Soul
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 30 de julho de 1976
Em reportagem que ocupou cinco páginas do "Caderno B" do "Jornal do Brasil" do dia 17 de julho de 1976, a jornalista Lena Frias fez uma impressionante análise da transformação que está ocorrendo junto a milhões de jovens da Zona Norte do Rio de Janeiro. Formando o chamado "Soul Power", uma imensa faixa de jovens negros estão adotando os costumes e a música "Soul", desprezando o samba e as outras formas de manifestações artísticas brasileiras, preferindo James Brown a Paulinho da Viola, numa total mostra de colonialismo cultural. O tema é amplo e oferece mil interpretações - além de justificar uma justa preocupação por quem se interessa pela preservação da cultura nacional. Mas aqui faremos o registro apenas para informar que, com esta nova frente de entreguismo musical, é natural que as gravadoras passem a editar cada vez mais discos - lps e compactos - com músicas "soul" - estas também cada vez mais descaracterizadas e comercializadas. A Top Tap e a Tapecar, no Rio, tem um catálogo imenso nesta linha, mas agora a paulista Chantecler também entra na faixa com "Hot Soul Album" (Pye Records, 4-14-404-055, junho/76), onde reuniu diferentes intérpretes e grupos - Jimmy James and the vagabonds, Hollywood freeway, New Foundations, Carl Douglas, Johny Wakelin, Ofanchi , Jimmy Helms, Jamor Lance e Normo King & The Javels, para oferecer um repertório "quente" aos [crioulos] (e brancos) que cada vez mais estão mais "curtindo" o americano "Soul" - muitas vezes sem saber, sequer, o que signifique esta palavra e aceitando tudo que lhe oferecem embalado neste ritmo. As gravadoras estão na sua função comercial ao fornecerem esta música, mas a repercussão que a mesma vem alcançando junto a uma faixa de baixo poder aquisitivo mas grande pretensão de evolução social, é sem dúvida um campo que deve fascinar mais sociólogos do que analistas musicais. Quase diríamos um caso de segurança nacional.
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