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Aramis

Plaza fechou as portas e Castro ficou sem cinema

Às vésperas do natal, o Sr. Cinésio Barbosa, 43 anos, como faz anualmente foi rever a sua cidade natal, Castro. Cinéfilo a partir do próprio nome, Cinésio aprendeu a amar o mundo das imagens na ampla tela do cine Plaza, na Praça Manoel Ribas, e, até vir estudar administração de empresas em Curitiba, em 1963 (*) não perdia os filmes exibidos naquela sala. Entretanto, ao chegar defronte ao cinema que durante quase 35 anos era o programa principal dos castrenses, teve uma grande tristeza: em novembro, ali havia ocorrido sua última sessão (**). Mais do que apenas um cinema que deixa de funcionar - somando-se a milhares de outros que, nas últimas duas décadas cerraram suas portas - o fechamento definitivo do Cine Plaza deixa Castro - 150 km de Curitiba, população de 63.871 (censo-91), habitantes - sem nenhuma outra sala de exibição. Há muito tempo que o cinema Marajá já era apenas saudade e dos pioneiros Odeon e Rio Branco - este um cine-teatro, inaugurado no final do século passado - só há algumas recordações no acervo da Casa da Memória, que o prefeito Reinaldo Cardoso inaugura no próximo dia 20 de janeiro. xxx Rainilton Gaião Feijó, 45 anos, mesmo pertencente a uma família de exibidores, não teve outra solução do que fechar e devolvê-lo ao médico Ivan Fadel (***), proprietário do imóvel e equipamentos - que o havia arrendado há 25 anos. "Nem mesmo os filmes com Xuxa, Trapalhões ou pornográficos atraiam mais o público nas sessões de sábado, domingo e segunda-feira", diz Gaião, que para sobreviver, há muitos anos exerce a gerência da transportadora Guairacá. Como Gaião Feijó, centenas de outros pequenos exibidores, espalhados por todo o país, não tem encontrado outra opção do que desativarem suas salas de exibição: a televisão, a redução dos filmes atraentes que as chamadas majors (grandes produtoras americanas) se dispõem a alugar para o chamado "circuito do interior" e, principalmente, o vídeo, liquidaram aquela que já foi numa época dourada a diversão por excelência de milhões de espectadores. A professora Judith Carneiro de Mello, fundadora e diretora do Museu do Tropeiro - e agora organizando a Casa da Memória de Castro - lamenta o fechamento do cinema: - "Embora há anos não freqüente mais os cinemas, devido a exibirem filmes de sexo e violência, era uma apaixonada pelos grandes filmes". Seu pai, Vespasiano Carneiro de Mello (1865-1962) foi quem construiu o cine Odeon, inaugurado na segunda década deste século e que funcionou até o início dos anos 50. Notas (*) Cinésio Barbosa é atualmente assessor legislativo da vereadora Zélia Passos. (**) As obras de construção do cine Plaza iniciaram em abril de 1957 e estenderam-se por 18 meses. Sua inauguração foi em setembro de 1958 com "O Manto Sagrado". Sua última sessão teve menos de 30 espectadores, no último domingo de novembro de 1991, dia 28, quando foi exibido "Brigada Heróica". (***) Homem riquíssimo, embora filho de família castrense, o Dr. Fadel reside há muitos anos em Joaquim Távora. Possui inúmeras propriedades na cidade de Castro.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
10/01/1992

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