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Aramis

Travessia

A recente explosão memorialística na literatura brasileira do gênero, outrora relativamente escassa e tímida com um ou outro esmplo clássico em grande destaque, recebeu poderoso estímulo com o lançamento, na coleção documentos Brasileiros da Livraria José Olympio Editora, das memórias de Hermes Lima intituladas Travessia. Figura de notória expressão na inteligência brasileira contemporânea, jurista, professor e parlamentar, Hermes Lima tem sido antes de tudo homem de idéias e de pensamento desdobrado ou manifestado na cátedra, na tribuna parlamentar e na distribuição da justiça. Suas memórias agora pulbicadas, muito mais um largo panorama de idéias e acontecimentos contemporâneos, do que propriamente uma autobiografia, refletem com precisão essas diferenças facetas de sua personalidade, onde sobrepaira com ênfase o liberalismo de suas convicções intelectuais, aliceçardas na sua vocação inequívoca para a liberdade de pensar e de agir. Como disse com felicidade, Péricles Madureira de Pinho em nota prévia ao volume, Travessia é livro muito mais profundo que pitoresco, onde, portanto o pensamento do autor prefere as idéias aos homens, o ser ao parecer. Nascido em 1902, Hermes Lima dividiu suas memórias em três partes nitidamente demarcadas, dedicando a primeira à sua formação na província natal até o concurso na Faculdade de Direito do Rio de Janeiro; a segunda ao período do Estado Novo; e a terceira, finalmente, a partir de 1946, até sua ascensão ao Supremo Tribunal Federal. Nessas páginas magníficas de serenidade e firmeza desenrola-se, entretanto boa parte da vida política e social do Brasil nos últimos cinquenta anos, da qual o autor participou como intelectual e homem de ação, ao mesmo tempo, revelando an travessia, nem sempre bonançosa e tranquila, não só os recursos da inteligência, saber e dedicação é causa pública, como ainda a firmeza e a coragem nos grandes lances que se viu forçado a enfrentar. Livro rico de ensinamentos e lições, espelhando uma realidade política e social ainda não de todo histórica.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
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18
12/05/1976

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