Túlio conta agora a vida de seu pai
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 22 de outubro de 1980
Pouco a pouco, o advogado e empresário Odilon Túlio Vargas, 47 anos, vem resgatando a historia do Paraná. Há 10 anos, começou a ocupar suas horas de folga para reunir dados a respeito de seu bisavô materno, Telemaco Augusto Êneas Morocine Borba (1840-1918), sertanista e etnólogo, desbravador de amplas regiões do estado. O resultado foi "O Indomável Republicano", cujos resultados animaram Túlio a fazer uma nova biografia da controvertida figura do barão do Cerro Azul, Ildefonso Pereira Correia, assassinado na Serra do Mar em 20 de maio de 1894, acusado de ter sido colaboracionista com as forças federalistas que invadiram Curitiba alguns meses antes. Entre discursos parlamentares e sua biografia de Duque de Caxias, Túlio Vargas, quando secretario da Justiça conseguiu escrever mais dois romances históricos: "Senhor Senador, Senhor Ministro", em 1976, a respeito de Jesuino Marcondes de Oliveira e Sá (1827-1893) e "O Conselheiro Zacarias", em 1977, a respeito de Zacarias de Góes e Vasconcelos (1815-1877). Agora, quase que completando um circulo familiar, após escrever sobre o seu bisavô, dedica um volume ao seu genitor: "O Tempo de Meu Pai"(volume 12 da estante Paranista, Instituto Histórico e Geográfico do Paraná, 164 páginas).
Biografia sentimental e cuidadosa de seu pai, Rivadavia Barbosa Vargas (1900-1972), pioneiro da cidade de Pirai do Sul, deputado estadual em duas legislaturas (1947/1950-1951/1954), secretario de Viação e Obras Públicas no governo Bento Munhoz da Rocha Neto, quando o Paraná comemorou o centenário de emancipação política (2o semestre de 1953) e, por último diretor do DATM, "O Tempo de Meu Pai" é um volume significativo. Em primeiro lugar porque a propósito de localizar sua família, Túlio levanta informações sobre Pirai do Sul, inclusive com dados curiosos da cidade no inicio do século. Depois porque oferece informações sobre a política dos anos 30 a 50, quando o seu pai desempenhou um importante trabalho dentro da vida pública.
A carência de obras interpretativas de nossa história política e social é tão grande, que mesmo um livro que não deixa de ter uma natural e justa visão afetivamente familiar como o de Túlio Vargas - hoje um tranqüilo dirigente da Companhia de Seguros Bandeirantes e procurador do Tribunal de Contas do Estado adquire um significado de documentação. Os anos 40/50 da política paranaense dispõem de poucos livros, capazes de refrescar a memória das gerações mais jovens em relação a quem foi quem e, especialmente, quem fez o que neste período. Continuamos a insistir sempre na necessidade do ex-governador Moyses Lupion em ditar suas memórias ou ao menos falar sinceramente sobre os seus dois períodos administrativos. Está é, aliás, a única forma de se reavaliar a sua época, entender as suas administrações, reparar injustiças que até hoje se fazem. Se Lupion continuar calado, sem reviver certos aspectos e inclusive esclarecer acusações que lhe fizeram sem o depoimento de quem dela foi o centro gerador no Poder Executivo.
Como Lupion, outros homens públicos hoje na casa dos 60 a 70 anos tem muito a dizer, não o fazendo, infelizmente por comodismo, cansaço ou falta de motivação. Pesquisas a respeito enfrentam várias dificuldades e interpretações familiares como a de Túlio Vargas, embora válidas, esbarram evidentemente na impossibilidade de um corte visceral mais importante. "O Tempo de meu Pai", é, entretanto, um livro lúcido e claro: uma primeira parte biográfica, a resenha das atividades de Rivadavia Vargas nas duas legislaturas e discursos selecionados, afora o poema que a ele dedicou sua filha, a advogada Vera Vargas, e um emotivo artigo que o inesquecível Ali Bark, um dos melhores seres humanos que já viveu entre nós, lhe dedicou há 8 anos, por ocasião de sua morte. Os discursos que Túlio selecionou refletem um pouco das preocupações e personalidade de Rivadavia Vargas, e mostram inclusive que entre outras coisas que a cultura paranaense lhe deve está a criação da Casa de Alfredo Andersen, em maio de 1947.
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