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Aramis

Os judeus paranaenses (I)

Quando o Estatuto do Estrangeiro provoca necessárias polêmicas, adquire maior significado o trabalho que o Departamento de História da Universidade Federal do Paraná vem desenvolvendo há alguns anos, para a elaboração da história demográfica do Estado. Especialmente através das dissertações de mestrados dos alunos do seu curso de pós-graduação, considerado um dos "centros de excelência" no ensino superior brasileiro, o Departamento de História vem completando lacunas de nossa documentação. Em 13 de junho último, a professora Regina Rottenberg Gouveia defendeu sua tese de mestrado sobre a Comunidade Judaica em Curitiba (1889-1970), merecendo nota máxima da banca examinadora, formada pelos professores Altiva Pilattin Balhana, Henrique Rattner e irmã Marta Maria. Em 173 páginas, repletas de mapas, gráficos e documentos, Regina Gouvêa sintetizou cinco anos de pesquisas sobre um assunto a respeito do qual inexistia qualquer estudo: a presença dos judeus em Curitiba. Como tantos outros pesquisadores, o primeiro problema com a qual a jovem mestra se defrontou foi a falta de fontes, o que, inclusive, a levou a reiniciar por 3 vezes o trabalho, uma vez que a proporção que se embrenhava na coleta de dados fazia descobertas tão importantes que obrigavam a reestruturar sua metodologia. O resultado final é um trabalho claro, didático de leitura das mais agradáveis, e que, a exemplo de outras teses defendidas por professores do Departamento de História da UFP, aguarda uma merecida publicação em livro. Capaz de interessar a milhares de pessoas em todo o Brasil. Xxx Regina Rotenberg Gouvêa, filha de um casal de judeus-poloneses - Max (1901-1975) e Clara Paciornick Rottenberg (1905-1979), formada em História e Geografia pela Universidade Federal do Paraná, turma de 1960, casada com o publicitário e empresário Moacir Gouvea (não judeu), dois filhos, procurou examinar a comunidade judaica em todos os seus aspectos. Assim, pesquisou junto as famílias, nos (incompletos) arquivos do Centro Israelita do Paraná, Escola Israelita Brasileira Salomão Guelmann, cemitérios israelitas, lançando mão ainda de 99 obras de referência, entre publicações do Brasil e Exterior. E o trabalho a entusiasmou, de forma que já está empenhada agora em estudar os últimos 10 anos, quando fatos novos vieram se acrescentar a presença da comunidade judaica em Curitiba. Como ela própria diz na introdução de sua tese: "Foi estabelecido inicialmente 1970 como o ano baliza para delimitar o fim do período a se estudado. Porém, foi necessário estender a pesquisa pela década de 1970 com a finalidade de melhor compreender a comunidade judaica no período determinado. Seria no decorrer dessa década que ocorreriam mudanças substanciais na estrutura da comunidade, que se fazem sentir basicamente nos aspectos educacionais e na organização religiosa. É no decorrer de 1970 que se consolida a iniciativa da criação, em 1969, do ginásio israelita anexo à escola primária. Esta ampliação aparece como meio de manter por mais alguns anos as crianças ligadas à educação judaica. Será também nessa mesma década (1974) que se dará a instalação de um Rabinado em "Curitiba". Xxx Dentro de uma comunidade reduzida hoje com cerca de 600 famílias, não ultrapassando a 2.500 pessoas menos de 0,05% da população, não deixa de ser impressionante a presença ativa dos judeus nos vários setores do Estado. Em 1940, a participação da população da comunidade judaica era 0,83% em Curitiba e 0,09% no Paraná, decrescendo para 0,75%, 0,6% em 1950; 0,43%/0,04% em 1060 e atingindo 0,29/0,02% em 1970. Em São Paulo, onde é bem grande a comunidade israelita, também proporcionalmente é insignificante: em 1968, segundo pesquisa de Henrique Rattner ("Tradição e Mudança", editora Atica, 1977) não chegava a 1%. Mas o destaque tem a comunidade a começar pelo fato da Prefeitura de Curitiba, ser ocupada há 9 anos por filhos de judeus - Jaime Lerner-Saul Raiz - Jaime Lerner, é uma prova cabal da abertura da sociedade, como conclui Regina, no último parágrafo de seu estudo: "Finalmente, a trajetória da comunidade judaica de Curitiba se orientou no sentido de uma ampla integração na sociedade de adoção. Em seu conjunto, seus membros vivenciaram e participaram ativamente de todos os aspectos da sociedade curitibana, sem deixar, todavia, sua condição de judeus". Xxx Regina Gouveia salienta que "embora quantitativamente pouyco representativo, o judeu se faz notar na sociedade mais ampla. Possivelmente isso se deve, de um lado, à posição de destaque da vida social e econômica; e, de outro, à tradição religiosa e cultural. Parece que sua notoriedade deriva principalmente das condições econômicas que desfruta e, nesse sentido, qualquer grupo, cuja maioria de seus membros esteja localizada entre as camadas sociais mais altas, também se sobressai. O que talvez possa se caracterizar como uma particularidade da comunidade judaica de Curitiba é a sua estrutura populacional, que desde 1950 traduz mais a estrutura da população dos países desenvolvidos do que o das nações emergentes". O aumento da população judaica em Curitiba fez com que passasse de 914 pessoas em 1930 para 1.567 em 1965. No quinquênio 1965/69, há uma interrupção nesse crescimento, uma vez que se constata um decréscimo em números absolutos (41 pessoas) ficando em 1970 com o contingente populacional de 1.526. Entretanto, mesmo não havendo dados estatísticos exatos, calcula-se hoje em 600 famílias judias em Curitiba e se tendo a média de 4 a 5 pessoas por família, se obtém um número de 2.500 pessoas formando a comunidade. Pequena numericamente, mas influente em vários e importantes setores. Xxx No segundo capítulo de seu estudo, Regina Rottenberg Gouvea estuda a questão da identidade do judeu, recorrendo a vários aspectos. Salienta, com segurança, que são muitas as tentativas de identificação do judeu como uma religião, uma raça, uma nacionalidade, um povo ou mesmo por características profissionais aliadas a pretensos traços psicológicos, como a teoria vulgar de sua natural aptidão para o comércio. Dentro deste capítulo, Regina estuda inclusive o aspecto da religiosidade, com base especialmente em 570 fichas, com todos os itens preenchidos, que basearam seu trabalho. Por exemplo, confirmou-se que aumenta o número de judeus que só frequentam o templo uma vez por ano, por ocasião do ano novo e do dia da expiação. Assim, em 1930, 26,2% compareciam sempre a Sinagoga, número que caia em 13,4% em 1945 e para apenas 2,4% em 1970. Em compensação a presença nas festas do "Yom Kipur" e "Rosh Hashaná", tem uma frequência em escalada: 67,5% em 1930; 79,4% em 1945 e 90,1% em 1970. Em 1930, apenas 6,3% admitia não frequentar a sinagoga. Cinquenta anos depois, houve uma elevação de 7,5%. As rezas do "shabat" também são cada vez mais raras. Em 1945, a maioria absoluta das mulheres judias de Curitiba já não acendia velas no enterdecer das sextas-feiras. Em 1970, 53,7% admitiam nunca acender velas e apenas 36,6% mantinham a tradição, permanecendo 9,7% em "às vezes". O mesmo se dá em relação aos cuidados alimentares prescritos pela religião: o abandono das comidas "kasher" também é constante; em 1930, 42,6% nunca comiam "kasher" ; enquanto que hoje este número sobe a 85,4%. Em compensação, na resposta "sempre" a esta pergunta, de 27,0% em 1930 caía para apenas 2,4% em 1979. "Kasher", do hebraico, significa "certo ou de acordo". Além do abate e limpeza das vísceras de animais segundo a Bíblia, são excluidos certos alimentos considerados impuros. O leite e a carne se excluem mutuamente, desde o ato de preparar até a sua ingestão. Com base em suas pesquisas, somadas as respostas do questionário do que significa "ser judeu em Curitiba", Regina Gouveia conclui: "O judeu é aquele que se identifica como tal, ou seja, ser judeu é uma opção pessoal, ou ainda, aquele que se identifica como tal independente das considerações de terceiros". Xxx De acordo com o que Regina Rottenberg Gouveia pode concluir em 5 anos de pesquisas, os primeiros judeus a se instalarem no Paraná, em 1880, vieram da Galícia Austríaca numa leva de imigrantes não judeus daquelaregião. Eram os 5 homens e as 3 mulheres da família Flaks e os 2 irmãos Rosenmann, que se estabeleceram na recém-criada colônia agrícola polonesa de Tomás Coelho (hoje Barigui). Os judeus não eram exatamente camponeses, mas tinham experiência adquirida, ainda na Europa, na intermediação comercial de produtos agrícolas, em especial os cereais, o que facilitou suas relações com os agricultores de Tomás Coelho. Os Flaks e Max Rosenmann, que eram identificados e respeitados como judeus, organizaram um armazém de secos e molhados, onde comercializavam os gêneros agrícolas dos camponeses. A transferência para o centro urbano de Curitiba dar-se-ia alguns anos mais tarde. Os Flaks retornaram à Europa com a finalidade de casar os filhos, única forma que julgaram conveniente para evitar que seus filhos casassem com não-judeus. Max Rosenmann - avô dos empresários Max (neto), Manoel e Gilberto, donos hoje de uma das maiores cadeias de joalheiros do País - saiu de Tomás Coelho e instalou um moinho a vapor no centro da cidade. E Max Rosenmann se tornou um líder da comunidade, que começou a crescer. Como elemento congregador para a preservação da identidade étnica do grupo, Rosenmann organizava ao seu redor a prática das principais cerimônias do rito judaico, como o "Shabat", o "Seder", o "Yom Kipur" e o "Rosh Hashana". Também cuidava da realização dos rituais referentes ao nascimento e à morte. As práticas comunais seriam institucionalizadas a partir de 1913, quando o grupo já era constituido por 12 famílias e mais 17 homens, alguns solteiros e outros que haviam chegado sem as respectivas esposas e demais parentes. Nesse ano, fundou-se a União Israelita do Paraná, que ocupou, no princípio, uma casa alugada à Rua Graciosa (atual Cândido de Abreu). Mais tarde, com a adesão de novos imigrantes, a entidade procurou uma sede mais ampla e central - na Rua Cruz Machado, 45. Isso em 1938. Durante a I Guerra Mundial (1914/1918) o fluxo imigratório foi interrompido e a comunidade judaica ainda viu partirem vários de seus membros, que se dirigiam às capitais mais desenvolvidas do País, São Paulo principalmente, à procura de melhores oportunidades econômicas. E para ajudar aos judeus vítimas do conflito, foi fundado um Comitê de Socorro, que fez a união Israelita perder a exclusividade no trato dos problemas da comunidade. Em 1917 foi formada a organização Shelom Sion, voltada para uma questão até então pouco considerada pelo grupo, o sionismo (ou seja, o movimento para obtenção de um Estado Judeu). Em 1920 fundiram-se essas instituições no Centro Israelita do paraná, que, mais tarde, durante o Estado Novo, mudou seu nome para Centro Mosaico, voltando a chamar-se Centro Israelita do Paraná em 1955.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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Tablóide
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17/08/1980
Bom sou uma pessoa que deixei de acreditar em algumas coisas na vida, e preciso muito me encontrar, por isso venho fazer um pedido, gostaria muito de poder me converter de corpo e alma a o Judaismo, moro em Curitiba, não sei se tem comunidade aqui perto de minha casa estou no msn todo dia para poder trocar informação com algum judeu ou judia cassioer@hotmail.com

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