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Aramis

Os homens & os livros

Há alguns anos, o jornalista Alberto Dines. ex-editor do << Jornal do Brasil >>, e cuja << Revista dos Jornais >>, na << Folha de São Paulo >> marcou uma etapa na imprensa nacional, nos últimos anos - e agora passou a ocupar a página 3 do semanário << O Pasquim >>, com seu << Jornal da Cesta >> - publicou um livro básico sobre a nossa profissão intitulado << O Papel do Jornal >>. Agora, outro veterano jornalista - e atualmente deputado federal. Israel Dias Novaes, lança um livro de titulo quase idêntico: << Papel de Jornal >> (edição da Revista de Poesia e Critica, 1980, 121 páginas). Advogado e jornalista atuante desde os anos 30. Israel Novaes reuniu neste volume - impresso em papel de jornal, mas com boa apresentação - textos originalmente publicados em diferentes épocas nos jornais << Correio Paulistano >>, << Diário de São Paulo >>, << Tribuna da Imprensa >>, << Correio Brasiliense >>, << Jornal de Brasília >>, << Diário Carioca >>, << Jornal da Cidade >>, além da << Revista de Poesia e Crítica >>. Explica o autor que << não se trata de seleção, mas do alinhamento heterogêneo daquilo que casualmente encontrou quem nunca antes pensara em lhe emprestar a relativa perenidade do livro >>. Trata-se, entretanto, de um volume importante como depoimento de um jornalista atuante e também político independe e corajoso - que na vida pública, desde o Estado Novo, já ocupou cargos públicos, no Executivo paulista e, em eleições diretas, exerceu mandatos diversos. Tendo convivido, profissionalmente, com personalidades como o romancista Ferreira de Castro, político Haya de La Torre, poeta Pablo Neruda, entre tantos outros, Israel Dias Novaes é, assim. uma pessoa que sempre tem algo a dizer sobre uma vida vivida intensamente. Como diz Domingos carvalho da Silva. na apresentação da obra, << há nesta página, em boa parte excritas no ritmo da guia da linotipo, muito de autobiografia, de livro de memórias. Nem foi por acaso que, ainda jovem, chegou Israel Dias Novaes a anunciar o título de um diário, nunca escrito, << Minhas Páginas de Amil>. A vida trepidante e polêmica do jornalista e do parlamentar não lhe consentiu, porém, as longas horas tranqüilas em que o esteta de Genebra pôde dedicar-se ao seu << journal intime >>. É o bastante que Israel - testemunha de tantos fatos que envolveram figuras das mais significativas - nos dê seu depoimento sobre os fatos e os homens. E ele o dá neste << Papel de Jornal >>, com uma sobriedade irisada apenas pela sua ironia quase subliminar (ou instintiva), com uma elegância que lhe arredonda as aretas da alma polêmica, com uma neutralidade que valeu pela absolvição das culpas próprias e dos seus antigos adversários. Livro de jornalista que sabe ser igualmente escritor - de estilo claro e narração precisa e sóbria. Todas as figuras por ele estudadas são vistas com simpatia., mesmo aquelas que, como democrata militante, teve de combater na juventude, por apoiarem o Estado Novo. Dois poetas de posição polarmente opostas - o extremado Neruda e o ultraburguês Guilherme de Almeida - são estudados e discutidos com igual compreensão e afetividade. O saudoso João Sampaio, perrepista dos velhos tempos, considerado pelos adversários um << Soba de Piracicaba >> e expoente (em São Paulo) da República Velha, tem neste livro o relato de suas virtudes humanas e cívicas. Para os vivos, << Papel de Jornal >> é uma lição de cordialidade. Para os mortos - Milton Campos, Faria Lima. Pedro de Toledo, Monsenhor Torelli e outros já aqui citados - um florilégio de dísticos de polida nobreza >>. Quando a professora Cassiana Lícia Lacerda Carolo propôs ao secretário da Cultura e Esporte a reedição, fac-similada, de jornais e periódicos importantes da história do Paraná, não poderia ter uma iniciativa das mais felizes. A publicação do primeiro ano de << O Dezenove de dezembro e dos 21 números da revista << A Galeria Ilustrada >> (1888/89), lançados ainda no ano passado, finalmente mostraram um passo do Paraná na área editorial - a exemplo de outros Estudos, onde órgãos públicos e empresas privadas (como a Metal Leve, de São Paulo) vêm reeditando, também em edições fac-similadas, as publicações marcantes no processo da vida cultural. Muito contou para que saíssem os dois primeiros volumes, não só o entusiasmo de Cassiana e dos demais membros do conselho editorial da secretaria da Cultura, mas, em termos práticos, o apoio financeiro do banco do Estado do Paraná que deverá ter continuidade para novas edições. E o presidente do conglomerado Banestado, Jucundino da Silva Furtado, que entendeu a importância da iniciativa da Secretaria da Cultura, recebeu duas cartas de nomes de expressão nacional, cumprimentado-o pela iniciativa e que o deixaram entusiasmado. A primeira é do poeta Carlos Drummond de Andrade, que agradecendo a coleção fac-similada de << A Galeria Ilustrada >>, diz << trata-se de serviço cultural de grande significado: põe diante de nossos olhos um jornal litografado que há quase um século refletia o ambiente intelectual, a vida pública e o desenvolvimento econômico da província paranaenses, testemunhando de maneira positiva a indole civilizadora de sua gente. Muito me deliciei e muito aprendi folheando essas páginas salvas do esquecimento e da destruição por uma iniciativa meritória, digna de ser imitada em outros Estados >>. Já o presidente da Academia Brasileira de Letras Austragesilo de Athayde, classificou a edição de << A Galeria Paranaense >> de << uma dádiva preciosa que vem enriquecer minha biblioteca, ao mesmo tempo que dá testemunho do seu esforço em favor da cultura brasileira >>. E, na mesma carta. Austragésilo de Athayde convidou Jucundino Furtado para que << numa de suas próximas visitas ao Rio viesse ver-me na academia, sendo uma quinta-feira o dia mais indicado, porque então tomaria chá conosco e receberia pessoalmente os nossos agradecimentos >>. Jucundino, que já foi secretário da Educação e Cultura e secretário-geral da Reitoria da Universidade Federal do Paraná, com livros publicados, já está programando numa de suas próximas viagens ao Rio, toda uma tarde de quinta-feira para tomar chá com biscoitos, em companhia dos imortais da academia Brasileira de Letras. Longe das badalações sociais, num trabalho sério e evitando mesmo perder tempo (cada vez mais preciso) - ao ponto de, a exemplo de Guimarães Rosa, preferiu falar ao telefone do que manter contactos pessoais o escritor e editor Werner Zotz vem desenvolvendo um esforço dos mais louváveis em termos editoriais no Paraná. No ano passado, através da Beija Flor, publicou um punhado de livros, que, a custa de seu bom relacionamento conseguiu colocar nas livrarias de todo o País. Agora, fundando com um grupo de jornalistas e escritores paranaenses a CooEditora. Zotz lança mais seis livros, que tiveram sua apresentação oficial há uma semana na Biblioteca Pública e agora estão lnas livrarias. Com estes, chegam a 14 títulos que a CooEditora conseguiu publicar em menos de seis meses - um número expressivo considerando as dificuldades do mercado. Saíram agora << Filhos de Olorum >>, contos e cantos de candomblé de Raul Longo, 29 anos, paulista com vivências nordestinas, hoje vivendo em Campo Grande, Mato Grosso do Sul << Jornada >>, livro de estréia de contos de Leopoldo Comitti, paranaense de Rio Negro e que, anteriormente, participou da antologia << Os desconhecidos >> e tem um novo livro para sair. << As manhas de Filo >>, destinado às crianças; << A Cidade Inventada >>, de Cristóvão Tezza, 28 anos, catarinenses de lages, 16 anos do Paraná, e que em 1964 já escrevia uma peça. << Monólogo do Amanhã >> e tinha em Wilson Rio Appa uma grande influência. Perambulou pela Europa, foi relojoeiro em Antonina e até professor no Acre. No ano passado, pela Brasiliense, publicou seu romance << Gran Circo das Américas >>, << A Cidade Inventada >>, há muito vinha sendo prometida. De Gilson Rio Appa, 55 anos, paulista há mais de 30 anos no Paraná, ex-redator de O ESTADO (onde publicou, em folhetim, seu << Diário do Motim >>), após << Os Vivos e os Mortos >> (tetratologia. CooEditora, 1980), apresenta agora o primeiro volume de seu << Manifesto do Povo >> - que se acrescenta a uma obra já numerosa, iniciada com << Um Menino Contemplava o Rio >> (1959) e que tem percorrido os mais diversos gêneros: contos, romances, literatura infantil e teatro, aliás uma de suas maiores paixões. Amante da natureza, rebelde em suas posições, rompeu com a cultura oficial explicando que << há mais de 20 anos assumi minha marginalidade vivendo com o povo. E ser marginal ante a cultura urbana é conduzir-se em função das exigências da vanguarda da história >>. Os pilíticos também estão prestigiando a CooEditora: afora Alencar Furtado, outro oposicionista que preferiu a editora de Werner Zotz foi Almino Afonso ex-deputado federal e ex-ministro do Trabalho, 12 anos de exílio, um dos fundadores do PMDB: << Espaço/Entre Fárpas >>, reúne desde a entrevista de Almino, na revista << Verus >> (fevereiro/78) até vários artigos publicados na << Folha de São Paulo >>, através dos quais procurou traçar o perfil do partido popular no qual acredita possa ser o PMDB. Finalmente, neste pacote de lançamentos da CooEditora, sai << Nuvens de Assolação >>, de Newton Staller de Sosa, 51 anos. Advogado e jornalista, hoje diretor do Setor de Ciências Jurídicas e Comunicação da Universidade Católica, Newton participou intensamente da vida profissional, sendo em 1964, presidente da Federação Nacional dos Jornalistas. Desde 1969 vem publicando uma série de livros - << Heróis do Cotidiano >>, << O Anarquismo da Colônia Cecília >> ( que foi base para o roteiro do filme << Cecílie>., de Louis Comolli, rodado em 1974, na França, e nunca exibido no Brasil). << Os Telhados de Pilar >> e << Grades Sem Honra >>. Agora, após este << Nuvens de Assolação >> - onde busca a revitalização da cultura, nos aspectos característicos de um povo, em compromisso direto com seu tempo - Newton promete para este semestre outro livro dos mais atuais: << O Mundo de Bakum >>, análise biográfica e crítica da obra de Miguel Bakun (1909-1963), homenageado ontem pela Secretaria da Cultura e do Esporte com a retrospectiva de sua obra que inaugurou a sala com seu nome, na Biblioteca Pública do Paraná. FOTO LEGENDA 1- Newtn Stadler de Souza FOTO LEGENDA 2- Israel Dias Novaes Papel de Jornal
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
22/05/1980

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