Os tycoons que sabiam o que o público queria
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 06 de julho de 1991
Continua a crescer a bibliografia de cinema. Há poucas semanas, chegou nas livrarias "O gênio do sistema" com o subtítulo de "A era dos estúdios de Hollywood" de Thomas Schatz (tradução de Marcelo Dias Almada, prefácio de Ruy Castro, capa de Carlos Matuck, 520 páginas).
Um livro que procura dar uma dimensão do que foi Hollywood em seu esplendor e mostrar o que significaram os grandes produtores - David Selznick (1902-1965), Darryl F. Zanuck (1902-1977), Louis B. Mayer, os irmãos Warner, Irving Thalbert, entre tantos outros. Era a época dos sycoons - os donos dos estúdios que decidiam tudo em relação a um filme e que, odiados e criticados na época, hoje são reconhecidos pela visão que tinham do público, da sensibilidade para o mercado e que com sua aparente intromissão no trabalho dos roteiristas, diretores, escolhas dos elencos (muitas vezes protegendo atrizes que antes passavam por suas camas) foram, entretanto, os que deram condições de Hollywood se firmar industrialmente como a usina dos sonhos.
Em "O gênio do sistema" Thomaz Schatz oferece uma obra que contraria a famosa "teoria do autor", inventada nos anos 50 pelos rebeldes críticos franceses, na revista "Cahiers du cinéma", onde ditavam quem era autor ou não de filmes. Autores (diretores) seriam os cineastas cuja obra teria uma unidade de técnica, de estilo e de pensamento reconhecida. Os outros não passariam de "diretores da casa", submetidos aos terríveis produtores.
Em "O gênio do sistema" Thomaz Schatz desvenda os meandros e as leis que regiam uma imensa indústria da qual saíram muitas obras-de-arte. Com dados irrefutáveis, mostra que muitas das teorias sobre ditadores inescrupulosos e carrascos da criatividade, nos estereótipos dos produtores executivos são pré-concebidas. Um livro para leitura obrigatória a quem vê o cinema apenas com olhos do diretor contemporâneo, do cineasta individualista - esquecendo sua concepção de obra de equipe.
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