Reaparecimento
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 10 de maio de 1981
A vontade de ouvir novamente Marcos Vale, há quase 10 anos nos Estados Unidos era grande. Com exceção de duas faixas gravadas por Sérgio Mendes (cujo grupo teve sua participação por algum tempo) nada mais se conhecia recentemente sobre este compositor-pianista - cantor que, de forma suave e agradável, marcou o período póst-Bossa Nova. Enquanto seu irmão, o letrista Paulo Sérgio, no Rio, fazia discutíveis parcerias, letrando músicas de compositores menores, Marcos permanecia nos EUA, numa vivência intensa - e que agora começa a relatar.
De volta ao Brasil há alguns meses, Marcos associou-se a Sigla/Som Livre para um reaparecimento fonográfico, com uma produção própria, associado ao irmão Paulo Sérgio e ao amigo Ribeiro Francisco. Mais amadurecido, mas ainda conservando o romantismo e o balanço da fase em que trazia músicas como "deus brasileiro", "mustang cor de sangue", "Pigmaleão"e "Samba de Verão" ( seu maior sucesso internacional), Marcos neste "Vontade de Rever Voce" não chega com nenhuma obra antológica como "Preciso aprender a ser só" (1970) ou, mais remotamente, "Sonho de Maria" (1963, sua primeira música gravada pelo Tamba Trio) ou, especialmente a toada "Villa Enluarada" (1967). Em compensação, apesar da vivência americana, temos a brasilidade em "A Paraíba não é Chicago" (parceria com irmão Paulo, mais o percussionista Laudir de Oliveira e Ware Cetero) o balanço de "Sei Lá" (mesmo parceiros) e "Bicho no Cio" ( Paulo/Leon). "Velhos surfistas querendo voar" é modernoso, e "campina Grande" (só de Marcos), "Sei", Recados de Amor", "Garimpando" e "Não pode ser qualquer mulher" são valorizados pelo balanço característico de Marcos.
O retorno nem sempre é fácil, mas com a simpatia que possue, seu senso profissional e o apoio promocional da Sigla/Globo, é possível que Marcos reconquiste o espaço que perdeu ao deixar o Brasil, em 1972.
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