O sax no Soul
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 19 de junho de 1988
Poucas palavras tiveram uma utilização tão ampla e diversificada quanto a expressão soul. De significado espiritual a ampla abrangência musical, o soul se espraia (e mesmo se confunde) dentro do jazz, por si só generoso e amplo em suas designações. Assim, complementando a magnífica coleção Atlantic, nos quais tivemos álbuns duplos dedicados ao Bebop, West Coast, Mainstream, Post Bop, Singers, Piano, Avant-Gard e Introspection, saiu o álbum duplo Soul - tão amplo e diversificado quanto poderia ser, mas com a criatividade de músicos extraordinários. Em registros que acompanham os anos 50/60, temos mostras de como o órgão pode ser jazzístico (Shirley Scote em "Think", com a participação do límpido sax de Stanley Turrentine e da guitarra de Eric Sale), os desenhos orientalisticamente criativos do sax Yusef Lateef em contrapartida aos pistões de Thad Jones, Jimmy Owens e Snooky Young em "Russel and Eliot"; o sax eletrificado de Eddie Harris em "Listem Heer", em duo com os teclados de Les MacCann, gravado no festival de jazz de Montreaux (1969).
Ao lado destes nomes já conhecidos, há também solistas menos familiares no Brasil, mas igualmente esplêndidos como o sax-tenor Johnny Griffin, Clarence Wheeler e Hank Crawford. Em quatro faixas, especialmente, destaques marcantes: Brother Jack McDuff no órgão em "Wade In The Water", a flauta de Herbie Mann em "Comin'Home Baby"; Ray Charles mostrando que além de pianista é também saxofonista em "How Long Blues" e o piano moderno de Joe Zawinul em "Money In The Pocket". Encerrando, King Curtis comanda um grupo de metais da pesada em "Memphis Soul Stew". Um álbum duplo com destaques especiais para os saxofonistas, reflexivos e - como a própria temática do título - espiritualista em suas pinturas sonoras.
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