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Aramis

Os sonhos de quem quer trabalhar com imagens

Vitória - Em cada cabeça de cineasta um sonho: conseguir chegar um dia ao longa-metragem. Entre o sonho e a realidade, uma longa distância - aumentada ainda mais nos últimos anos em que a produção do cinema brasileiro que já chegou a ultrapassar 100 títulos/ano caiu para níveis quase zero. Mesmo antes da operação desmonte dos organismos culturais empreendida pelo presidente Fernando Collor, em março do ano passado, a Embrafilme já vinha capengando, embora com recursos que, até hoje, estão bloqueados no valor de aproximadamente US$ 25 milhões - o que dentro dos padrões de miserabilidade com que são realizados filmes no Brasil daria para financiar mais de 40 projetos - entre longas, curtas e médias. Entre as sessões do I Festival Nacional de Vídeo de Vitória - iniciado na última terça-feira e que se encerra no domingo - mais uma vez repete-se o papo comum em eventos como este: as dificuldades de fazer cinema no Brasil, a ausência de uma programação oficial, o domínio que as "majors" (as grandes produtoras americanas) exercem no mercado e tantas outras lamúrias de que, idealisticamente, se propõe a trabalhar numa área de mínimos retornos econômicos - embora gratificante culturalmente. Apesar dos festivais de Brasília e Gramado terem conseguido apresentar este ano o rastolho da produção cinematográfica que havia sido iniciada há 2 ou 3 anos, muitos duvidam que o "milagre" se repita em 1992. - "Se em 1990 a produção de novos filmes não chegou a meia dúzia de longas, este ano não temos notícias de nenhum novo projeto que esteja andando", comenta Wilson Cunha, jornalista e crítico, produtor-apresentador do programa "Cinemania" (Rede Manchete, sábados, 16h; segundas-feiras, 23h30) com a experiência de quem vem acompanhando os principais eventos cinematográficos que ocorrem no Brasil desde os anos 60. Com o cinema em 35mm praticamente paralisado - a não ser na faixa das produções comerciais, na publicidade (estas sim, com orçamentos bilionários), a Kodak chegou a pensar em reativar o esquecido 16mm, que durante tantos anos foi a bitola mais utilizada no circuito alternativo e tendo mesmo uma viabilidade econômica quando milhares de cinemas, Brasil afora, funcionavam com aparelhos 16mm, obrigando as distribuidoras americanas e européias a disporem de sua produção tanto em 35mm como 16mm. Hoje, com o melancólico fechamento de centenas de cinemas em todo o país, a opção do 16mm é tão suicida quanto a própria realização de curtas e (ainda mais) média-metragens. A questão é simplesmente que não há como exibir, para o público, a produção nesta bitola. Mesmo capitais como Curitiba, não dispõe de entidades com bons aparelhos em 16mm e com exceção do conjunto dos projetores "Bauer" que o organizado Goethe Institut possui - e que permite projeções perfeitas - as tentativas que se fazem de mostrar filmes nesta bitola fracassam tecnicamente. O Museu da Imagem e do Som do Paraná recebeu nos últimos anos cinco aparelhos usados, mas que exigem verdadeiras "operações de batalha", coordenadas por Zito Alves - único técnico especializado em manutenção de aparelhagem de cinema no Paraná - cada vez que são acionados. Assim, qualquer promoção cinematográfica que utiliza filmes em 16mm, seja em Curitiba ou em qualquer outra cidade, esbarra, de princípio, neste fato: falta de equipamento (e mesmo pessoal especializado) que garanta boa qualidade de projeção. A não ser que na generosidade que caracteriza o Goethe Institut, ceda seus aparelhos - e mesmo os dois eficientes projetistas que mantém contratados, os atenciosos Samuel Claudino e Zigmar Metenco - para que as sessões tenham início, meio e fim, e as cópias não sejam dilaceradas. O vídeo trouxe a praticabilidade para a projeção. Ao invés de máquinas que desafiam a capacidade dos operadores e rolos e rolos de negativos, unidades cada vez mais compactas e os filmes reduzidos a um tamanho de um livro - contendo toda a magia das imagens. Mas de nada adianta esta transportabilidade facilitada e barateamento dos custos de reprodução se os trabalhos realizados por videastas em busca de seus espaços não encontram locadoras dispostas a distribui-los e, principalmente, público que se interesse em vê-los. Os números falam por si e as (poucas) experiências de edição de vídeos artísticos e documentários de realizadores brasileiros que chegaram ao circuito das locadoras tiveram uma rejeição quase total do público. Uma questão para ser discutida e analisada num evento como o que ocorre agora em Vitória.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
21/11/1991

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