No campo de batalha
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 21 de outubro de 1990
Embora sem ter obtido premiação, "Manhã", de José Henrique Nunes Pires e Norberto Verani Depizzolatti, teve acolhida simpática. A fotografia de Cido Marques, de Curitiba - funcionário da Cinemateca do Museu Guido Viaro - foi elogiada. Rodada em duas pequenas cidades do Interior catarinense - Rancho Queimado e Antiópolis, este curta inspirado no poema de Carlos Drummond de Andrade (roteirizado pelo gaúcho Tabajara Ruas, que já foi assessor da Fucucu, quando a mesma tinha um bom trabalho cultural) tem imagens belíssimas.
Zeca Nunes voltou via Rio de Janeiro, para ali rodar um depoimento com a psiquiatra Nise da Silveira, diretora do Museu do Inconsciente, destinado ao vídeo de 45 minutos, que está realizando com base no trabalho do professor Valmir Martins, da UFSC, sobre a Farra do Boi. Zeca e Norberto conseguiram, inclusive, filmar no município de Celso Ramos, considerando "o território livre da farra do boi"- até agora inacessível a todas as tentativas de documentação.
José Pereira, 36 anos, jornalista, atual co-editor com Reynaldo Jardim (que há 6 anos mora em Brasília, mas passou os últimos dois em Goiânia) de um mensário alternativo e corajoso, "Fogo Cerrado", está tentando viabilizar a conclusão de "Bahia de Todos os Sambas". Em 1981, Paulo Cesar Sarraceni e Leon Hirzman (já falecido) rodaram 36 horas com dezenas de artistas baianos - e também a participação de Glauber Rocha - para uma série de 6 especiais para a Rádio e Televisão Italiana. Apesar de o produtor ser Gian D'Amico, o filme ficou inacabado e agora Pereira quer concluí-lo. Ele foi também o executivo de "Brasília, a última Utopia", cinco episódios sobre o distrito Federal, que após ter sua estréia no festival do ano passado, foi levado ao Fest-Rio-Fortaleza, chegou a ter lançamento inédito no resto do Brasil.
Uma das atrizes mais simpáticas durante o Fest-Brasília foi Malu Moraes (Maria de Lourdes Moraes), Goiânia de Anápolis, 50 anos, que esteve em bons papéis em três dos filmes que disputaram a competição em 35mm: "Césio 137", de Roberto Pires; "Mais que a Terra", de Elizeu Ewald e "O Círculo de Fogo", de Geraldo, que em 1980 realizou "A Longa Viagem", encontrava-se em Chicago, onde seu filme participou de um festival internacional (ainda este mês, também competirá numa mostra em Washington) fez questão de antecipar seu retorno para comparecer no palco do cine Brasília, na noite em que seu filme - misturando questão de terras, misticismo e política interiorana - foi projetado.
Julio Medalha, maestro da Orquestra do Teatro Municipal de São Paulo, compositor de trilhas de vários filmes, e premiado pela trilha adaptada de "O Escorpião Escarlate", não pôde ficar para receber o prêmio. Mas durante os dias em que esteve no Kubitschek Plaza era sempre centro das conversas mais inteligentes.
Após a exibição de "Conterrâneos Velhos de Guerra", no domingo, não se falava em outro filme: a magnitude deste documentário de Vladimir de Carvalho, que saiu com quatro premiações e o reconhecimento unânime. Se estivesse na área de 35mm, com toda certeza levaria os principais prêmios. Vladimir, professor da Universidade Federal de Brasília, teve que vender seu apartamento para concluir esta obra definitiva que mostra a "outra" Brasília - sintetizada em 160 minutos de mais de 50 horas de material filmado ao longo de 29 anos. Um filme sobre o que merece que se volte a falar demoradamente.
LEGENDA FOTO - Geraldo Moraes, gaúcho radicado em Brasília, durante as filmagens de "O Círculo de Fogo", produção rodada em Goiás e que participa de festivais em Chicago e Washington.
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