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Aramis

Um belo filme inglês e visões da África do Sul

Rio de Janeiro - Nos grandes festivais internacionais de cinema - Cannes, Veneza, Berlim e Moscou, na categoria A, como o FestRio, as mostras paralelas, com filmes não competitivos, trazem sempre obras tão - ou mais - atraentes do que os que estão em competição. Dentro desta abertura, Ney Sroulevich, desde a primeira edição do FestRio, há 5 anos, preocupou-se em que as mostras paralelas fossem as mais abrangentes. Apesar das limitações orçamentárias que obrigaram a redução de muitos eventos, as promoções paralelas foram das mais significativas. Além da ampla amostragem do novo cinema chinês - com filmes legendados e que, se espera, a embaixada da República Popular da China aproveita para levar a outras capitais, inclusive Curitiba -as mostras "Informativa e os melhores do mundo" trouxeram mais de uma dezena de filmes recentíssimos, os quais, infelizmente, dificilmente terão lançamento comercial no Brasil. "Distant voices... still lives" (Vozes distantes, vidas mortas), de Terence Daves - considerado o melhor filme na "quinzena dos realizadores", em Cannes, teve aqui apenas uma exibição no Stúdio Copacabana. Quem o viu (e foram, infelizmente, poucos), conheceu um filme belíssimo - uma crônica familiar ambientada em Liverpool, nos anos 50, de uma família que ama e sofre em torno de um pai brutal. Como "A família", do italiano Ettore Scola, este filme de Terence Daves se passa totalmente em interiores, mas tem uma fotografia tão criativa de William Daver, uma trilha sonora utilizando "Limelights" (especialmente jazz) e um roteiro tão preciso que mesmo sendo apresentado em versão original, sem legendas, pega o espectador pela emoção ao colocar personagens extremamente humanos - a velha mãe e suas duas filhas e um filho, descobrindo a vida, crescendo e sofrendo. O diretor Terence Daves, 43 anos, é desconhecido no Brasil. Aos 28 anos entrou para o Conventry Drama School, onde fez seu primeiro roteiro ("Children"). Depois filmou "Madonna and Child" e "Transfiguration", que com "Distance voices... still lives" forma uma trilogia que lhe rendeu prêmios nos festivais de Locarno (84), Oberhausen (84) e Cadiz (85). "África do Sul" - no ano passado, o produtor de "Cry Freedom / Um grito de liberdade", Richard Attenborough, impediu, a última hora, que aquela superprodução fosse exibida no FestRio. O filme, lançado este ano no Brasil, fracassou (aliás, como aconteceu no resto do mundo) e se tivesse sido mostrado no FestRio ganharia maior produção. Neste V FestRio, dois filmes, em versões originais, trouxeram a temática ligada aquele país: o appartheid: "A world apart", de Chris Menges e "Mapantsula", de Oliver Schmitz. Fótografo duplamente premiado com o Oscar ("Os gritos do silêncio" e "A missão"), Chris Menges estréia como diretor em "Um mundo à parte" denunciando os rituais de extrema crueldade política contra os negros sul africanos e seus aliados na luta anti-apartheid no início dos anos 60, quando o congresso nacional americano foi posto fora-da-lei e preso Nelson Mandela. Outra visão da questão é dada por um cineasta sul-americano, Oliver Schmitz, numa produção independente chamada "Mapantsula", no qual mostra o problema do negro sem maniqueísmos e fazendo mesmo críticas ao comportamento de algumas facções. Dois filmes interessantes - embora limitados a públicos e exibições especiais. "Um filme finlandês" Como a cópia de "Helsinki Napoli - All night long", primeiro filme finlandês a chegar ao Brasil, num festival, só foi liberado na sexta-feira, este filme que estava sendo dos mais aguardados acabou sendo programado para a última sessão do FestRio no cine Roxy, no sábado, às 23 horas, após a solenidade de entrega dos prêmios (este ano, realizada ao ar livre, no alto do Forte do Copacabana). Substitui a "U2 Rattle and hum", de Phil Joanou, documentário da excursão do grupo U2 através dos Estados Unidos, em 1987, para lançamento do álbum "Joshua Tree" (Warner, 13 milhões de cópias vendidas em todo o mundo). A WEA está lançando agora no Brasil a trilha de "U2 Rattle and hum" e se o filme tivesse chegado a tempo a sessão estaria lotadíssima. Mika Kaurismaki, 33 anos, finlandês, encontra-se no Brasil preparando um co-produção a ser rodada na Amazônia - e já fez muitos amigos, inclusive o cinesta Octávio Bezerra, diretor do premiado (no FestRio-87) "Memória Viva" e que atualmente monta o seu novo documentário "Uma avenida chamada Brasil". Simpático e ligadíssimo a um grupo especial de cineastas, Kaurismaki teve neste "Helsinque-Napoles: Toda Noite " a participação especial dos diretores Wim Wenders, Jim Marmusch e Samuel Fuller e atores como Nino Manfredi e Elsa Constantine. Misto de policial e comédia, "Helsinque-Napoles" teria se tornado o "cult-movie" do V FestRio se fosse exibido antes, mas não se supreendam se for muito citado pela imprensa nacional nestes dias.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
01/12/1988

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