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Aramis

Aqui, Jazz IV

Há três anos, num domingo, apresentou-se no auditório da Reitoria, o pianista Horace Silver a frente de um extraordinário quinteto. Produzido pela admirável Gaby Leib, o concerto foi, em nossa opinião, um dos grandes eventos jazzisticos já oferecidos aos curitibanos, mas, mesmo assim, foram raros os que souberam aplaudir os instrumentistas na dimensão que eles mereciam (houve mesmo pessoas que deixaram a sala durante o concerto). É que Horace Silver não era - como ainda não é - um nome popular no Brasil. ", o nosso dito "publicou inteligente" só sabe deslumbra-se com os nomes precedidos de intensa campanha promocional, numa comprovação de ignorância de pai e mãe. Enfim, deixa isso pra lá... O importante é que Horace Silver acaba de ter um de seus mais belos lps editados no Brasil: "Silver`n" Wood" (Blue Note/Copacabana, BNLP 121000, fevereiro/77). Aos 49 anos, Silver, nascido em Norwalk, Connecticut, foi durante muitos anos um dos principais "jazz messengers" do grupo de Art Blakey, até formar o seu próprio grupo, em 1956. Com "Señor Blues" e, principalmente "The Preacher", surgiu como compositor e, nos anos 60, seu prestigio cresceu nos meios jazzisticos - incluindo o Japão, que visitou pela primeira vez em 1961. Suas composições passaram a merecer diferentes gravações e o seu estilo personalíssimo, criativo, ao piano, fez escola. Apenas de uma imensa discografia lançada nos EUA pela Bule Note, no Brasil permanecia inédito em termos de discos. Felizmente, no gordo suplemento de 12 elepes com os quais a Copacabana decidiu entrar em nosso mercado jazzistico, foi selecionado este "Silver`n" Wood", onde acompanhado por Tom Harrel (pistão), Bob Berg (sax tenor), Ron Carter (baixo) e Al Foster (bateria), mais Buddy Collete e Fred Jackson (flauta), Jerome Richardson (sax soprano), Lanny Morgan (sax-alto), Frank Risolino (trombone) e Garnet Brown (trombone), Horace desenvolve duas longas peças: "The Tranquilizer Suite", em 4 movimentos e "The Process of creation Suite", também em quatro movimentos. Bem mais jovem do que Horace (ward Martin Tavares) Silver, o pianista Chick ( Amando Anthony) Corea ( Chelsea, Massachussets, 12 de junho de 1941) já teve, praticamente, toda sua produção fonográfica dos últimos anos lançada no Brasil. Estudando piano desde os seis anos, filho de um pianista e tendo iniciado-se profissionalmente com o guitarrista Mongo Santamaria, Chick Corea fez carreira rapidamente: em 1963 trabalhou com Willie Bobo, em 64/65 com Blue Mitchell e o flautista Herbie Mann. Influência por pianistas como Art Tatum, Hancock, McCoy Tyner, Bill Evans e Bud Powell, acrescentou uma informação da música latina e pitadas do pop mais refinado. O resultado é que caiu no agrado do jovem público, chegando as paradas de sucesso. Da aproximação com os brasileiros Airto Moreira e, principalmente, Flora Purim, surgiram registros antológicos, com o grupo "Light Forever". Tudo evolui rapidamente na música e hoje Chick Corea já esta em outra embora com a mesma limpeza de estilo. Dois elepes lançados pela Phonogram nos últimos meses, mostram diferentes trabalhos do pianista e compositor: em "The Leprechaun" ( Polydor, 2391217, outubro/76), é acompanhado por instrumentistas como Eddie Gomez (do trio de Bill Evans) no baixo, Joel Farrell no sax e flauta, e Bill Watrous no trombone. Já em "Children of Forever" (Polydor, 2310267, abril/77), embora não seja Chick Corea o principal solista, é o responsável pelos arranjos das quatros músicas do baixista Stanley Clark, presente também em todas as faixas. Em cada um, as formações instrumentais variavam, possibilitando inclusive amplos destaques aos vocais de Dee Dee Bridgewater, Andy Bey. O guitarrista Pat Martino, o flautista Arthur Webb, Lenny White na percussão, Stanley e Corea, naturalmente, tornam marcante todas as faixas - sendo que a última, "Sea Journey", música de Chick e letra de Neville Potter, com nada menos que 16: 25', em si, só, já vale a aquisição deste marcante elepe, gravado há 4 anos mas atualíssimo. Através da união do pianista e vocalista Les McCann e do sax-tenorista Eddie Harris, no festival de jazz de Montreux, Suiça (junho, 1969) - registrado em dois LPs ("Swiss Movement" e "Second Movement", editados no Brasil pela Phonogram, em 1970/71), o público brasileiro ficou conhecendo melhor estes dois criativos instrumentistas. E o nome de McCann passou a estar unido a Eddie Harris, embora desenvolveram, naturalmente, carreiras autonomas. Agora, simultaneamente, temos a oportunidade de ouvi-los em álbuns como solistas, isolados. Les McCann (Leslie Coleman), nascido em Lexington, Ly, 23 de setembro de 1935), é um pianista que afirma, sempre, ter aprendido os teclados "cantados numa igreja, no coral, no coral" ("quando eu tinha seis anos, o meu professor de piano faleceu após ter dado poucas aulas"). No colégio estudou tuba e bateria e quando fazia o serviço militar, na Marinha, em 1956, acabou vencendo um concurso de canho. Seu primeiro trabalho profissional foi com o Purple Union, em Hollywood e depois cantou com Gene McDaniels e fazendo, em abril de 1960, o seu primeiro lp ("The Truth", Pacific Jazz). A partir de 1962, sua reputação cresceu, principalmente ao trabalhas com Ray Charles, Count Bassie e, excursionando a Europa, em 1963, com Zoot Sims e Charles Byrd. Dono de um ótimo estilo ao piano - com revelável influência de Oscar Peterson, é também um cantor brilhante, o que podemos sentir nas II faixas de "River High, River Low" (Atlantic Records/WEA Discos, março/77), exclusivamente com músicas próprias, e onde é acompanhado por um novo grupo de instrumentistas: Miroslaw Kudyowski na guitarra, Jimmy Rowser no baixo e Harold Davis na bateria. Eddie Harris (Chicago, 20 de outubro de 1934), que além de sax-tenor, executa também piano e vibrafone - e como McCann é compositor de boa voltagem. Sua formação musical também originou-se em coral religioso ( no caso de uma Igreja Batista) e também teve uma experiência musical no exercício: serviu na França e Alemanha, integrando a Orquestra Sinfônica da Sétima Frota. De volta a Chicago, teve uma boa chance ao ser convocado pelo compositor Ernest Cold para participar da trilha sonora do filme "Exodus", que se tornou um êxito internacional. E nos anos 60, sua carreira deslanchou - gravado vários elepes e participando de festivais importantes, como Montreaux, onde encontrou-se com Les McCann. Agora, "That Is Why You`re Overwight" (Atlantic/WEA Discos, 20.009, dezembro -/76) é uma oportunidade de ouvi-lo em nove composições próprias, gravadas em sessões diferentes com instrumentistas altamente competentes. Nos parece dos mais oportunos, a possibilidade de 7 anos depois de aqui chegar o primeiro lp de McCann Harris, este lançamento dos dois instrumentistas-compositores, em álbuns solos. John McLaughin, guitarrista inglês, 35 anos, é, sem dúvida o instrumentista da década. Iniciando sua carreira com um grupo de jazz (Graham Bond Organisation), em pouco procurava, ao lado de Dinger Baker e Jack Bruce, entre outras formas mais elétricas de comunicação. Em 1968 participava do Lifetine, o grupo do baterista Tony Willians. Antes de criar a sua Mahavishny Orchestra, em 1971, gravou o seu primeiro lp-solo, "Extrapolations", curiosamente só há pouco (outubro/76), após toda sua consagração, editado no Brasil pela Phonogram. Neste lp, ao lado de John Surman no sax soprano e baritorio e BranÓdges no baixo e Tony Oxley, na bateria, com um repertório próprio, McLaughlin, desenvolvia as vanguardistas idéias, que consagraria seu Mahavishny Orquestra, na primeira metade desta década.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Jornal da Música
1
01/05/1977

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