O canto gaúcho de Maria Luiza
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 21 de outubro de 1990
Maria Luiza Benitez - cujo elepê solo há muito era aguardado e que finalmente sai pela Quero-Quero, etiqueta de Gilberto Carvalho - é mais uma prova de vigor do canto gaúcho. Veterana de festivais nativistas que há duas décadas vem se realizando no Rio Grande do Sul, esta morena bonita, sensual e, especialmente afinada, reuniu uma seleção de músicas - transpondo fronteiras e incluindo composições de autores argentinos como "Zamba de Las Toderias" (Buenaventura Luna/F. Portal) e autores gaúchos influenciados pelo romantismo e ritmo do Cone Sul, como Wilson Tubino/Airton Pimentel em "Noites Milongas". O grande poeta Luiz Coronel divide com Rui Biriva (que há 3 semanas esteve em Curitiba, lançando seu novo lp-solo, edição da Discoteca, outra atuante etiqueta gaúcha) é o autor de "Rebanho de Agonias", uma das melhores faixas deste álbum que também tem outros belos momentos: "Caminhos" do cantor e compositor Cenair Maicá, falecido há dois anos e cuja importância ainda não foi devidamente dada em termos nacionais; "Viração", da dupla Kledir/Fogaça; "Cismas", de Mauro Moraes. Excelentes instrumentistas - como o veterano flautista Plauto Cruz (também um dos arranjadores), os violonistas/vocalistas Carlos Bayan Madruga (autor de "Maria Pafuera") e Pedro Guerra; André Meneguello no violino; Francisco Koller no violão, baixo elétrico, bombo e vocal valorizam este disco - que não deve ser colocado no balcão como apenas mais um disco de intérprete nativista. Maria Luiza Benitez merece respeito nacional. Pena que haja tanta obscuridade acima das fronteiras gaúchas para o canto que ela (e tantos outros talentos regionais) sabem fazer.
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