O que é bom é visto pouco...
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 26 de maio de 1976
Nos últimos 6 dias, três filmes com amplas condições de entrar em qualquer lista dos 10 melhores do ano foram lançados no Cinema 1. Por que sonegar do público interessado em bom cinema filmes de tanta qualidade, em exibições [relâmpago]?
João aracheski, 38 anos, 23 de cinematografia, superintendente da Famafilmes do Paraná, com números na mão, justifica que os filmes agrupados no festival que hoje se encerra no Cinema 1, fracassara, em termos de bilheteria, em todo o País, e, se exibidos por uma semana, também trariam prejuízos. Assim, quem tem interesse neles procurou assistí-los. "Quem não se interessa, não se interessa mesmo", raciocina Aracheski.
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Nos dois primeiros dias do festival (5a e 6a feira) foi projetado um filme peruano, "A Muralha Verde", de Robles Godoy, de excelente nível. No sábado e domingo, houve o extraordinário "Vicente, Francisco, Paulo... e os outros", produção francesa de 1974, direção de Claude Sautet. Com um ótimo elenco - Yves Montand, Michel Piccoli, Serge Reggiani, Stephane Audran, uma pequena obra-prima sobre a amizade, o companheirismo, o dia a dia - numa temática universal. Na segunda e terça-feira, foi a vez do sensivelmente terno "Harry, o amigo de Tonto" (Harry & Tonto), que Paul Mazursky rodou em 1974 e que em 1975 valeu a Art Carney, ator de teatro, pouquíssimo conhecido no cinema, o Oscar de melhor intérprete. Um filme sociológico em termos de comportamento de um homem idoso, saudado com os maiores elogios pela crítica americana. Além de Art Carney, realmente numa criação inesquecível e merecedora da preimiação, interpretações extraordinárias de Ellen Burstyn, (que, por Alice Não Mora Mais Aqui", ganhou o Oscar de melhor atriz de 75) e, em curtas [seqüências], o Chief Dan George, como o velho índio e Arthur Hunnicutt como "Wade".
Hoje, último dia do festival, um filme israelense, produzido há 12 anos e que recebeu prêmios em vários festivais e concorreu inclusive ao Oscar de melhor time estrangeiro de 64: "Sallah, O Imigrante" (Sallah) de Ephraim Kishon. Pouco conhecido no Brasil, o cinema israelense vem se destacando nos últimos anos e o fato da [colônia] israelita se, sempre, uma das que mais prestigia os bons programas, está começando a animar as multinacionais empresas como a Fox, a distribuir suas produções. Este "Sallah" é interpretado por Topol, já conhecido por vários filmes que fez posteriormente, inclusive "O Violinista no Telhado". Outros intérpretes são desconhecidos.
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Ao menos os cinófilos da comunidade israelita irão assistir, hoje, as aventuras de Sallah. A propósito, no sábado, quem fugiu de outros convites sociais para assistir a "Vicente, Francisco, Paulo... e os outros" foi o circunspecto Maurício Schulmann, presidente do BNH.
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