias após dia, mesclando o tradicional com os mais diversos estilos, ganhou mais uma grande surpresa: uma cantora de voz notável, que preferiu trocar a posição de docilidade feminina pelos temas sociais e políticos, como em "The Story", onde exorcisa os problemas familiares, ou em "The Dead and The Night", uma balada sobre solidão e esperança. Assim, a poesia faz parte de Steady On e de suas letras ao mesmo tempo intimistas e severas. E Shawn Colvin mantém um estilo próprio de interpretar o folk em suas nuances, com o máximo de imaginação e rebeldia. Skin Games Não se engane com os faiscantes olhos verdes de Wendy Page - a deusa loura a frente da banda inglesa Skin Games. Confundi-la com mais uma boneca de papel lançada pela voraz máquina do showbizz para consumo adolescente é um erro crasso de avaliação. Wendy sabe onde pisa e, o melhor, sabe o que fala e escreve. Formada em literatura pela Universidade de Warwick, ela costuma dizer que "tem uma paixão louca pelas palavras". Não é à toa, aliás, que o nome do grupo é tirado de um poema de Dylan Thomas. A mistura de sensualidade e articulação - a primeira característica de Wendy Page e o Skin Games - esteve inadvertidamente presente no modo como a banda foi formada. Um anúncio no mural da universidade - colocado por um sósia do ator Christopher Lambert, o baterista Jim Mar -, procurando uma cantora, chamou a atenção de Wendy, que respondeu ao chamado de forma pouco usual: escrevendo por cima, usando o batom, seu nome e seu telefone. Depois de um bom tempo moldando seu estilo e aparando as arestas sonoras o Skin Games chega agora ao primeiro lp "Blood Rush". Produzido por Stephen Hague (cujo currículo inclui trabalhos com o Pet Shop Boys) e Dave Meegan, o disco coloca as afiadas guitarras do SG a serviço de um precioso sentimento pop, acessível e agradável, como nas músicas "Your Lucky's Changed" e "Where The Wild Thing Are". E o libelo feminista de "Trade", escrito por Wendy, mostra que há vida inteligente atrás daquele par de olhos verdes.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
6
25/11/1990

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