Os mestres do piano
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 04 de novembro de 1984
Um disco absolutamente indispensável a quem tem o mínimo interesse pelo jazz e pela música contemporânea: "Masters of The Modern Piano" (1955-1966), incluido na coleção de álbuns duplos da Verve Records/Polygram. Uma coletânea com seis pianistas de estilos distintos, abrangendo registros fonográficos realizados num período de nove anos.
Três dentre os focalizados - Rud Powell, Bill Evans e Cecil Taylor, são chefes de escola de influência incontestável, enquanto os demais - Mary Lou Williams, Wynton Kelly e Paul Bley - são respeitados pelas contribuições que trouxeram ao piano-jazz. A música desses artistas oferece um panorama de seus estilos, com variedade suficiente para reter o interesse do ouvinte.
Bud (Earl) Powell (Nova Iorque, 27/9/1924) - foi um inovador, transpondo para o teclado o idioma da escola "bepo". A sua influência foi uma das mais marcantes do jazz; quase todos os pianistas surgidos entre a segunda metade dos anos 40 e a década de 70 lhe devem alguma coisa. Sem dúvida, ao lado de Hines e Art Tatum foi o mais influente de todos os tempos. Acompanhado por George Duvivier (baixo) e Art Taylor (bateria) toca com a estonteante facilidade que caracteriza a sua execução em "Bean And The Boys", imaginativo especialmente em "East of the Sun" e "Willow Groove", e de um lirismo devastador em "Stairway to the stars".
Na época em que gravou as faixas deste álbum (festival de jazz de Newport, 6 de julho de 1975), Cecil Taylor (Nova Iorque, 15/3/1933) ainda era muito influenciado por Theolonious Monk, mas revelava algumas características que expandiria em direção à vanguarda. Com um quarteto em que atua Steve Lacy (sax soprano), Cecil interpreta três números, dos quais "Johnny Come Lately" demonstra sua concepção futurística.
Mary Lou Williams (1910-1981), que se apresentou de maneira brilhante, há 6 anos, no II Festival de Jazz de São Paulo, participa de duas interpretações como convidada da orquestra de Dizzy Gillespie, também durante o festival de Newport - só que do ano de 1961. "Zodiac Suite", de sua autoria, uma fascinante composição em três movimentos e a conhecida "Carioca" que "recebe um tratamento distinto em termos de dinâmica e força rítmica" como acentuou José Domingos Raffaelli.
Paulo Bley (Montreal, Canadá, 10/11/1932), pouco conhecido no Brasil, mas que trabalhou em importantes grupos nos anos 50 - Charles Mingus, Ornette Colemann, Don Cherry, integrava o trio do clarinetista Jimmy Giuffre, quando gravou, em agosto de 1961, "Carla" Ida sua autoria), "Whirr" (de Giuffre) e (Ietus" - de Carla Bley, sua esposa na época e hoje uma pianista consagrada, infelizmente inédita em sua fonografia no Brasil. O trio revela uma interação quase constante e Paul estava prestes a encontrar o seu próprio estilo.
Com seu fraseado seguro, extrovertido e "swing" incessante, Wynton Kelly (Brooklyn, Nova Iorque, 2/12/1931, - Toronto, Canadá, 2/4/1971), outro pianista de jazz pouco conhecido no Brasil, aompanhado por Paulo Chambers (contrabaixo) e Jimmy Cobb (bateria), numa gravação feita no Half Note, em junho de 1965, apresenta "Blues On Purpose", com vitalidade e inspiração.
Finalmente, Bill Evans (1929-1979), um dos músicos mais influentes do seu instrumento encerra esta coletânea. Com seu fraseado de rara beleza melódica, reestruturando harmonicamente cada canção, com sua patriarcal consistência transformava cada uma das suas improvisações em aventura musical de excepcional qualidade.
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