Silvia e as saudades dos dramas da Pelmex
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 21 de março de 1991
Poucas pessoas conhecem hoje tão bem o cinema latino-americano como Silvia Oroz, uma argentina morena, beleza mignon, tão simpática que se enquadra naquela categoria que, como dizia Dale Carnegie, parece ser amiga de infância após 5 minutos de conversa. Tão encantadora quanto competente - e com uma paixão maior pelo cinema que a fazia, desde seus 5 anos, ao lado de seu irmão, permanecer em quatro sessões seguida no Cine Majo, de seu avô, na cidade de Plata - onde nasceu - Silvia está na cidade, nesta semana, mostrando que os dramalhões da Pelmex, vistos com preconceito pela inteligentza, mas com paixão pelo grande público, tinham muito valor. Uma das últimas promoções do MIS-PR, organizadas por Valêncio Xavier, foi trazer a nossa cidade o seminário "Por uma Teoria do Melodrama", que durante dois dias (11 e 12 de março), lotou o auditório do MIS do Rio de Janeiro, restaurado agora.
No Rio, a promoção teve a participação do professor Roman Gubern, da Universidade Autônoma de Barcelona, e foi completada com filmes de Sarita Montiel no ciclo "Paixão e Lágrimas no Cinema Espanhol". Para aqui, vieram apenas seis filmes, mexicanos, em cópias reduzidas para vídeo, que desde terça-feira, estão sendo apresentadas (19 horas, auditório Brasílio Itiberê, Rua Cruz Machado) com explicações de Silvia Oroz: o clássico "Enamorada", 1946, de Emílio Fernandes, com Maria Felix; "El", 1949, de Luiz Bunuel; "Maria Candelária", 1945, de Fernandes; "Aventureira", 1948; "Negro is mi Color", 1959, de Tito Davison; e até "Ai esta el Detalle", 1939, a primeira comédia estrelada por Cantinflas.
Casada com um competente roteirista, Alfredo Oroz (que fez a elogiada adaptação de "O Grande Mentecapto", de Fernando Sabino), Silvia Oroz tem viajado muito pela América Latina, fazendo uma arqueologia cinematográfica. Graças a isto, já escreveu dois livros importantíssimos - "Os Filmes que eu não Filmei", sobre o cubano Gutierrez Allea e o carioca Cacá Diegues (um terceiro deverá ser sobre o espanhol Carlos Saura) e organizou uma mostra do cinema latino-americano para o Festival Livre de Havana, em 1989, que resultou em mais um livro, "O Cinema Mexicano no Desenvolvimento Industrial", recém editado pela Universidade Autônoma do México.
Só na Cidade do México, onde esteve por duas vezes, Silvia Oroz assistiu mais de 400 filmes realizados naquele país - que com duas cinematecas na capital, mais uma escola de cinema em Guadalajara e os estúdios Churusco, procura guardar o seu passado fílmico. Percorrendo todos os países da América Latina, buscando pesquisadores, trabalhando em cinematecas e arquivos fílmicos, Silvia dispõe de material para muitos livros, ciclos e seminários.
Dois, que espera poder realizar em breve, referem-se a uma mostra integral de todos os filmes que Luís Bunuel realizou no México, e um ciclo sobre Cantinflas (Antônio Moreno), o mais popular comediante latino-americano de todos os tempos.
No momento, porém, Silvia mostra-se pessimista: pelo que pode observar, não é só Gramado que enfrenta a falta de filmes novos para poder realizar seu festival.
- "Em todos os países, a produção está praticamente paralisada. Na Argentina, houve apenas dois longa-metragens produzidos no ano passado".
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