O comércio das <<Americabas>> onde já foi a <<Cinelândia>>
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 25 de maio de 1980
Sem festas ou mesmo campanha publicitário, as Lojas Americanas - que fazem questão de colocar em destaque a frase << Empresa Brasileira de capital Aberto >> - já abriu ao público as lojas da galeria no Largo Frederico Faria de Oliveira, construída em pouco mais de um ano. A 8 de janeiro do ano passado, os cines Arlequim e Opera tinham suas últimas sessões devido à compra de vários imóveis pertencentes ao bilionário Husseim Hamdar pelo grupo das Lojas Americanas. A Fama Filmes recebeu pouco mais de Cr$ 4 milhões para deixar os cinemas, os inquilinos de um hotel ao lado docine Arlequim, uma floricultura e uma pastelaria também foram indenizados, e, em menos de dois meses, os edifícios vieram abaixo. Uma parte do prédio onde existe o Opera foi demolido, e, em ritmo intenso, as Lojas Americanas, instaladas desde 1962 na Rua Ermeliano de Leão, puderam completar, em forma de << L >>, sua espansão em Curitiba, com novas alas e departamentos - aumentando assim sua concorrência a outros grupos que atuam na mesma faixa (Prosdócimo, Muricy, Hermes Macedo etc).
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Husseim Hamdar, imigrante libanês que em menos de 20 anos fez uma das maiores fortunas do Paraná (hoje é proprietário de mais de 40 prédios do centro de Curitiba), havia adquirido os edifícios Heloísa e Carlos Monteiro - onde funcionavam os cines Ópera e Arlequim, do professor David carneiro, por Cr$ 18 milhões há 8 anos, Vendeu apenas 60% da área por Cr$ 40 milhões, e ficou com o edifício Heloisa, que até hoje permanece desocupado. O prefeito Jaime Lerner, tão logo assumiu o cargo e sentiu o esvaziamento que o fechamento dos cinemas provocou na outrora iluminada << Cinalândia >>, encarregou o arquiteto Abrão Assad, de elaborar um projeto de << reciclagem >> do edifício Heloisa. Muito bonito visual e esteticamente, com toques lembrando o Centro Georges Pompidou (escadas rolantes dentro de condutores transparentes, restaurantes, belvederes, bares, livrarias, etc), o projeto, infelizmente, esbarrou numa realidade: a falta de recursos para custeá-lo. Hamdar, que com a astúcia árabe que o fez se tornar um homem poderoso financeiramente, não se dispõe a aplicar seus bilhões em tão arriscado empreendimentos, preferindo, isto sim, fazer um grande magazin de sapatos, área que conhece como poucos - pois não só o enriqueceu, como a todos os seus irmãos. Mas sensível aos apelos do prefeito Lerner, retardou as obras de instalação do magazim no térreo do Ópera, que continua com grades fechadas, numa melancólica lembrança de um passado.
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O Pálacio Avenida, há 12 anos adquiriu pelo grupo Bamerindus da família Mehry, continua tendo na Fama Filmes, a solitária inquilina-resistência , explorando, enquanto a justiça garantir, o Cine Avenida, inaugurado há 51 anos passados. O Café Damasco, no térreo do edifício Heloisa, é o último ponto de encontro que resta na menor avenida - mas a mais conhecida da cidade, a Luiz Xavier, sede da temível << Boca Maldita >>. E, se movimentada e agitada durante o dia, à noite é melancólica o ambiente: raras pessoas, marginais a apenas a saudade daquilo que já foi o centro da cidade. Já nos cansamos de abordar o tema aqui - após uma série inicial intitulada << A Morte da Cinelândia Curitibana >> - mas não custa que fique, mais uma vez, o registro.
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