Fogo da incopetência consumiu as vaidades
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 26 de junho de 1991
A cansativa e antiga discussão de cinema X literatura nem vem ao caso. "fogueira das Vaidades"(cine Astor, somente até amanhã) é decepcionante não pela natural comparação que aqueles que consumiram o best-seller de tom Wolf (editora Rocco) farão em relação ao filme de Brian DePalma, mas pela infelicidade na escolha do elenco que de princípio já compromete na empatia que uma história densa, corajosa e sobretudo atual poderia passar.
Um dos criadores do chamado jornalismo de investigação, Tom Wolf fez de "The Bonfire of The Vanities" um ácido estudo sobre o mundo dos yuppies novaiorquinos, mostrando a corrupção da justiça, imprensa, religião, etc. que são conduzidas pelos mais condenáveis interesses.
Numa história que coloca um ingênuo e próspero corretor de ações num inferno kafkaniano, Wolf refletiu sobre vários aspectos deste nosso final de século numa sociedade capitalisticamente da maior crueldade. Material que poderia resultar num explêndido filme mas que, infelizmente, apesar de Brian DePalma, 51 anos, ter pontos altos em sua obra, fica no superficial. O maior erro foi escolher um dos mais insossos e intoleráveis atores da nova geração, Tom Hanks, que mesmo tendo estrelado sucessos de bilheteria ("Quero Ser Grande", "Splash - Uma Serei em Minha Vida", "um dia a Casa Cai" etc. ) jamais poderia convencer como o personagem Sherman McCoy, que de "mestre do universo" - yuppie que pode até ganhar US$ 1,6 milhão num dia de sorte - caindo ao inferno criminal quando, num acidente, provoca a morte de um jovem negro no Bronx. Bruce Willis, que em filmes de ação como "Duro de Matar" pode até convencer, não dá ao fracassado jornalista Peter Fallow a dimensão esperada e a loira Melaine Griffith como a superficial Maria Ruskin, amante de McCoy, esforça-se mas nos faz ficar com saudades de uma jovem Marilyn Monroe que seria perfeita. Nem mesmo o ótimo Morgan Freeman ("Conduzindo Miss Daisy") consegue fazer o juiz White impressionar - ficando caricato. Falar mais em torno da "Fogueira das Vaidades" é perda de tempo. Um exemplo de que um bom romance original, amplos recursos de produção e a fotografia de um mestre (Vilos Zsigmond), não são suficientes para se fazer um filme competente.
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