Para quem aprecia os decibéis...
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 27 de setembro de 1987
Quem compra tanto disco pop?
A pergunta até que se justifica frente a quantidade de lançamentos de elepês com a chamada "música para jovens", que acontece mensalmente, especialmente por parte da WEA, hoje uma das gravadoras com maior suplemento. André Midani, este franco-brasileiro que há quase 30 anos sabe conduzir os cordões do marketing musical-fonográfico deve saber o que faz, pois caso contrário não continuaria a ser um poderoso executivo, à frente da WEA desde sua implantação no Brasil há mais de 15 anos. Do último pacote da gravadora, entre álbuns de jazz excelente de Gil Evans Orchestra, Art Blakey e o encontro do pianista brasileiro Rique Pantoja com o pianista-cantor Chet Baker, há, para outro público, discos com o som mais pesado. Eis alguns:
Quem se lembra de Peter Murphy como integrante do grupo Bauhaus (1978/1984) vai se surpreender: em seu primeiro elepê solo ("Should The World to Fall Apart"), despido da roupagem dark que marcou suas investidas nos tempos do Bauhaus. A música está diferente, mais suave, deixando aquele estilo deprimente dos tempos do Bauhaus e até a capa, com um belo desenho de Carlos Sosa, mostra esta nova fase.
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Incrível! Até do bloco socialista vem um novo som pop. O Leibach, criado há 7 anos em Trbovige, no norte da Iugoslávia, está hoje internacionalizado e desenvolvendo um movimento intitulado "Neue Slowehistche Kunst" (A Nova Arte Eslava), englobando teatro, pintura, cinema e até arquitetura. O grupo aporta no Brasil com o epelê "Opus Dei", cuja faixa título é uma versão da música "One Vision" de Freddie Mercury (Queen). As letras do grupo são em inglês e alemão. O Leibach não dá entrevistas mas distribui panfletos durante suas exibições, onde há afirmações como esta: "Nossos concertos tem uma ação purificante e regenerativa. A proposta é liberar o automatismo das massas em busca de um blecaute das mentes consumidoras e que conduz a um estado de humilde contrição e afasia coletiva - o princípio da organização social" (sic). Um perigo: o nome do grupo e os símbolos fascistas que utilizam na capa do disco, além de seus vídeos, fazem supor ao público que o grupo tenha influências fascistas. Totalitarismo é sua principal ideologia. A informação está no próprio release da Warner.
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Outro grupo novo, da Inglaterra, está chegando: "Gene Loves Jezebel", liderado pelos gêmeos Michael e Jay Aston Welch e que está na estrada há apenas 3 anos e que inclui mais três músicos: o guitarrista James Stevenson, o baterista Chris Bell e o baixista Peter Rizzo. O grupo se projetou por suas apresentações ao vivo, com os gêmeos vocalistas procurando um visual coloridíssimo e interpretando as músicas de forma irreverente e sensual, lembrando o estilo Mike Jagger e Pati Smith. "Desire" (dezembro-1985), foi o primeiro grande sucesso gravado e agora chegam ao Brasil com o terceiro elepê que fazem ("Discoverer"), amparado, ainda como faixa de trabalho, numa regravação do "Desire".
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Fundadora do grupo Shalamar, Jody Watley parte para seu primeiro elepê solo (MCA/WEA), co-autora de seis das nove faixas do disco. Americana de Chicago, filha de um pianista e de um pai evangelista, cujos shows atraíam nomes populares do show bussiness, aos 8 anos, Jody já estava nos palcos e chegaria ao grupo Shalamar, que existiu até 1984. Extinto o conjunto, fez uma experiência de modelo em Paris e Londres, e voltou para enfrentar a carreira de solista, que começa neste álbum com uma faixa que ganhou especial promoção, o funk "Looking For a New Love".
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Para quem se dispõe a ouvir o som da pesada, pela identificação de Mega Metal há o grupo Overkill ("Talking Over"), formado há 5 anos em Nova Iorque. Paulo Sissino assim define este conjunto ensurdecedor: "Seu som é resultado de uma poderosa combinação de guitarras hiper-afiadas, destilando solos arrepiantemente bem colocados, baixo esmagador, bateria relâmpago e uma voz tão crua e áspera que parece vir direto das vísceras do cantor". Quem se habilita?
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E na mesma linha de metal pesado, muitos decibéis, o pacote da WEA oferece também o Overkill ("Talking Over"), formado por Bobby "Blitz" Ellsworth, DD Verni, Bobby Gustafson e Pat Skates; o Manowar ("Eighting the World"), outro quarteto da pesadíssima e o Metal Church ("The Dark"). Se não fosse tão estridente, até seria interessante tentar ouvir os três discos em seqüência, para ver se há alguma separação ou se é um ruído só. Fica o desafio...
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Depois de tanto som elétrico, o Erasure até parece um som pastoral. Uma dupla inglesa formada por Vince Clark - letrista e executante de computadores - e Andrew Bell. Há 7 anos na estrada, só em 1985 foi que Vince encontrou Bell formando o Erasure, fazendo um som leve e dançante - que emplacou as vendas do elepê "Wonderland". Agora sai o disco "Circus", empurrado pela faixa "Somertimes", primeiro lugar na parada da Billboard.
LEGENDA FOTO 1 - Erasure: um novo duo inglês.
LEGENDA FOTO 2 - Peter Murphy, ex-dark, agora solar.
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