A nossa era do rádio
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 27 de setembro de 1987
No dia 21, junto com a Primavera, também transcorreu o Dia do Rádio - criado em homenagem ao antropólogo Edgard Roquete Pinto (1884-1954), fundador da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro (1923) e pioneiro da radiodifusão educativa no Brasil. Cientista social, escritor, cineasta - fundou o Instituto Nacional do Cinema Educativo (1937), que dirigiu por 10 anos e foi realizador de muitas seqüências de "O Descobrimento do Brasil" (com música de Villa-Lobos). Roquete Pinto é identificado com o rádio cultural do Brasil. Um rádio voltado a aproximar as pessoas, cobrir as distâncias e integrar os homens - e que teve, nas décadas de 20 a 50, a maior força da comunicação não só em nosso País, mas em todo o mundo.
Da nossa pioneira "Clube" - a PRB-2, Rádio Clube Paranaense, cujas primeiras transmissões foram ao ar numa fria noite de 27 de junho de 1924, a FM Estação Primeira, 90.1 MHZ, a mais nova das emissoras que estão no ar em Curitiba, muita coisa mudou. O idealismo que levava as primeiras rádios se chamarem "Clube" - como realmente eram: instituições voltadas a cultura e a aproximação das pessoas - chegamos hoje a guerra de foice em que múltiplos interesses - especialmente econômicos e políticos - marcam tanto as concessões como a exploração das milhares de rádios - em AM, FM, Ondas Tropicais - que se espalham por todo o País.
O Rádio, com suas histórias, sua magia numa época de maior tranqüilidade e menos violência, não teve, até hoje, os estudos que mereceria. Raríssima bibliografia, poucas informações - que ainda se tornam em lacunas maiores fora do eixo Rio-São Paulo. Entretanto, se o rádio tinha, no passado, aquela nostalgia de ser o grande veículo de divulgação da música, e mesmo dos pioneiros tempos do radioteatro - hoje não deixa de ser um veículo ágil, capaz de suplantar mesmo a televisão quando bem utilizado (que o diga a Jovem Pam, de São Paulo, que dá mostras do melhor jornalismo).
Mais do que caixinhas de saudades - como nas coleções dos diferentes tipos de rádio que pessoas como Osny Bermudes (ele próprio já parte da história de nosso rádio, desde seus tempos de calças-curtas, fazendo transmissões no sistema de alto falante do Colégio Santa Maria), o rádio tem uma função social que não pode - nem deve ser desprezada. Foi através do rádio que se revelaram inúmeras vocações políticas, a começar pelo próprio governador Álvaro Dias, que há 20 anos passados, recém chegado de Maringá, procurou o "Palito" (Lourival Pedrossiam), então diretor da Rádio Atalaia, de Londrina, e propôs um programa para a faixa jovem, cujo título já identificava o ídolo que crescia na época: "É uma Brasa, Mora!".
O título, o programa e "eles" deram certos. "Eles" - Álvaro, que foi vereador, deputado, senador e hoje é o governador do Paraná. Roberto Carlos, que soube canalizar as potencialidades de seu público e, passadas duas décadas, continua a ser o cantor que mais vende discos no Brasil - em que pese a passageira ameaça de Xuxa, esta vinda nas imagens do filho do rádio - a televisão. Que pode ter retirado o entusiasmo do rádio como catalisador de multidões (desapareceram os programas de palco-auditório, as emissoras se pasteurizaram em suas programações depois da chegada do FM, etc.), mas não a reduz, tecnicamente, como veículo de comunicação.
Inúmeros nomes que hoje ocupam espaço político, artístico e empresarial de destaque tem suas origens no rádio - e disto se orgulham. Seriam muitos os nomes a serem lembrados numa tentativa de história do rádio. De um intelectual da grandeza de Wilson Martins, há anos professor universitário em Nova Iorque e que foi um dos melhores locutores da PRB-2, a Maurício Fruet - que, aliás, quando prefeito de Curitiba, tentou viabilizar um Museu do Rádio - infelizmente não passando de uma pífia encenação inaugural, com o material cedido por Osny Bermudes - assim como a pesquisa sobre a história do rádio e televisão do Paraná, iniciada graças a Marcos Aurélio de Castro, quando secretário de Comunicação Social, não pode ainda ser concluída por falta de apoio oficial.
O rádio - seja no Brasil ou no Paraná - tem muito a ver conosco. E em sua linguagem universal, seus mitos, seu imaginário, sua força que fez a música chegar aos nossos sonhos e desejos, ganhou, este ano, um filme-poesia, deste garimpeiro de nostalgia que é Woody Allen. Assim, nada melhor do que uma sessão especial do emocionante "A Era do Rádio" (Radio Days), com todo seu encanto - e mostrando que o rádio que se fazia nos EUA nos anos 30/40 tinha muito em relação ao nosso (como tão bem Sérgio Augusto vem demonstrando em ótimos textos, publicados aqui em "O Estado do Paraná).
Numa feliz idéia de Domício Pedroso, diretor cultural do Clube Curitibano, em homenagem aos nem sempre lembrados radialistas, na quarta-feira, 30, uma noite diferente no auditório do Clube Curitibano: Mário Vendramel e Ubiratam Lustosa, pioneiros dos bons tempos da Rádio Clube Paranaense, estarão no palco, chamando alguns velhos companheiros daquela época, numa introdução a projeção do filme de Woody Allen - seguindo-se depois um coquetel de confraternização, entre profissionais que atualmente militam em nossas FMs e AMs e os "velhinhos" dos bons tempos. Afinal, como diz um dos mais competentes radialistas do Paraná, o veterano mas ainda em ação, João Lydio Seiller Bettega:
- "Saudade não tem idade!"
LEGENDA FOTO - Osny Bermudes, parte da história do rádio no Paraná.
Tags:
- A Era do Rádio
- Álvaro Dias
- AM
- AMs
- Clube Curitibano
- Colégio Santa Maria
- Dia do Rádio
- Domício Pedroso
- Edgard Roquete Pinto
- FM
- FM Estação Primeira
- FMs
- Instituto Nacional do Cinema Educativo
- João Lydio Seiller Bettega
- Jovem Pam
- Lourival Pedrossiam
- Mário Vendramel
- Maurício Fruet
- MHZ
- Museu do Rádio
- O Descobrimento do Brasil
- O Rádio
- Ondas Tropicais
- Osny Bermudes
- PRB
- Rádio Atalaia
- Rádio Clube Paranaense
- Radio Days
- Rádio Sociedade do Rio
- Roberto Carlos
- Roquete Pinto
- Sérgio Augusto
- Ubiratam Lustosa
- Wilson Martins
- Wood Allen
Enviar novo comentário