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Aramis

Pavão voou no tempo para contar a história do rock

Nos tempos pioneiros da TV Paranaense, quando suas transmissões ao vivo eram feitas de um estúdio-kitchenet no último andar do edifício Tijucas, uma das atrações musicais que ali se apresentava com sucesso era o Conjunto Alvorada, formado por três afinadas menininhas, Sidneia, Marly e Meire. O grupo era dirigido pelo professor Theotônio Pavão, violinista, compositor, paulista de Botucatu, onde viria a falecer, aos 72 anos, em 25 de março de 1988. Fez parte assim dos chamados tempos históricos da televisão em Curitiba e por suas aulas de violão passaram muitos jovens que sonhavam com o sucesso. Dois, ao menos, dos filhos do professor Pavão, seguiram por algum tempo a carreira artística: na Chantecler, Meire Pavão gravou alguns sucessos em compactos simples ("O que é que Eu Faço do Latim", "Areia Quente" e "Cansei de lhe Pedir", "Bem Bom", "Broto Estudioso") e um elepê ("A Rainha da Juventude"). Seu irmão, Alberto, começou ainda no tempo do 78 rpm ("Tu e Eu") e, em compactos, emplacou "Vigésimo Andar" e "Biquinho", além de também ter feito uma coletânea (Penthon/VS, 1963), de ingênuos rocks da época. O tempo passou e os jovens Pavão seguiram outros caminhos. Alberto hoje aos 42 anos, administrador de empresas, não esqueceu, todavia, os anos dourados da chegada do rock no Brasil, a partir do histórico "Rock Around the Clock" de Bill Haley (1925-1989), que explodiria ao ser incluído por Charles Wolcott na trilha sonora de "Sementes de Violência" (Blackboard Jungle, 1955, de Richard Brooks). Ironicamente, caberia a uma intérprete especializada em sambas-canções, mestre da dor de cotovelo, Nora Ney (Iracema de Souza Ferreira, RJ, 20/03/1922) gravar num 78 rpm, na Continental, em novembro de 1955, a versão "Ronda das Horas" - título que "Rock Around the Clock" ganhou no Brasil (no outro lado do disco, "Ciuminho Grande", quem se lembra?). Começava a era do rock, influenciando milhares de jovens e, praticamente mudando muita coisa na música internacional. Hoje, 35 anos depois, o rock brasileiro, em seus dez primeiros anos, tem cores de ingenuidade e nostalgia, com versões simples de rocks e baladas que, longe da eletrificação pop das décadas seguintes, embala aquela geração da era JK. No ano passado, Carlos Alberto Pavão, com sua organização de administração de empresas que teve seu passado de ingênuo roqueiro - e, que sempre foi um pesquisador, à sua maneira, daquele período - teve uma idéia: produzir um elepê com matrizes originais dos primeiros rocks aparecidos em português (a maioria versões) e escrever um livro a respeito. René Ferri, dono da Wop Bop, uma etiqueta-loja alternativa em São Paulo, gostou da idéia e bancou o elepê "Censurar Ninguém se Atreve", que com uma tiragem de apenas mil exemplares esgotou sua edição em pouco tempo. Afinal, ouvir Nora Ney cantando "Ronda das Horas" ou o ultra-romântico Agostinho Rodrigues (1932-1973) na versão de "See You Later Walligator" ("Até Logo Jacaré") ou em "My Prayer" ("Minha Oração") ou "Só Você" ("Only You"), não deixa de ser, no mínimo, curioso. xxx O livro, prometido por Carlos Alberto Pavão, acabou demorando um pouco mas agora está sendo lançado: "Rock Brasileiro - 1955/65. Trajetória, Personagens e Discografia" (Edicon, 148 páginas, solicitações ao autor, Rua Iracurucá, 38, apartamento 703, Rio de Janeiro, CEP 20510). Sem esgotar, em absoluto, o tema - o que é reconhecido pelo próprio Pavão, não deixa de se constituir num válido esforço para se evitar a perda de informações de um período de música de consumo praticamente discriminado mesmo por jornalistas e historiadores ligados à nossa MPB. A maior parte dos jovens que nos anos dourados do pré-rock brasileiro encantavam suas platéias adolescentes praticamente eclipsou-se - alguns inclusive morreram. Os discos da época são raridades e dificilmente terão reedições. Valem, entretanto, como uma fase de nossa música de consumo que não deve ser desprezada por quem sabe entender que na história artística, tudo conta - nada é desprezível. Além do mais, por que negar? Saudade não tem idade.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
07/07/1990
Poderia, por obséquio, informara ONDE / COMO se consegue ainda o livro "ROCK BRASILEIRO - 1955/65...", de Albert Pavão? (Já tentei em VÁRIOS "sites": NADA!) Muito obrigado!
Poderia, por obséquio, informar ONDE / COMO se consegue ainda o livro "ROCK BRASILEIRO - 1955/65...", de Albert Pavão? (Já tentei em VÁRIOS "sites": NADA!) Muito obrigado!

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