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Kennedy, o violinista punk que toca vivaldi

Há 20 anos, Maurício Quadrio, com sua visão do mercado musical, já prognosticava ao idealizar o projeto "Quem Tem Medo de Música Clássica?", que representou a primeira jogada inteligente de marketing para fazer a música dita clássica chegar ao grande público - um êxito para a Polygram, que desde então passou a ter uma liderança no gênero. Hoje na CBS, coordenando projetos especiais - depois de ter feito um ótimo trabalho na EMI-Odeon -, Quadrio, uma das pessoas que mais conhece a arte de equilibrar qualidade e absorção de mercado, deve ter ficado satisfeito em ver que internacionalmente a música clássica também atinge novas faixas. Pois um dos destaques deste ano que está encerrando, foi que pela primeira vez na história do disco, um álbum de música clássica chegou ao 2o. lugar na parada pop da Inglaterra, desbancando ídolos do rock e do funk como Elton John, Phill Collins, New Kids on the Block e até Madonna. Trata-se do violinista Nigel Kennedy, 32 anos, que com suas gravações das "Quatro Estações", de Vivaldi, ao lado da Orquestra de Câmara Inglesa, vendeu mais de um milhão de cópias apenas nas ilhas britânicas. Explica-se esta comunicação de Nigel, inglês de Brighton, ex-aluno da Meneuhin School e Julliard School (Londres e Nova York, respectivamente): além de recitais e concertos, Nigel toca jazz e rock e, com supremacia punk (lembrando um Sex Pistols), é, desde 1977, um artista em crescimento. Já se apresentou com a Filarmônia de Berlim, de Oslo, além de sinfônicas da Austrália e do extremo oriente. As grandes vendagens e prêmios começaram em 1984, quando ganhou o Disco de Ouro pela gravação do Concerto de Elgar (com a Filarmônica de Londres) e foi premiado com o "Disco do Ano" (85) pela revista Grammophone. Depois de Nigel, outro nome vindo do clássico - no caso o lírico -, através de Luciano Pavarotti, com "The Essential Pavarotti", foi posterior ao seu recorde. Como o brasileiro Arthur Moreira Lima, Nigel Kennedy é fanático por futebol, esporte que pratica e, como Chico Buarque, tem seu próprio time - o "Aston Villa Football Club", em sua cidade natal. Logicamente, não trabalhou durante a copa: foi assistir aos jogos na Itália. Enquanto a The Academy of Ancient Music, especialista do período barroco, tem um lançamento em CD, com dois compact discs (L'Oiseau Lyrée/Polygram) com as quatro suítes orquestradas de Bach, a CBS, mais uma vez associada à Breno Rossi - que há anos garante a edição nacional de obras especiais (durante um semestre, exclusivos em suas lojas) -, traz mais três belíssimos álbuns de música antiga. Em Florilégio de Flauta Doce, com Jean-Claude Veilhan, 50 anos, executante de flautas-doces; Daniel Salazer, cravista e pianista, e François Bloch, viola de gamba, temos peças de Michel Corrette (1769-1795), Arcangelo Corelli (1653-1713), Georg Philipp Telemann (1681-1767) e Jean Baptista Loellet (1680-1730). Florilegium Music de Paris, da qual fazem parte François Bloch, Veilham e Daniele, mas que tem o acréscimo de Françoise Carré (soprano/percussão), Henri Farge (tenor/precussão), Jacques Prat (rabeca, viola, soprano e arco, contratenor) e mais Jean-Claude Malfoire (bombardino soprano, flauta-doce e percussão) tem gravado um série intitulada "Música no Tempo das Cruzadas", recuperando chansons, danças e motetos do século XIII. Em edição da CBS, temos um novo volume desta coleção notável, por apresentação um dos melhores grupos de música antiga existente no mundo e que em seus concertos e gravações utilizam cerca de 50 instrumentos, todos de reconstituição fiel a instrumentos de época, muitas vezes feitos pelos próprios músicos. O mesmo grupo, dirigido por Jean-Claude Malfoire, tem simultaneamente editado "Danças da Corte e das Aldeias do Século XVI", outro álbum indispensável para os que pretendam conhecer a música do Renascimento. Além da feliz escolha de repertório com autores como Claude Gervaise, Prix, Adrian Le Roy, Schein, Paetorius - todos do século XVI - este álbum é enriquecido com uma didática explanação sobre os instrumentos utilizados, ocupando a contracapa da edição.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
6
18/11/1990

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