O bang-bang com um som elétrico
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 17 de novembro de 1990
O jovem diretor Geoff Murphy pertence à geração de realizadores que buscam novas formas de discutir/mostrar antigos assuntos. Assim, ao fazer a continuação de "Young Guns" - "Jovem Demais para Morrer" (em cartaz em São Paulo, com lançamento previsto para breve em Curitiba), retomou a vida do mais precoce pistoleiro, Billy "The" Kid (William H. Booney, New York, 23/111859 - Fort Summer, New Mexico, 15/7/1881), numa visão em que a trágica história do garoto que matou mais de 26 pessoas em apenas 21 anos, surge diferente. É bem verdade que Arthur Penn, há 32 anos, ao estrear no longa-metragem com "Um de Nós Morrerá" (The Left Handed Gun), com Paul Newman como "Billy", já propunha uma revisão da personalidade do pistoleiro - cuja curta vida teve várias outras versões no cinema.
Agora, ao retomar Billy como personagem central em "Young Guns II" (a primeira parte do filme ficou inédita no Brasil), além de escolher também um elenco jovem (Emílio Estevez no papel do pistoleiro; Keefer Sutherland, Lou Diamond Philips e William Petersen como Pat Garret, que o mataria), buscou também uma trilha sonora adequada aos nossos dias para consumo da garotada: Jon Bon Jovi, roqueiro que lidera um grupo já conhecido, é o autor das 11 músicas que compõem esta trilha (Mercury/Polygram), com estridentes guitarras que jamais se imaginaria como banda sonora de um western. Em 1969, quando Sam Peckinpah (1926-1984) reuniu Bob Dylan e Kris Kristofferson em "Pat Garret e Billy the Kid", a música de Dylan (a disposição em lp CBS/Museu do Disco; também o vídeo do filme já lançado no Brasil) trouxe canções sobre os dois pistoleiros - e a época violenta em que viveram - diferente das baladas que marcaram outras versões do mesmo personagem. Mas Jon Bon Jovi exagera na dose: sua trilha é elétrica demais, por mais liberdade que o diretor Murphy tenha tomado com os personagens. Da forma com que a música foi desenvolvida, a morte de Billy seria por curto circuito - se eletricidade existisse em sua época - ou teria condenado-o à precoce surdez.
DIAS DE TROVÃO (Days of Thunder) foi uma tentativa de repetir o sucesso de "Top Gun - Ases Indomáveis": o mesmo diretor (Tony Scott), o mesmo galã (Tom Cruise) e uma história também em torno da velocidade: só que ao invés do espaço aéreo, o circo das corridas nos Estados Unidos. Confirmou-se o óbvio: nem sempre um time campeão repete a vitória e "Days of Thunder" vai entrar na lista das grandes frustrações do ano. Sua trilha musical, que a CBS lançou há pouco, também não consegue um destaque maior: apela para o desgastante sistema de reunir fonogramas de vários artistas, na linguagem basicamente pop, embora com alguns intérpretes menos eletrificados como as cantoras Cher ("Trail of Broken Hearts"), Elton John ("You Gotta Love Someone"), Tina Turner ("Break Through the Barrier") e mesmo o grupo Chicago ("Hearts in Trouble"), cujo som parece hoje, perto do heavy rock, uma música suave. A trilha é também oportunidade para catapultar gente ainda pouco conhecida como David Coverdale ("The Last Note of Freedom"), Joan Jett & The Blackhearts ("Long Live the Night"), Maria McKenn ("Show Me Heaven"), Terry Reid ("Gimmie Some Lovin'"), Apollo Smile ("Thunder Box") e reforçar a carreira do grupo Guns n' Roses ("Knockin' on Heaven's Door").
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