Ópera, no jeitinho brasileiro...
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 07 de setembro de 1986
- Quem tem medo da Ópera?
Há 15 anos, um dos mais inteligentes produtores fonográficos do Brasil, Maurício Quadrio, aceitava o desafio e, passou a editar óperas completas, em álbuns nos quais sem abrir a mão da qualidade técnico-artística, das informações básicas, da íntegra dos libretos, havia também uma adequação a nossa realidade econômica. O projeto funcionou e se hoje Quadrio está na CBS, em outros projetos (igualmente excelentes, tanto no erudito como no jazz), a Polygram continua a oferecer, regularmente, preciosas edições de óperas - um gênero musical classe A, com um público tão fiel quanto exigente. Geralmente formado por pessoas acima dos 30/40 anos, com boa base cultural e, sobretudo, alto poder aquisitivo, os chamados "operários" importam o que de melhor existe, buscam ter múltiplas interpretações de uma mesma ópera e, nos últimos anos, acrescentaram dois outros sofisticados processos para curtirem seu gosto: o vídeo-tape e, especialmente, o compact-disco, que já dispõe de um razoável número de óperas a disposição dos aficcionados.
Grande parte deste público também faz qualquer sacrifício para assistir as boas encenações operísticas - seja no municipal no Rio de Janeiro, ou internacionalmente, em Nova Iorque, Milão, Roma, Paris ou Londres. Enfim, a ópera tem um público certo e seguro. Mas ainda reduzido e, constituindo, uma elite fechada, exigente e mesmo, em muitos casos discriminatória a outros gêneros.
Portanto, é no mínimo interessante, quando se tentam aproximações de obras populares capazes de se aproximar da ópera, ou de sua prima mais acessível, a opereta. Para os cultores elitistas, preconceituosos, do bel-canto, tais iniciativas são intoleráveis. Mas em termos de Brasil, onde há tanto a fazer em termos de elevar o nível musical da população, achamos que são propostas merecedoras de atenção. Se jamais entusiasmarão grandes apreciadores da ópera tradicional - como Humberto Lavalle ou Joel Mendes, talvez sejam aceitos por experts em óperas que sabem apreciar também o popular.
Dois exemplos destas brincadeiras operísticas estão na praça, produzidas pelo Estúdio Eldorado, de São Paulo: "O Guarani", numa adaptação e interpretação do Quinteto Violado e "A Noiva do Condutor", opereta inédita de Noel rosa, que só agora, 51 anos após ter sido escrita, sem qualquer pretensão, ganhou uma gravação historicamente indispensável.
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