O Free Jazz no auditório da Pedreira. Não custa sonhar!
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 29 de julho de 1989
Não é o caso de criar falsas expectativas ou otimismo prematuro mas como é uma boa notícia, vamos a ela - com o pensamento positivo que, ao menos em 1990, possa ser realidade. Num almoço-reunião com a diretoria da Souza Cruz, o prefeito Jaime Lerner falou, com seu entusiasmo natural, das potencialidades do grande espaço que será viabilizado com a transformação da antiga pedreira próxima ao parque São Lourenço num auditório para milhares de pessoas. Com infra-estrutura possibilitada pelo município mas de execução exclusiva a cargo da iniciativa privada (e nem teria sentido, em época de penúria financeira, se carear recursos oficiais para obras em mais uma área de lazer) o projeto transpõe ao auditório para várias outras unidades, inclusive um parque botânico (para o qual o Boticário é o primeiro candidato a viabilização), de forma que, de forma equacionada e equilibrada a cidade venha a ter mais uma atração para inúmeros eventos.
Homens práticos, acostumados a enxergarem longe, os executivos da Souza Cruz mostraram-se sensíveis (embora bastante discretos, naturalmente) que com uma área que ofereça condições para grandes espetáculos ao ar livre, os super-espetáculos que a empresa tem patrocinado em algumas capitais possam ser, ao menos em parte, estendidos até nós - que até agora continuamos fora das produções artísticas de maior dimensão.
E uma das promoções mais importantes que acontecem graças a generosidade da Souza Cruz é o Free Jazz, que em suas etapas em São Paulo e Rio de Janeiro, um mês antes do início dos espetáculos, já começa a ter os ingressos esgotados.
Vendidos diretamente no Hotel Nacional (Rio) ou no Palace (São Paulo), entre outros pontos, os tickets para sete grandes noites de jazz caminham para caírem na mão de cambistas, já que o interesse pelos espetáculos programados amplia-se na proporção em que as entradas são consumidas. Muitos paranaenses que curtem jazz, a exemplo de anos passados, já estão cuidado de fazer suas reservas.
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Idealizado pelas irmãs Monique e Silvia Gallberg, da Dueto Produções - hoje consolidadas como realizadoras de produções do mais alto nível (Festival Carlton de Dança e o recém encerrado projeto Tucano, patrocinado pela Mesbla), o Free Jazz é o exemplo do evento que deu certo. O pessimismo que cercou as duas primeiras edições desapareceu e conquistando a credibilidade junto aos mais rigorosos (leia-se chatos e exigentes) artistas e, especialmente, seus "managers", em Nova Iorque ou outras metrópoles, a posição da Dueto, como promotora do evento, inverteu-se: ao invés de mendigar a participação de nomes importantes, agora se dá ao luxo de selecionar somente atrações que realmente interessam. Claro que as negociações são em dólar, atingindo muitas vezes cifras altíssimas mas a programação - desenvolvida com orientação de consultores bem informados e que sentem as tendências do público possibilita que os quadros artísticos mesclem artistas capazes de satisfazerem diferentes faixas de público - entre correntes mais ou menos avançadas do que se pode classificar de jazz, equilibrando-se também a participação de conjuntos e, especialmente, instrumentistas brasileiros que fazem uma música criativa.
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Até hoje, a Dueto nem considerou a idéia de estender o Free Jazz a outras capitais, pois só no Eixo Rio-São Paulo a infra-estrutura mobiliza centenas de pessoas e investimento altíssimo. Entretanto, dentro do mercado consumidor (e o interesse por jazz tem crescido nestes últimos anos, a partir do Rio-Montreaux Jazz Festival, que teve duas edições (1977/78) em São Paulo, é natural que haja a possibilidade de, havendo um sério embasamento empresarial e, especialmente, motivação promocional, possa se viabilizar algumas apresentações de solistas ou grupos que estejam no Rio / São Paulo, entre as datas livres de seus shows nas duas capitais. A proximidade de Curitiba, e, especialmente, um projeto com características especiais - como seria o marketing em torno de um auditório ao ar livre, como o que o arquiteto Abrão Assad está pensando para o da "Pedreira de São Lourenço" - poderiam ajudar. Mas, por enquanto, apenas um sonho de uma motivação maior. E quem quiser, ao menos este ano, vibrar ao vivo com o virtuosismo do guitarrista George Benson ou a voz perfeita de Joe Williams, e os músicos da Count Basie Orchestra, terá que ir mesmo ao Rio (Hotel Nacional, 22 a 28 de agosto) ou São Paulo (Palace, 25 a 30 de agosto).
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