Sesc dá o exemplo que o Sesi deveria imitar
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 17 de setembro de 1986
Há um ano, quando a comédia "Pelo Telefone", de Antonio Fagundes, direção do jovem ator Francisco Nogueira, inaugurava o mais novo teatro da cidade - o Sesc da Esquina (Rua Visconde do Rio Branco, esquina com a Augusto Stellfeld) - desejávamos, em registro aqui publicado, que não acontecesse com este espaço cultural o mesmo destino do Teatro do Sesi, inaugurado há 12 anos e que tem sido a casa mais ociosa em termos de programação cultural.
Agora, no primeiro aniversário do SESC da Esquina - dia 18, quinta feira - pode-se fazer um merecido elogio a sua administração: 41.141 espectadores em 65 espetáculos ali apresentados constitui um numero bastante significativo para uma sala de 299 lugares. Em comemoração a este primeiro aniversário, a sua direção programou um festival de dança reunindo várias academias da cidade, começando por duas das mais criativas graças a competência de suas coreógrafas-diretoras - Rita Pavão e Milena Morozowicz.
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No momento em que o Sesc da Esquina - uma conjunto de unidades em área total de 13.000 metros quadrados, que abrigam várias atividades sociais-culturais-educativas - completa seu primeiro aniversário, as esperanças são de que o Teatro do Sesi, inaugurado no dia 1º de outubro de 1974, venha a sair do marasmo que o caracteriza há mais de uma década.
Idealizado ainda na administração do presidente Mario de Mari, que presidiu a Federação das Indústrias do Estado do Paraná por 6 anos, o Teatro do Sesi com 500 lugares e um dos maiores palcos da cidade - praticamente o mesmo tamanho do grande auditório do Guaíra - nunca chegou, infelizmente, a ter uma atividade cultural programada. Com a desculpa de que se destinava a eventos voltados aos trabalhadores e, nos primeiros anos, tendo o seu imenso palco (mil metros quadrados) com a polivalência de servir de canchas de esportes (há muito já transferidas para outras unidades da FIEP, em bairros da cidade), o Teatro do Sesi abrigou algumas dezenas de espetáculos ao longo destes 12 anos, mas sem qualquer regularidade e filosofia cultural. Ou seja, sua administração cede seu uso a eventuais interessados, mas sem qualquer calendário artístico ou uma iniciativa de estabelecer uma programação própria e dinâmica - que seria plenamente justificável, já que nos anos 50, era justamente a Federação das Indústrias, através do Teatro Experimental do Sesi, que mantinha o mais ativo grupo de teatro amadores do Paraná - verdadeira escola pela qual se formaram dezenas de nomes, que, nos anos 60, desenvolveriam importantes trabalhos junto ao Teatro de Comédia do Paraná - muitos dos quais ainda em atividades, como José Mari Santos, 52 anos, o mais importante profissional de nossos atores-diretores-produtores.
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A posse de um novo presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná, Jorge Aloysio Weber, 56 anos, gaúcho de Passo Fundo, há mais de 30 anos radicado em Curitiba - onde preside o Sindicato da Indústrias Gráfica e possui a Telos Equipamentos S/A - pode significar melhores tempos para a área cultural na FIEP. Afinal, em seus verdes anos de estudante em Porto Alegre, nos anos 40, Jorge Weber teve aproximações com os meios teatrais e jornalísticos, nascendo uma relativa sensibilidade para as atividades que não sejam aquelas apenas da defesa dos interesses capitalistas, na busca do lucro empresarial.
Se o atual presidente da FIEP, madeireiro Altair Zaniollo, nos longos 12 anos que se manteve na FIEP, fortaleceu vários setores e, especialmente, deu condições a que se criasse uma das melhores house organs do País, hoje uma publicação de prestígio nacional, nada impede que seu sucessor se volte, no mínimo, para o setor cultural.
Ao longo dos 41anos da Federação das Indústrias do Estado do Paraná, apenas cinco empresários a presidirem - os três primeiros, Heitor Stockler de França (1945/1958), Lydio Paulo Bettega (1958/68) e Mario de Mari (1968/74), preocupados em consolidá-la como instituição empresarial, dotando-a de um invejável patrimônio. Hoje, com 33 sindicatos filiados e uma presença vigorosa dentro das entidades empresariais do País, a FIEP pode - e deve - dar uma contribuição maior a comunidade, ainda mais dispondo de um privilegiado teatro na Avenida Cândido de Abreu, com fácil estacionamento e dentro de uma zona central que tem, em si, um grande potencial de público.
Independente de culpar o que não foi feito até hoje, a hora é do novo presidente, Jorge Aloysio Webber, espelhar-se no exemplo do que o Serviço Social do Comércio conseguiu em apenas um ano, no Teatro da Esquina, e fazer com que o Teatro do Sesi, com suas boas acomodações, amplos camarins, privilegiado palco, se torne uma unidade cultural ativa. Se faltam equipamentos - luz, maquinário, etc. - isto não deve constituir empecilho. Além da própria FIEP dispor de sólidos recursos, um projeto equilibrado, a ser desenvolvido em etapas, pode fazer com que a curto e médio prazo o teatro tenha todo o equipamento necessário para abrigar todos os gêneros de espetáculos.
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Administrado desde sua inauguração por Edilson Gomes, o Sesc da Esquina tem tido uma programação eclética. Peças de teatro, musicais, cursos, projeção de filmes e outras atividades ali acontecem. Para atividades culturais, de grupos amadores ou semiprofissionais, sem maiores possibilidades financeiras, é cobrado uma taxa de 10 % sobre a renda. Quando se trata de promoções bancadas por entidades ou empresas com solidez financeira, um aluguel de Cz$ 800,00 por noite - renda para cobrir as despesas de limpeza, iluminação e pessoal (uma equipe de sete funcionários). Apesar dos 65 eventos ali ocorridos neste primeiro ano - com um expressivo público de 41.141 expectadores - o Sesc da Esquina é ainda desconhecido por milhares de curitibanos - o que longe de ser uma falha de sua administração, mostra que a entidade cresceu de tal forma que novos espaços culturais ocupam faixas determinadas de público e interesse, entrosando-se em círculos específicos de atividades.
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