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Aramis

Malu na busca de anti-semitismo da era Vargas

Depois de provocar, sem querer, uma polêmica nacional ao descobrir documentos que comprovaram o anti-semitismo no governo Vargas - comprometendo inclusive a imagem do embaixador Oswaldo Aranha (1894-1960), que apesar de dado o voto decisivo, na histórica sessão da ONU, em outubro de 1948, que decidiu a criação do Estado de Israel teve muitas posições contra a imigração dos judeus no Brasil, a professora Maria Luiza Tucci Carneiro, da Universidade de São Paulo, continua a pesquisar este lado hoje esquecido pela história oficial. A sua tese sobre "Anti-semitismo na Era Vargas", editada em livro pela Brasiliense, teve a primeira edição esgotada e, por estímulo do editor Caio Gracco Prado, conclui um segundo volume, que terá o título de "O anti-Semitismo na Era Vargas: Histórias de Vida". Para este aprofundamento da questão, a professora Maria Luiza já entrevistou dezenas de imigrantes judeus que comprovaram a marginalização e mesmo perseguições sofridas durante a ditadura de Vargas. Em Curitiba, uma das mais longas e importantes entrevistas foi com o Sr. Bernardino Schulmann, feita pouco antes de sua morte. Com sua memória privilegiada, bom humor e simpatia, o sr. Bernardino - sempre lembrado como uma das personalidades mais queridas da comunidade idish (um de seus filhos é o engenheiro Maurício Schulmann), ofereceu importantes contribuições para a pesquisa da professora paulista. xxx Em Rolândia, também fez uma entrevista importantíssima. Com o sr. Ricardo Lode Coldemholf, 83 anos, um pioneiro da agricultura em métodos modernos (e que já foi inclusive premiado pela produtividade de suas fazendas) Maria Luiza obteve um depoimento riquíssimo, com lances dignos de uma Love Story . Filho de uma família tradicional da Alemanha, proprietária inclusive de Castelos, Coldemhoff foi vítima da perseguição porque um dos seus tetravós era judeu. Acabou vindo para o Brasil - junto com sua esposa (o romance entre os dois teve lances que nem o mais criativo roteirista de telenovelas imaginaria) e se fixou em Rolândia. Boris Kossoy, autor de vários livros sobre fotografia, arquiteto e professor do curso de história da Universidade de São Paulo, fez riquíssima documentação fotográfica que enriquecerá ainda mais o livro de Maria Luiza. Kossoy, 51 anos, que entre outras pesquisas já provou o pioneirismo de um brasileiro na invenção da máquina fotográfica, foi também quem introduziu na Universidade de São Paulo uma cadeira especialmente para mostrar a fotografia como documento histórico, tema que desenvolve em cursos levados a vários Estados, inclusive Curitiba (aliás, há duas semanas, aqui esteve fazendo conferência na I Semana Nacional de fotografia). Convidado para vários eventos internacionais - inclusive para organizar uma mostra de fotografia brasileira para ser levada a vários países europeus - Kossoy (que é primo do jornalista Boris Casoy, âncora de jornalismo do SBT) prepara atualmente um novo livro. xxx Maria Luiza Tucci Carneiro ao encontrar os documentos comprometendo a imagem de Vargas e a do ministro Oswaldo Aranha o anti-semitismo levou, inclusive, ao Ministério das Relações Exteriores a tomar uma atitude radical: há dois anos que seus arquivos foram totalmente fechados para qualquer tipo de pesquisa. O que, entretanto, não desestimulou a bela professora paulista em aprofundar seus estudos passando então a entrevistar velhos imigrantes judeus, espalhados por vários estados que lhe deram uma excelente contribuição para subsidiar não apenas uma segunda parte do estudo, mas inclusive "capaz" de justificar vários outros volumes". xxx Sexta-feira, 28, Maria Luiza e Boris estarão na banca examinadora da professora Nadir Domingues Mendonça, da Universidade do Mato Grosso, que defenderá sua tese de doutorado na USP com o título de "A (des)Construção das (des)Ordens". Como ex-aluna de Boris Kossoy na disciplina de "a fotografia como documento histórico", Nadir - jovem mestre que já tem feito várias palestras em Universidades do Paraná durante 5 anos fez profunda pesquisa sobre a formação de uma pequena comunidade do Centro-Oeste - hoje a cidade de Três Lagoas, em cuja Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, leciona História contemporânea desde 1985. LEGENDA FOTO: Professores Boris Kossoy e Maria Luiza Tucci Carneiro: um livro sobre histórias vividas no anti-semitismo da Era Vargas, com depoimentos de judeus radicados no Paraná. (foto Vilma Slomp).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
26/06/1991

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